FICHA TÉCNICA
Gênero: Comédia
Direção: Ron Underwood
Roteiro: Neil Cuthbert
Elenco: Brian D. Wright, Eddie Murphy, Illeana Douglas, James Rebhorn, Jay Mohr, Joe Pantoliano, Pam Grier, Peter Boyle, Randy Quaid, Rosario Dawson, Victor Varnado
Produção: Louis A. Stroller, Martin Bregman, Michael S. Bregman
Fotografia: Oliver Wood
Trilha Sonora: John Powell
Ano: 2002
SINOPSE
Lua, 2087. Pluto Nash (Eddie Murphy) é dono de um nightclub. Só que a máfia quer comprar o estabelecimento, tática que faz parte de um plano de Rex Crater para dominar o satélite. Nash se recusa a vender e começam os problemas. Ao seu lado, tentando resistir ao poder da máfia, estão Dina Lake (Rosario Dawson), uma bela terráquea que veio para Lua tentar a carreira de cantora, e Bruno (Randy Quaid), um robô de tecnologia ultrapassada que serve de guarda-costas para Nash.
DEU RUIM
Custo da produção: 100 milhões de dolares
Rendeu 4 milhões nos EUA...e 2 !!!! milhões no resto do mundo.
Arregaçou a carreira do diretor , que dirigiu um dos maiores cult movies dos anos 90: Ataque dos vermes malditos, e dirigiu o ótimo Poderoso Joe. De 2002 para cá, nada mais ele dirigiu.
ANÁLISE
Dentro do star system hollywoodiano, versão início do século XXI, é interessante observar que há apenas uns dois ou três atores cuja simples presença no elenco costumam fazer de seus filmes enormes sucessos. O principal deles na última década tem sido, disparado, Tom Hanks. Um outro seria Tom Cruise (embora este com a ressalva ao De Olhos Bem Fechados). Entre outros, como Harrison Ford, Brad Pitt, Leonardo DiCaprio, há eventuais irregularidades. De outro lado, temos os casos daqueles que caíram em desgraça e nada há que possa fazê-los voltar, aparentemente, como Kevin Costner, Sylvester Stallone e mesmo Schwarzenegger (embora o Exterminador do Futuro -Genesis este ano posso mudar isso). É verdade que os Mercenários 1 e 2 foi bem, mas o terceiro comprometeu a franquia.
Mas toda essa enrolação inicial digna de uma revista de fofocas se explica, porque temos aqui neste filme o maior enigma do cinemão americano: Eddie Murphy. No fim dos anos 80, pós-Tira da Pesada, 48 Horas e Trocando as Bolas, Murphy era o maior dos sucessos garantidos de bilheteria. Depois, caiu em enorme de popularidade e realizações. Mas o que parece excepcionalmente interessante sobre sua carreira é que ela tem mais mortes e reencarnações do que qualquer outra no recente cinema americano - nem John Travolta pode se dar ao luxo de ir e vir com tanta regularidade. O que nos interessa neste filme, portanto, é saber que ele foi o tipo de fracasso que acaba com a carreira de todos os envolvidos (tanto que por isso não foi lançado em cinema no Brasil), e que menos de um ano depois Murphy está de volta no clube dos sucessos de quase 100 milhões de dólares, com A Creche do Papai. Mas, o que aconteceu com este Pluto Nash que permitiu que um filme de orçamento de cem milhões de dólares tivesse uma bilheteria total nos EUA de, aproximadamente, 5 milhões de dólares (que já seria considerado um número fraco para um fim de semana de lançamento)?
Temos que começar vendo que o filme foi lançado mais de um ano após sua primeira data proposta. Como não tem nenhuma relação com temas de terrorismo ou afins, vemos de saída que o estúdio tinha noção clara do abacaxi que tinha nas mãos. Se olhamos o trailer que vem na edição do DVD, vemos quão enorme era a falta de vontade de "vender" o projeto, de tão ruim que é o trailer (e sabe-se que a indústria do trailer é hoje tão avançada que realmente independe de um bom filme para vender). Então, há uma constatação: seu fracasso não foi uma surpresa, pelo contrário, foi até mesmo planejado, por assim dizer. Vê-se que o estúdio sabia que tinha um filme que não poderia salvar e resolveu pelo menos economizar em marketing e lançamento, possivelmente recuperando parte do investimento em lançamentos de DVD, VHS, TV, para o que seria melhor que o filme tivesse o mínimo de repercussão possível (o suficiente para saberem que ele existe, mas não tão ruim quanto é). Uma pesquisa no site "Rotten Tomatoes", que faz um grande balanço das críticas que um filme recebe nos EUA e coloca uma porcentagem de críticas positivas/negativas, encontra este filme com 6% das primeiras, um número que eu nunca tinha visto antes (como considera as críticas mais obscuras, mesmo os filmes muito fracos costumam chegar a 20, 30% - aliás eu recomendo uma olhada na página de textos sobre o filme de tão hilária que é).
Este quase "sumiço" do projeto pelo estúdio ajuda, inclusive, a entender como Eddie Murphy saiu meio ileso da coisa toda. Então, a pergunta de fato precisa mudar: como é que alguém resolveu fazer este filme, parece ser o ponto principal, e gastar nele 100 milhões de dólares?
É claro que esta não é uma pergunta que eu planeje responder, afinal seria trabalho para um repórter investigativo norte-americano. Mas, o que podemos fazer é tentar ver no filme os sinais do que aconteceu. O principal problema do filme é que nunca se entende exatamente o que ele pretende ser. Parece que todos os envolvidos no projeto queriam juntar uma série de "mega-conceitos" que jamais funcionariam juntos. O filme é (ou tenta ser) ao mesmo tempo: um filme de ficção com alguns gastos consideráveis em efeitos e composição, uma comédia maluca com piadas mais adequadas ao estilo de um filme dos ZAZ, uma homenagem/brincadeira com o gênero do noir, uma retomada do Eddie Murphy "herói de ação-malandro" que não funciona desde o Tira da Pesada, um filme com tons românticos eventuais. A mistura que sai disso tudo é indescritivelmente descompensada. Nenhum dos gêneros propostos funciona por si só, muito menos juntos, e a impressão que se tem é que ninguém no elenco ou na realização acreditava que isso aconteceria.
A história é boba, mas não mais do que a de tantos outros filmes. No entanto, a condução desta, o tratamento de personagens (há, por exemplo, uma inexplicável participação de Pam Grier como a mãe de Murphy), o ritmo do filme conseguem tornar o material quase insuportável na sua obviedade. É uma comédia sem graça, um filme de ação sem ação, uma ficção sem magia cujos sets nos lembram assustadoramente os filmes de Batman dirigidos por Joel Schumacher.
E talvez seja daí que venha o único grande interesse que este Nash possui (e não por acaso é mais sobre isso que venho a escrever aqui): o exemplo de um sistema funcionando no ápice de seus equívocos. Sabemos que os estúdios estão cada vez mais lançando filmes-conceito, onde importa mais que tenha um nome de grande ator, uma "sacada", um "gancho" de venda, e uma série de apropriações de filmes que já vimos antes para o espectador ver de novo o que já conhece. Este Nash é como o experimento que dá completamente errado na tentativa de achar-se uma fórmula, é a cobaia totalmente deformada que sai disso. E é igualmente interessante constatar-se isso no filme e ver que o próprio criador sabe do fracasso e tenta ao máximo esconder seu filhote-equivocado. Nash é, muito mais, uma experiência científica num laboratório de produção em massa do que o que convencionamos chamar de um filme. Convém, no entanto, olhar com cuidado para este refugo laboratorial, para entendermos como se chega nos "produtos bem sucedidos" que nos chegam com mais frequência.
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