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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

MUNDO ESTRANHO - FAROESTES BIZARROS


Antes de Cowboys vs aliens, a coisa já pegava no universo cinematográfico. Vamos ao estranho mundo do velho oeste

JESSE JAMES CONTRA A FILHA DE FRANKENSTEIN

O diretor William 'One Shot' Beaudine filmou de tudo na vida nos 400 filmes nos quais assinou a direção de películas. De Charlie Chan aos Anjos de Cara Suja passando por muitos faroestes 'B'. Reluz em sua filmografia "Bela Lugosi Encontra o Gorila do Brooklyn" que nem o próprio Ed Wood Jr. teria coragem de dirigir. Para se superar e encerrar a carreira iniciada em 1915, Beaudine presenteou o gênero western com essas duas bizarrices. Produzido com inacreditável economia e com interpretações as piores possíveis, "Jesse James Contra a Filha de Frankenstein" não pode ser levado a sério mas provoca muita risada se o espectador estiver de bom humor.
Assim como em "Billy the Kid" havia no elenco os nomes respeitáveis de John Carradine, Harry Carey Jr. e Olive Carey, neste "Jesse James" estão atores que tiveram melhores momentos no cinema. É o caso de John Lupton ("A Fera do Forte Bravo"), Jim Davis ("A Última Barricada" e "Eldorado") e Estelita Rodriguez. Depois de tantos e alegres filmes com Roy Rogers e de sua participação em "Onde Começa o Inferno", a atriz cubana se despediu do cinema com este filme de William Beaudine. Até hoje a causa da morte de Estelita Rodriguez, em 1966, não foi esclarecida e certamente não deve ser creditada a ela ter se visto na tela como Juanita Lopez, a namorada de Jesse James...

TRIO RANGE BUSTERS VS. NAZISTAS EM "COWBOY COMMANDOS"

Quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial houve um esforço conjunto da nação para enfrentar o Eixo. Cada setor colaborava como podia e o cinema não ficou de fora, produzindo na década de 40 um número recorde dos chamados filmes de guerra. O próprio John Wayne, em tempos de guerra, praticamente deixou seu cavalo no estábulo, pendurou chapéu e cinturão e só fazia filmes de guerra. Até os westerns B deram um jeitinho de disparar alguns tirinhos contra aqueles chamados inimigos da democracia.

Por mais bizarro que possa parecer, no filme “Cowboy Commandos”, rodado e lançado em 1943, o trio The Ranger Busters se defronta contra espiões nazistas. Os espiões têm a missão de sabotar a produção de magnésio de uma mina norte-americana, pois o minério é de fundamental importância para a produção de armamentos. O que os nazistas não contavam é que tivessem que enfrentar Ray Crash Corrigan, Dennis Moore e Max Terhune (The Range Busters), cowboys com muita experiência nas aventuras do Velho Oeste, onde nunca faltou uma boa mina de ouro ou prata. Mudou o minério, mudaram os inimigos mas a coragem e valentia dos três mocinhos continuou a mesma. Difícil mesmo deve ter sido conter o riso ao ver na tela os rostos bastante conhecidos dos notórios bandidos John Merton, Frank Ellis George Chesebro, Bud Osborne e Bud Buster alguns deles sendo chamados de ‘Hans’ e ‘Werner’ e tramando sob um grande retrato de Adolfo Hitler.
Além do trio The Range Busters, em sua derradeira formação, com Ray Crash Corrigan, Dennis Moore e Max Terhune e dos bandidos já citados, está no elenco a mocinha-stunt woman Evelyn Finley e, escondido atrás de seu imenso bigode aparece também Hank Bell. A tarefa de ‘atualizar’ a aventura em “Cowboy Commandos” coube ao diretor S. Roy Luby. Impondo um ritmo incessante, Luby ainda conseguiu encaixar música e mostrar um pequeno show de Evelyn Finley montando um cavalo. O destaque deste war-western é o cantor Johnny Bond que interpreta um sheriff e também a hilariante canção “I’m Gonna get der Fürher, Sure as Shootin”, qualquer coisa como “eu vou encher o Chucruts de balas” (veja a letra em Inglês abaixo). Certamente foi ouvindo esta canção que Mel Brooks teve a inspiração para escrever a irresistível comédia “Primavera para Hitler”.

"I'm Gonna Get der Führer, Sure as Shootin'"
I'm gonna get der Führer, sure as shootin',
With my rootin' tootin' .45, I swear.
We'd get our man without much tally hootin'.
          So old pickle puss, I'm warning you, beware.
          With a noose around his head,
          And his body full of lead,
          I'll deliver him as dead as dead can be.
I'm gonna get der Führer, sure as shootin',
And that ought to make a hero out of me.
I'm gonna get der Führer, sure as shootin'.
When we cowpokes go out huntin' we don't stop.
I'll send his band of bandits all a scootin',
And make a clean up of the filthy lot.
          My lariat I'll twine
          Around that silly swine,
          And I'll spank the Nazi Heinie*, wait and see.
          I'm gonna get der Führer, sure as shootin',
          And that ought to make a hero out of me.
* Chutar o traseiro dos nazistas
“Cowboys Commandos” não foi a única aventura em que o trio The Range Busters enfrentou o Eixo. Isto aconteceu também em “Texas to Bataan” (1942) e em “Black Market Rullers" (1943). E um trio de mocinhos concorrente, The Three Mesquiteers (Bob Steele, Tom Tyler e Rufe Davis) já havia enfrentado nazistas nos westerns “Abutres das Planícies” (The Phantom Plainsmen) e em “O Vale dos Perseguidos” (Valley of Hunted Men), ambos de 1942, completando a bizarra ajuda dos mocinhos dos westerns-B para a vitória no conflito mundial.

 "WESTWORLD"

O pistoleiro não é humano, mas sim um robô. Parece-se com ‘Chris Adams’ o famoso personagem de Yul Brynner em “Sete Homens e Um destino”. O pistoleiro chama-se ‘Gunslinger’ e vive na cidade temática do Velho Oeste do gigantesco parque de diversões chamado Westworld. Paga-se um fortuna para entrar em Westworld, mas a diversão é garantida e pode-se desafiar ‘Gunslinger’ e sentir a sensação de ser mais rápido que um pistoleiro. ‘Gunslinger’ é programado para perder e satisfazer o público. Porém, quando ocorre uma falha na programação do robô este se torna uma espécie de andróide com vontade própria e passa a matar aqueles que o desafiaram. Nada mais bizarro que um western de ficção-científica, não é mesmo? Só que neste caso o bizarro deu lugar a uma pequena e influente obra-prima da sci-fi chamada “Westworld – Onde Ninguém tem Alma” (Westworld).
O autor Michael Crichton já era famoso por seus livros “O Enigma de Andrômeda” e “O Homem Terminal”, ambos levados ao cinema. Foi então que decidiu dirigir um filme e escreveu “Westworld – Onde Ninguém tem Alma”, primeiro dos sete filmes que dirigiu, entre eles “Coma”, com Michael Douglas e Richard Widmark. Um dos autores mais lidos do mundo, o cinema tornou Michael Crichton milionário com a filmagem de seus livros “Jurassic Park – O Parque dos Dinossauros” (que teve duas continuações), “Sol Nascente”, “Assédio Sexual” (Michael Douglas e Demi Moore), “Congo”, “Twister”, “O Enigma de Andrômeda” e outros. Filmado em 1973, “Westworld” deu novo impulso ao gênero ficção-científica que logo depois assistiria “Blade Runner, o Caçador de Andróides”. O filme de Ridley Scott lembrava vagamente “Westworld” de Michael Crichton, especialmente pelo vilão andróide interpretado por Rutger Hauer. Em 1984 James Cameron filmou seu primeiro “Exterminador do Futuro”, seguidos de duas continuações claramente inspiradas no pequeno western-sci-fi de Michael Crichton. As longas caminhadas do ‘Terminator’ (Arnold Schwarzenegger) e seus encontros com os andróides são quase cópias de ‘Gunslinger’ em “Westworld”, bem como a tentativa de destruição do robô interpretado por Yul Brynner, também imitada. “Westworld” é um marco do cinema também por ter sido a primeira vez que foram usados efeitos de computação gráfica em um filme.


Médico de formação, com 2,06 de altura, Michael Crichton escreveu e dirigiu para a TV a série de grande sucesso “Plantão Médico”, tendo feito, portanto, muito sucesso como escritor, na TV e no cinema. Com “Westworld” Michael Crichton criou o gênero western-techno-thriller que rendeu pelo menos este barroco, divertido, emocionante e diferente faroeste. No elenco, além de Yul Brynner estão Richard Benjamin e James Brolin. Este último é pai de Josh Brolin, ator que os fãs de western viram recentemente em “Jonah Hex” e em “Bravura Indômita”. Yul Brynner, que aparentemente nada tinha de cowboy, criou para o cinema um tipo marcante em “Sete Homens e Um Destino”, tipo esse que ele repetiu outras vezes em outros faroestes. Yul Brynner usou pela última vez suas roupas pretas e sua impassível frieza em “Westworld – Onde Ninguém tem Alma”, só que desta vez acrescentou à sua criação o olhar mais aterrador que o western já viu. ‘Chris Adams’ afinal virou um pistoleiro-andróide. 

"AS AVENTURAS DE DON COYOTE"
 
Richard Martin ou Chito José Gonzalez Bustamante Rafferty foi o sidekick mais boa pinta dos B-Westerns. As mocinhas se apaixonavam por ele e não pelo mocinho que era Tim Holt. E Richard Martin, com o mesmo nome de Chito Rafferty havia sido sidekick de Robert Mitchum antes de se encontrar com Tim Holt. E sabem de onde Richard Martin tirou o nome Chito Rafferty? De um personagem que interpretou no filme de guerra “Bombardeio”, de 1943, estrelado por Randolph Scott. Mas antes de se tornar o companheiro de Tim Holt nos westerns da RKO, Richard Martin tentou a sorte como mocinho nos Bs em um filme de 1947 chamado “As Aventuras de Don Coyote”. Ele era o Don Coyote e claro que tinha seu Sancho, um mexicano gordinho que gostava de cantar, interpretado pelo desconhecido Val Carlo. “As Aventuras de Don Coyote” foi dirigido por Reginald Le Borg e a história era a mesma vista em pelo menos mil outros westerns: bandidos roubam o gado da mocinha Maggie (Frances Rafferty que não tinha nehum parentesco com Chito) para forçá-la a vender suas terras que seriam vendidas mais tarde supervalorizadas pois a estrada de ferro passará justamente por essas terras. O bandidão do filme chama-se Ferguson Pezudo (Big Foot Ferguson). Depois de algumas trapalhadas de Sancho, que tinha uma bela pança, Don Coyote consegue prender Pezudo (Frank Fenton) e seu bando. Para isso é ajudado pelo irmão de Maggie, pelo xerife e seus ajudantes. Onde foi parar Sancho? Foi esquecido na história pois desapareceu sem deixar vestígio. Don Coyote ficou sem seu sidekick Sancho, que não só desapareceu do filme, mas também do cinema pois nunca mais Val Carlo foi visto nas telas para sorte dos espectadores. “As Aventuras de Don Coyote” foi um fracasso de bilheteria e Chito José Gonzalez Bustamante Rafferty tornou-se então sidekick de Tim Holt em 29 westerns bem melhores. E como diria Jack Palance, acreditem se quiser: quem produziu “As Aventuras de Don Coyote” foi o casal Mary Pickford e Charles Buddy Rogers. O genial escritor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra deve ter se revirado em seu túmulo depois dessa brincadeira com seu imortal personagem.

ROY ORBISON E A GUITARRA MAIS RÁPIDA DO OESTE

A banda U2 está (mais uma vez...) no Brasil. Cada vez que vejo Bono Vox, o líder da banda, lembro de Roy Orbison. Primeiro porque Bono sempre usou óculos escuros, a la Roy Orbison. Depois porque certa ocasião, referindo-se a Roy Orbison, o cantor Bono disse, em forma de reverência, que “se Deus tivesse uma voz, essa voz seria a voz de Roy Orbison”. De fato, Roy Orbison foi um extraordinário cantor e não sem razão admirado por Bob Dylan, os quatro Beatles, Bruce Springsteen, Bee Gees, o próprio Bono e uma legião de outros artistas.
Roy Orbison fez enorme sucesso como cantor no final dos anos 50 e na década de 60, o que inevitavelmente o levou ao cinema. É uma antiga prática de Hollywood aproveitar o sucesso de cantores para faturar com produções cinematográficas e Orbison não escapou do oportunismo de Sam Katzman, um dos mais prolixos produtores norte-americanos. Katzman merece um livro falando só dele e da incrível variedade de suas produções. A idéia de Sam Katzman era produzir um western em que o herói usava sua guitarra não só para cantar, mas também para disparar contra seus inimigos, como se fosse uma Winchester. E Katzman queria nada menos que Elvis Presley como ‘Johnny Banner’, o guitarrista-atirador. Elvis que era profundo conhecedor de roteiros insípidos recusou a proposta, ou melhor, O Colonel Tom Parker recusou... Katzman então ofereceu o papel a Roy Orbison que com o western “The Fastest Gun Alive” (A Guitarra Mais Rápida do Oeste), fez sua estréia no cinema. Estréia e despedida pois o filme era tão ruim e Roy teve desempenho tão medíocre que desistiu prontamente da carreira de ator.
A história gira em torno dois espiões confederados (Roy Orbison e Sammy Jackson) disfarçados de cantor-guitarrista e vendedor de elixir mágico. A dupla consegue roubar um carregamento de ouro dos yankees, surpreendendo-os com o violão que dispara mortalmente. Quando tudo parece dar certo, o final da guerra arruina o plano de levar o ouro para um general sulista. Os nomes mais conhecidos do elenco são os de Lyle Bettger, John Doucette, Ben Cooper, Douglas Kennedy e Iron-Eyes Cody. Joan Freeman é a heroína do filme, mas nem ela nem os demais coadjuvantes, todos com respeitável passado nos westerns, conseguiram salvar o filme que foi massacrado pela crítica

Essa curiosa história levada às telas por Sam Katzman e dirigida por Michael D. Moore (não confundir com o polêmico documentarista de “Capitalismo: Uma História de Amor”) tem pelo menos o mérito de dar oportunidade ao espectador de ver e ouvir inúmera canções, todas de autoria de Roy Orbison e por ele interpretadas. Nenhuma delas se tornou clássica como os incontáveis e imortais sucessos do soberbo cantor. E a passagem de Roy Orbison pelo cinema será sempre lembrada por ter ele atuado em um dos mais bizarros westerns de todos os tempos.

 "BILLY THE KID VERSUS DRACULA"

William Bonney, mais conhecido por Billy the Kid, já enfrentou no cinema norte-americano muitos mocinhos, bandidos e sheriffs. Enfrentou até mesmo o Conde Drácula no bizarro “Billy the Kid versus Dracula” num western dirigido por William ‘One Shot’ Beaudine. Beaudine tinha esse apelido (tomada única) porque jamais repetia uma cena filmada e era mais rápido que o próprio Billy the Kid. Este filme, por exemplo, foi rodado em apenas oito dias e era uma produção tão barata que o autor do script (Jack Lewis) cobrou apenas 250 dólares pelo roteiro pronto. Inteiramente filmado em Corriganville (Rancho de Ray Corrigan) o elenco contou com atores bastante conhecidos, como John Carradine interpretando o vampiro sem nome, Harry Carey Jr., sua mãe Olive Carey e até mesmo Roy Barcroft, desta vez como sheriff. Billy the Kid foi interpretado por Chuck Courtney, ator que nunca teve maiores oportunidades no cinema. A produção foi tão econômica que não foi usado o nome de 'Dracula' nos diálogos porque não havia dinheiro para pagar os direitos de uso desse nome, direitos pertencentes à Universal Pictures. Assista a um pequeno e emocionante trecho de “Billy the Kid versus Dracula” e você concluirá certamente que esse filme está entre os westerns mais bizarros. Depois ainda dizem que os italianos é que avacalharam com o faroeste...

 "O TERROR DE TINY TOWN"

Sam Newfield foi um prolixo diretor e não tinha nenhum preconceito, desenvolvendo qualquer tipo de projeto que lhe caísse nas mãos. Dirigiu o primeiro western totalmente com negros (“Harlem in the Prairie) e em 1938 surpreendeu o mundo do cinema com uma ousadia ainda maior quando apresentou “O Terror de Tiny Town” (The Terror of Tiny Town) com um elenco todo composto por ‘midgets’ (anões).
Esse filme marcou a estréia de Billy Curtis, cujo nome verdadeiro era Luigi Curto. Billy Curtis ficou muito conhecido interpretando Mordecai, o anão que acompanhou Clint Eastwood em “O Estranho Sem Nome” (High Plains Drifter). Billy Curtis tinha 1,27 de altura e foi ‘The Hero’ no estranho “O Terror de Tiny Town”, filme que foi distribuído pela Columbia Pictures. Depois de alguns minutos de filme o espectador deixa de achar graça e passa a se interessar por uma história cujo enredo em nada difere dos B-Westerns que acostumamos a ver. Geralmente massacrado pelos críticos que, exageradamente, o consideram um dos piores filmes de todos os tempos, “O Terror de Tiny Town” não é o pior dos westerns, mas certamente é um dos mais bizarros que já chegaram às telas.





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