Recordando o trágico falecimento de um dos maiores ícones do cinema brasileiro: Leila Diniz (1945-1972).
Embora tenha feito novelas de televisão, algum teatro, Leila era basicamente uma personalidade do cinema, talvez a única realmente estrela surgida no cinema brasileiro numa época onde era mais importante o teor político, a proposta social, do que o sucesso comercial.
Mesmo assim Leila se tornou um mito que resiste até hoje não tanto por sua carreira cinematográfica (não fez nenhum grande filme, não foi chamada pelo Cinema Novo, em muitos deles teve apenas pequenas participações por amizade, ou simplesmente porque gostava de estar numa filmagem com os amigos), mas por sua posição libertária, a naturalidade com que falava palavrões (como todo mundo hoje), sua famosa foto grávida na praia (coisa até então inédita) e a honestidade com que conduziu sua vida.
Que foi terminar num desastre de aviação na Índia, perto do aeroporto de Nova Delhi, quando fazia escala de volta de um festival de cinema na Austrália (onde foi apresentar Mãos Vazias) e retornou mais cedo por estar com saudade de sua primeira e única filha Janaina (que hoje trabalha no cinema, como produtora). Foi feito um bom filme sobre ela, Leila Diniz (1987), de seu amigo Luiz Carlos Lacerda, onde foi magnificamente interpretada por Louise Cardoso.
Leila era um fenômeno no cinema brasileiro contemporâneo. Embora fizesse teatro (ia estrear uma participação em O Cordão Umbilical) e televisão para sobreviver, era uma estrela única, criada pelo sucesso de um filme que era basicamente uma declaração de amor a ela (onde era descrita corretamente como uma mulher solar).
Leila era única. Era realmente solar. Uma mulher saudável e resolvida, que adorava badalar em Festivais, que era moleque e vencia todas as gincanas (que estavam então na moda), acordava cedo para ir brincar no mar, conversava com as crianças (foi professora de jardim da infância) e não precisava de drogas para curtir seu barato.
Leila não teve tempo de ser uma grande atriz, embora tivesse o carisma e a presença, raramente lhe deram papéis mais interessantes (talvez o melhor tenha sido Fome de Amor de Nelson Pereira, com Irene Stefânia e Arduíno Colasanti, já começando o desbunde daquela geração).
O problema bem curioso é que Leila escolhia os filmes não por sua possível qualidade, mas por causa dos amigos (em Azyllo muito louco, também feito em Parati, ficou com papel pequeno, mas foi assistente de direção). Ou então porque se divertia muito (como em filme de cangaceiro com cavalos, que ela adorava).
Infelizmente não teve na vida outro Todas as Mulheres do Mundo, um filme modesto, em preto e branco, que reunia a turma toda de Ipanema revelando o estreante e já maravilhoso Paulo José, cercada de mulheres da turma (Joana Fomm, Marieta Severo, que era a melhor amiga de Leila, Márcia Rodrigues, Vera Vianna, Isabel Ribeiro, Ana Maria Magalhães, Hildegard Angel, Maria Gladys, Irmãs Marinho, Tania Scher).
Paulo faz Edu, que começa a contar os problemas de seu relacionamento com Maria Alice (Leila), uma professora primária carioca que atrapalha sua intenção de transar com todas as mulheres do mundo. Uma comédia romântica que é um encanto, um pouco amadora (o diretor Domingos a teria feito para tentar reconquistar Leila, com quem havia sido casado e separado, não deu certo, mas ficaram amigos para o resto da vida), mas ainda encantadora. Preserva não apenas Leila (o personagem de Maria Alice é autobiográfico e tem muitas facetas dela).
Ainda em vida, Leila teve todas as consagrações de uma estrela. Foi citada em canção ("homem tem que ser durão como diz Leila Diniz"), virou nome de grife, foi atriz premiada, mãe do ano, musa do "Pasquim", vedete do rebolado, chorou no ar no programa Quem tem Medo da Verdade (grande sucesso na época), teve romances inesquecíveis com Toquinho, Henrique Martins e outros.
Leila era sinônimo de vida, de alegria, de espontaneidade.
Filmografia
1966 - O Mundo Alegre de Helô, de Carlos Alberto de Souza Barros. Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos de Oliveira
1967 - Mineirinho, Vivo ou Morto, de Aurélio Teixeira
1968 - Jogo Perigoso (Juego Peligroso. Mexicano rodado no Brasil, de Luiz Alcoriza e Arturo Ripstein. Epis. Divertimento); O Homem Nu de Roberto Santos (participação). Madona de Cedro, de Carlos Coimbra. Edu, Coração de Ouro, de Domingos de Oliveira
1969 - Fome de Amor, de Nelson Pereira dos Santos. Corisco, o Diabo Loiro de Carlos Coimbra. Os Paqueras, de Reginaldo Faria
1970 - Azylo Muito Louco, de Nelson Pereira dos Santos
1971 - Mãos Vazias, de Luis Carlos Lacerda
1973 - Amor, Carnaval e Sonhos, de Paulo Cesar Saraceni (participação)
1974 - O Donzelo de Stephen Whol (participação)
1971-77- O Dia Marcado, de Iberê Cavalcanti (não conheço o filme, nem soube que tivesse sido lançado)
Também fez as telenovelas (Excelsior e Globo)
1965 - Ilusões Perdidas. Paixão de Outono
66 - O Sheik de Agadir. Eu Compro Essa Mulher. Um Rosto de Mulher
1967 - A Rainha Louca. Anastácia, A Mulher Sem Destino
1968 - O Direito dos Filhos
1969 - Acorrentados. A Menina do Veleiro Azul. Vidas em Conflito. Dez Vidas
1970 - E nós Aonde, Vamos?
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