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sábado, 21 de fevereiro de 2015

QUADRILOGIA DOS MORTOS-VIVOS CEGOS (1972/1973/1974/1975)



NOITE DO TERROR CEGO (1972)

La Noche Del Terror Ciego / Tombs of the Blind Dead

1972 / Espanha, Portugal / 101 min / Direção: Amando de Ossorio / Roteiro: Amando de Ossorio / Produção: José Antonio Pérez Giner, Salvadore Romero (Produtores Executivos) / Elenco: César Burner, Lone Fleming, María Elena Arpón


Vindo de uma Espanha que começava a ver ruir o regime do ditador Franco, devido a complicações de saúde e o clamor público pela liberalização, surge o diretor Amando de Ossorio com seu clássico filme dos templários mortos-vivos A Noite do Terror Cego, pegando os conceitos que George Romero nos apresentou em A Noite dos Mortos-Vivos, e subvertendo-os em sexo, violência e gore.

Filmado em Portugal para escapar da censura do regime espanhol, Ossorio nos traz uma história de zumbis nem um pouco usual, baseada nos contos do escritor espanhol Adolfo Bécuqer. Aqui, os mortos-vivos são encarnados na figura de Cavaleiros Templários, que voltaram das Cruzadas renegando o cristianismo e praticantes do ocultismo, obcecados pela ideia de conseguir a vida eterna. Para isso, eles executavam rituais de sangue e canibalismo envolvendo mulheres virgens. O resultado foi que eles foram excomungados pela Igreja, capturados e enforcados e colocados pendurados coletivamente para os corvos comerem seus olhos. Mas seus rituais os condenaram por toda a eternidade a voltar a vida vagando (ou cavalgando) como zumbis cegos.

A história começa com Virginia reencontrando uma velha amiga, Betty, com quem teve uma caso lésbico nos tempos de escola. As duas e Roger, o galanteador amigo de Virginia, partem para acampar no dia seguinte, só que o rapaz começa a dar em cima de Betty, com ela retribuindo, o que gera um ataque de ciúmes em Virginia, que desce do trem no meio do nada e vai parar nas ruínas da cidade medieval de Berzano, lar dos Templários.

Daí é aquela maravilha que os filmes de terror sempre nos mostram: a garota sozinha resolve acampar numa boa no lugar, que já é sinistro por si só, com direito a acender uma fogueira, fumar um cigarrinho, ouvir música, ler um livro e trocar de roupa (claro!!!) e acaba acordando os mortos cegos de seu sono secular, que logo a perseguem e transformam-na em um zumbi também. Betty e Roger começam a investigar o desaparecimento da moça e logo se deparam com a história dos cavaleiros templários amaldiçoados e recorrem a ajuda do contrabandista Pedro e sua namorada Nina, para tentar dar fim ao mistério envolvendo os zumbis.

Com um orçamento baixíssimo, os mortos cegos impressionam bastante, com sua aparência esquelética, vestimentas maltrapilhas e rostos sem olhos, enquanto cavalgam pelos campos abertos como arautos da morte, acompanhados por uma trilha sonora macabra, com o rufar sequencial de tambores e uma espécie de canto gregoriano sinistro. 

E diferente do que Romero propunha com sua crítica social em A Noite dos Mortos Vivos, Ossorio não quer nem saber de passar nenhuma lição de moral e dá-lhe canibalismo, com os zumbis templários bebendo sangue de suas vítimas e muita mulher pelada com os seios de fora, plantando a semente do que seria o cinema gore dali para frente, principalmente tratando-se de produções europeias, deixando bem claro que nós não passamos de sacos de carne e sangue e que a beleza feminina e os corpos jovens, são meros convites para serem destruídos, devorados e deturpados. E os mortos cegos de Ossorio fizeram tanto sucesso que viraram uma quadrilogia depois com os filmes O Retorno dos Mortos-Vivos, O Galeão Fantasma e A Noite das Gaivotas.

Um detalhe pessoal é que, obviamente, A Noite do Terror Cego nunca foi lançado no Brasil comercialmente. Assisti somente graças às maravilhas da Internet. A trilha sonora me impressiona até hoje. O filme a seguir, assisti na minha infância e foi um dos filmes que mais me marcaram.
Claro que naquela época, os filmes dos trapalhões tinham a mesma importância, mas hoje estes zombies são cult, e isto me permitiu revisitá-los.

RETORNO DOS MORTOS VIVOS (1973)

El ataque de los muertos sin ojos / Return of the Evil Dead

1973 / Espanha / 91 min / Direção: Amando de Ossorio / Roteiro: Amando de Ossorio / Produção: Ramón Plana / Elenco: Tony Kendall, Fernando Sancho, Esperanza Roy, Frank Braña, José Canalejas, Loreta Tovar


Eis que os cavaleiros templários zumbis cegos de Amando de Ossorio estão de volta em O Retorno dos Mortos-Vivos, segunda parte da quadrilogia do diretor espanhol, que teve início em A Noite do Terror Cego, lançado no ano anterior.

Depois do sucesso do primeiro filme, Ossorio resolveu retomar a premissa básica dos amaldiçoados mortos cegos, criando uma nova história sem nenhuma ligação com a trama interior, muito menos prestando a ser uma continuação direta (já que o pessimista término de A Noite do Terror Cego em aberto sugeria um ataque dos cadáveres templários a uma cidade, dando início a mais uma hecatombe zumbi cinematográfica).

Mais uma vez inspirado por A Noite dos Mortos-Vivos de George Romero (o título no Brasil em VHS provavelmente levou seu nome para pegar carona no clássico), mas dessa vez com elementos muito mais óbvios que o anterior, encurralando um grupo de pessoas em uma antiga igreja, cercados pelos zumbis do lado de fora.

E logo no começo do filme já sabemos o que esperar do restante da produção, mostrando o vilarejo de Boutsana, no interior de Portugal (onde todos falam espanhol e não português, detalhe) durante as cruzadas, onde um grupo de cavaleiros templários satânicos acusados de praticar magia negra e canibalismo, são condenados à fogueira pelos locais e tem seus olhos queimados por tochas para que seus espíritos não possam encontrar o caminho de volta e executar a vingança prometida em seu leito de morte. Passam-se 500 anos e a cidadezinha está nas vésperas de comemorar o a Festa de La Queima, celebrando a vitória dos antepassados contra os terríveis templários, onde simulam a execução dos mesmos usando bonecos de pano, ao melhor estilo: “malhar o Judas”.

O prefeito do local, Duncan (Fernando Sancho) e seu capanga Howard (Frank Braña) contratam um técnico em pirotecnia americano para fazer um show de fogos de artifício, Jack Marlow (Tony Kendall), indicado pela esposa do prefeito, Vivian (Esperanza Roy). Mal eles sabem que na verdade, Vivian e Jack já tiveram um tórrido romance no passado, e essa foi a chance da garota rever o antigo amor e aproveitar e fugir com ele daquele pedaço de fim de mundo. Mas antes de tudo isso acontecer, obviamente terá um alertando que naquela noite os mortos-vivos sairiam de suas tumbas e executariam a sua vingança secular, mas obviamente, ninguém dá bola para o sujeito (que sempre tem razão nos filmes de terror, aprenda).

Além disso, a dicotomia das políticas sociais e públicas espanholas está escancarada como uma sátira crítica velada aos últimos anos do regime Franco, na figura do Governador, que está se lixando para os problemas do “povo”, entende tudo errado as mensagens que estão sendo transmitidas sobre as festividades e o cerco na igreja, e que está mais preocupado em olhar e fornicar com a empregada gostosona. É simplesmente hilário. E ah, falando em fornicar, obviamente haverá altas doses de erotismo e nudez feminina no decorrer da história, principalmente por se saber que os templários são chegados em sangue de virgens e seios voluptuosos, elementos importantes para seus rituais. Já para os fãs do gore, não deixa nada a desejar, com pessoas sendo decepadas, decapitadas, mutiladas, corações sendo arrancados para servirem de snack e por aí vai.

O Retorno dos Mortos-Vivos é indispensável para os fãs de  trash, assim como toda a quadrilogia dos mortos cegos em si, todas dirigidas por Amando de Ossorio, que lançaria nos próximos anos O Galeão Fantasma e A Noite das Gaivotas. Excelentes exemplares do cinema fantástico espanhol, assim como do cinema splatter europeu dos anos 70.

GALEÃO FANTASMA (1974)

El buque maldito / The Ghost Galleon

1974 / Espanha / 89 min / Direção: Amando de Ossorio / Roteiro: Amando de Ossorio / Produção: José Luis Bermúdes de Castro Acaso / Elenco: Maria Perschy, Jack Taylor, Bárbara Rey, Carlos Lemos, Manuel de Bias, Bianca Estrada

Depois do sucesso dos dois longas anteriores, A Noite do Terror Cego e O Retorno dos Mortos-Vivos, Ossorio apronta mais uma das suas com seus maltrapilhos e esqueléticos cavaleiros templários cegos zumbis, pertencentes a uma antiga e profana ordem adoradora de Satanás, excomungada pela Igreja Católica por praticar sacrifícios humanos. Em O Galeão Fantasma, o ambiente tradicional dos vilarejos ibéricos é substituído, como o próprio nome já diz, por um galeão holandês fantasma do Século XVI, navegando nos mares envolto em uma mística penumbra, nunca captado por nenhum radar e instrumento de navegação, que atrai pequenos barcos para essa dimensão fantasmagórica, desaparecendo para sempre, a fim de alimentar os mortos cegos sedentos por sangue e carne humana.

A trama se inicia quando um empresário do setor náutico, Howard Tucker (Jack Taylor) resolve fazer publicidade de uma de suas novas lanchas, e manda duas modelos para o meio do mar, para eventualmente serem resgatadas e ganhar mídia espontânea com a resistência do barco. Acontece que eles perdem o contato com as garotas quando elas avistam o tal galeão fantasma e resolvem entrar a bordo, e daí com medo de se meter em um escândalo e atrapalhar suas aspirações políticas, Howard, junto de seu capanga Sergio (Manuel de Blas), Noemi (Bárbara Rey), amiga de uma das modelos à deriva, a fotógrafa e agente Lilian (Maria Perschy) e do Professor Grüber (Carlos Lemos), estudioso naval, pegam outro barco e vão resgatar as moças perdidas.

Ao chegarem lá, encontram o gigantesco e carcomido galeão holandês e subirão a bordo para ver se descobrem seus paradeiros. Obviamente, elas não estão mais lá. Por meio do diário de bordo encontrado por Grüber eles conhecem a origem do galeão e saberão que no porão do navio há um tesouro escondido, assim como as tumbas dos cavaleiros templários cegos, que acordam todas as noites em busca de sangue. Claramente não dá outra e  começarão a ser perseguidos naquele ambiente sujo, claustrofóbico e aterrador, pelos esqueletos usando seus trajes esfarrapados.

A mensagem que Amando de Ossorio quer passar é muito clara, mesmo que menos politizada que em seus filmes anteriores. É mostrar o espetáculo da carne humana, na verdade da carne feminina, que já surge em abundância logo em sua abertura, onde modelos com trajes mínimos estão em uma sessão de fotos. E nisso colocar os monstros humanos, muito piores que os monstros cadáveres, em uma situação limite, que irá trazer o lado mais sombrio da natureza, e gerando impulsos sombrios como assassinato, traição e estupro (sempre há um estupro na quadrilogia de Ossorio, parece até uma regra irrefutável).

Outro detalhe interessantíssimo é a percepção de uma diferença básica, que fica ainda mais implícita em O Galeão Fantasma, por ser um ambiente confinado, entre os mortos cegos e os demais zumbis, desde os criados pro George Romero em A Noite dos Mortos-Vivos, até os encontrados hoje nos seriados de televisão: enquanto o zumbi tradicional é um monstro oral, os zumbis de Ossorio são táteis, até por conta de sua cegueira. Comer a carne humana não é o ato máximo para aqueles sacos de ossos usando uma roupa de estopa. Tatear a garota, arrancar seu biquíni e arrastá-la para seu covil, onde há uma espécie de “estupro ou linchamento carnal coletivo”, é o tesão desses outrora blasfemos cavaleiros templários, sempre acompanhados pelo macabro canto gregoriano característico das outras fitas.

Além disto, a pessimista e tétrica cena final de O Galeão Fantasma vale por todo o filme. Afinal, zumbis levantando do mar e andando em direção a costa não é algo que vemos todos os dias. 


NOITE DAS GAIVOTAS (1975)

La noche de las gaviotas / Night of the Seagulls

1975 / Espanha / 89 min / Direção: Amando de Ossorio / Roteiro: Amando de Ossorio / Produção: José Antonio Pérez Giner, Modesto Pérez Redondo, José Ángel Santos (Produtor Executivo) / Elenco: Victor Petit, María Kosty, Sandra Mozarowsky, José Antonio Calvo, Julia Saly

A Noite das Gaivotas é o quarto e último filme da série dos cavaleiros templários zumbis cegos do espanhol Amando de Ossorio, que se iniciou em 1972 com A Noite do Terror Cego, e seguiu com O Retorno dos Mortos-Vivos e O Galeão Fantasma.

E a quadrilogia se encerra com chave de ouro, diga-se de passagem. E uma coisa que sempre salta aos olhos é que, apesar da precariedade, o baixo orçamento, e todos os filmes envolverem os mortos cegos, Ossorio em seus roteiros sempre consegue um jeitinho de trazê-los de volta em uma nova história, com novos elementos, porém sem ligação nenhuma com as anteriores, fazendo com que você possa assistir aos quatro filmes independentes, sem nenhuma amarra cronológica.

Esse é o caso de A Noite das Gaivotas, onde um enredo completamente novo (climático e apavorante, por sinal) traz os cavaleiros hereges desta vez envolvidos com uma terrível criatura demoníaca subaquática, para quem eles fazem sacrifícios de sangue. Há todo um clima extremamente característico de uma história de H.P. Lovecraft aqui: uma comunidade insalubre que vive em uma cidade decadente nas encostas do oceano, comparsas dos mortos cegos que adoram essa divindade e oferecem belas jovens a elas, e um médico e sua esposa alocados ali que logo percebem que alguma coisa muito errada acontece com aquela vizinhança. Poderia muito bem ser um crossover entre A Sombra de Insmouth ou Dagon, com os zumbis de Ossorio.

De tempos em tempos, durante sete noites, os incautos moradores daquela cidadezinha miserável são obrigados a oferecer suas belas filhas para que os monstros blasfemos que voltam à vida arranquem seus corações e deem para uma inominável figura de pedra entalhada na forma de um demônio anfíbio. E depois são devoradas pelos mortos-vivos canibais e seus restos mortais deixados para os caranguejos gigantes fazerem uma boquinha. Caso essas jovens não sejam oferecidas ao sacrifício, os cavaleiros matarão todos da cidade, então eles nem pensam duas vezes em condenar as próprias filhas. 
E exatamente durante estas sete fatídicas noites que um médico forasteiro, o Dr. Henry Stein muda-se para a cidade com sua esposa, Joan, para substituir o atual, que não vê a hora de sair correndo daquela maldita rocha antes que a noite dos sacrifícios, com suas procissões sinistras, cantos gregorianos macabros, sinos e grasnar das gaivotas, comece novamente. Como regra padrão deste tipo de filme, os moradores irão tratar o casal super mal e com desconfiança, deixando bem claro que eles não são bem vindos ali, recusando-se até a vender mantimentos na única mercearia do vilarejo.
O casal ainda acolhe o vagabundo Teddy, que tem problemas mentais e é atacado pelos outros moradores, e Lucy, a quem eles contratam como ajudante na casa. Mas logo vai chegar a vez da moça, e é quando os dois tomarão conhecimento dos horríveis rituais praticados naquela ilha, mesmo já desconfiando que algo está muito errado desde a primeira noite, e irão encarar os maltrapilhos mortos-vivos que cavalgam pelas praias com seus cavalos mortos brandindo suas espadas.

Assim como o longa anterior, O Galeão Fantasma, A Noite das Gaivotas não se preocupa em trazer nenhuma explicação de como aquela leva de cavaleiros se tornou zumbis cegos, mas obviamente, se consegue ter uma ideia que sua ordem fora desbaratada com seus membros mortos como aconteceu nos dois primeiros filmes da série. E como de costume, apesar da pobreza, o visual dos cadáveres esqueléticos esfarrapados é bem bacana, assim como a trilha sonora fúnebre. E ponto para Ossorio que não quis inventar demais e fazer cenas mirabolantes que exigiriam o mínimo de recursos para efeitos especiais e correriam o risco de ficarem vexatórias (como aconteceu em O Galeão Fantasma, por exemplo, com o barquinho de plástico afundando em uma banheira ou as caixas de fósforo no fundo do aquário simulando caixões jogados ao mar). Apostou no simples, no clima soturno, nas doses de sangue e nos peitinhos de fora, claro.

Diferente de seus antecessores, A Noite das Gaivotas é centrado em uma atmosfera de horror mais sufocante e genuína, só que como sempre, acaba se perdendo na própria falta de grana para um trabalho mais satisfatório. Não obstante, o cenário desolador é magistralmente captado pelas lentes de Ossorio, assim como o roteiro é dos mais bacanas, sendo que com toda certeza, este exemplar é um dos melhores e mais bem feitos da série.

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