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segunda-feira, 9 de março de 2015

OS MORTOS VIVOS DE GEORGE ROMERO - DOSSIÊ COMPLETO


PRIMEIRA TRILOGIA


NOITE DOS MORTOS VIVOS (1968)

FICHA TÉCNICA

 1968 / EUA / P&B / 96 min / Direção: George A. Romero / Roteiro: George A. Romero, John Russo / Produção: Karl Hardman, Russell W. Streiner / Elenco: Duane Jones, Judith O’Dea, Karl Hardman, Marilyn Eastman

SINOPSE

Numa fazenda, um grupo de pessoas armam uma barricada na tentativa de sobreviver ao terrível ataque dos mortos-vivos, que só podem ser mortos (mais uma vez) com um tiro na cabeça.

ANÁLISE 

Esse é o filme que muda tudo. O cinema de terror nunca mais será o mesmo daqui para frente, pois o mestre George A. Romero nos apresenta em A Noite dos Mortos-Vivos a sua versão dos zumbis comedores de carne humana, misturado com mordaz crítica social, paranoia e o apocalipse morto-vivo, que seria imortalizada e copiada para todo o sempre. É o filme mais importante da história do cinema dos zumbis.

Romero samba na cara da sociedade e apresenta um filme que viria a estabelecer os padrões de exploração para o que seria o subgênero gore no cinema daqui para frente (mesmo que anteriormente Herschell Gordon Lewis já tivesse chutado o pau da barraca em sua Trilogia de Sangue), com direito a sangue e vísceras, e fazendo com que aquelas criaturas quer eram simples escravos autômatos trazidos à vida por vodu em uma ilha do Caribe, se transformassem em nossos familiares, vizinhos e amigos, que sairiam de suas covas para nos devorar vivos explicitamente. 

Isso sem contar a forma como coloca à prova a sobrevivência do mais forte, o egoísmo da autopreservação, os conflitos morais e religiosos e ousa apresentar, em pleno final dos anos 60, um protagonista negro.

Citando o livro “Zumbi – O Livro dos Mortos”, de Jamie Russel, publicado aqui no Brasil pela Editora Barba Negra: “A Noite dos Mortos-Vivos foi o filme que fez nascer o terror norte-americano da era moderna”. E vai além: fora os americanos, influenciou toda uma geração de cineastas italianos e europeus que despontariam na década de 70 e 80 fazendo filmes extremamente violentos, cheio de sangue e tripas. Isso sem contar que A Noite foi responsável por mudar a linguagem dos filmes de terror, abandonando a estética gótica que permeava as produções até então, e tocar  no medo contemporâneo do americano médio da época. É por isso que na minha humilde opinião, está entre os meus cinco filmes de terror preferidos e mais importantes de todos os tempos.


Bom, deixamos de lado toda essa babação de ovo por enquanto para falar sobre a trama. Barbra e seu irmão viajam quilômetros para visitar a tumba do pai morto, quando a insurreição dos mortos-vivos começa, atacando os dois no cemitério. Barbra consegue escapar, fugindo até uma fazenda, onde tentará se esconder durante a fatídica noite com um conjunto de estranhos díspares: Ben, que vai até a casa também em busca de proteção e logo se torna líder do grupo; o casal caipira local Tom e Judy; e Helen e Harry Cooper, marido e mulher em pé de guerra com sua filha doente, mordida por um zumbi durante um acidente.

Com um orçamento de 114 mil dólares, saídos do próprio bolso dos produtores, o filme foi rodado em preto e branco e com severas limitações para maquiagem dos zumbis, mas mesmo assim, principalmente para o público mediano daquela década, algumas cenas eram simplesmente chocantes, como as dezenas de braços atacando as portas e janelas da fazenda, ou os zumbis devorando os pedaços de Tom e Judy após uma frustrada tentativa de fuga. 

Romero usou entranhas de animais compradas em um açougue de Pittsburgh, como corações de porcos e intestino de ovelhas, para dar o efeito autêntico e conseguiu encontrar figurantes loucos o suficiente para comê-los.

Romero também contorna todo e qualquer problema financeiro que poderia recair sobre seu filme com o roteiro recheado de crítica social, misturando diversos arquétipos críveis que poderiam muito bem ficar confinados junto com você se a tal hecatombe zumbi realmente acontecesse: a garota fraca e impressionada, o marido arrogante que trata mal a família, a esposa saturada de uma vida subserviente, o negão que tenta colocar ordem na situação mas mesmo assim vê sua liderança sob desconfiança devido a cor da sua pele, e o casal simplório e inocente que tenta fazer de tudo para ajudar, mas acaba fazendo cagada no final. E como se não bastasse, os mortos voltando a vida joga contra a parede toda e qualquer escolha moral e religiosa que você teria até então, como não poder sequer velar ou enterrar os entes queridos ou recorrer aos seus instintos primários para poder sobreviver. Fora que os momentos finais do filme questionam a autoridade policial e as forças da lei, isso bem enquanto a Guerra do Vietnã matava milhares no estrangeiro.Muito parecido com o que Hitchcock fez em Os Pássaros, 

Romero não nos dá nenhuma pista do que realmente aconteceu, só joga informações desencontradas, como o que realmente aconteceria na vida real em uma situação como essas, através de boletins de rádio e TV, dando uma espécie de pista que os mortos estão se levantando da tumba devido a um incidente com um satélite que explodiu e espalhou uma grande quantidade de radioatividade no planeta (lembre-se, estamos em 1968 com a Guerra Fria comendo solta)

A Noite dos Mortos-Vivos foi um tremendo sucesso financeiro, faturando cerca de 12 milhões de dólares nos EUA e mais 30 milhões ao redor do mundo, mas infelizmente os royalties não geraram receita para Romero e os produtores, e muito menos todas as dezenas de cópias em DVD, VHS e exibições públicas, já que o filme é de domínio público, devido a um erro grotesco quando o distribuidor original não adicionou uma indicação de direitos autorais nas cópias.

Após A Noite dos Mortos-Vivos, Romero nos entregaria uma trilogia expandindo os temas que de alguma forma nasceram com esse filme e influenciaria todo e qualquer filme, livro, seriado, HQ ou jogo de videogame que viria a ser criado, que tivesse o zumbi como personagem central. Há também o remake lançado em 1990, em cores, dirigido pelo mago da maquiagem Tom Savini, que seria responsável pelo visual dos defuntos ambulantes e da carnificina nos filmes posteriores de Romero. A refilmagem, que na verdade é mais uma homenagem em si, é tão boa quanto a original, com alguns elementos bastante melhorados, e com Romero como produtor executivo. Versão essa de 90 que foi a primeira que assisti, tarde da noite em alguma reprise na TV aberta, muito antes de ver o original de Romero pela primeira vez.

ZOMBIE - DESPERTAR DOS MORTOS (1978)

FICHA TÉCNICA

1978 / EUA, Itália / 127 min /145 min Direção: George A. Romero / Roteiro: George A. Romero / Produção: Richard P. Rubinstein, Donna Siegel (Produtora Associada), Claudio Argento, Alfred Cuomo (Produtores Associados) / Elenco: David Emge, Ken Foree, Scott H. Reiniger, Gaylen Ross

SINOPSE

A mais popular história de zumbis já contada, o filme se passa num shopping center, onde pessoas comuns fazem de tudo para sobreviver.

ANÁLISE

Se em A Noite dos Mortos Vivos, Romero começou sua revolução zumbi que mudaria os rumos da história do cinema de terror, em Despertar dos Mortos, ele realiza sua obra prima, pedra angular do gênero para todo o sempre, e escancara de vez sua mordaz crítica social deixando claro para todo mundo que os zumbis somos nós.

Dez anos depois de filmar A Noite, Romero decide voltar ao gênero que lhe deu visibilidade, mais por questões financeiras do que artísticas propriamente ditas, já que seus filmes anteriores fracassaram de forma retumbante nas bilheterias. Mas quando ele resolveu voltar, foi valendo! Tanto que a importância de Despertar dos Mortos é inestimável para o cinema de horror do século XX, e principalmente para as produções europeias da década de 80.

Romero pega os pontos soltos que havia deixado com o final do primeiro filme e os potencializa, espalhando a infecção zumbi por todo os Estados Unidos. E claramente houve uma troca de poder nesse meio termo. Enquanto A Noite termina com os caipiras e os policiais exterminando os mortos-vivos e fazendo chacota disso, logo no começo de Despertar, você vê que os zumbis tomaram o controle e os seres humanos praticamente viraram seu gado, perdendo essa luta. Até em um dos momentos do filme, um polêmico entrevistado em um programa de TV diz que a situação poderia ter sido contornada muito facilmente se as pessoas tivessem deixado a emoção e a moral religiosa de lado, e simplesmente matassem os zumbis, independente de serem parentes ou amigos.

Pois bem, Despertar dos Mortos começa três semanas após os eventos do filme anterior, quando Francine, uma produtora de TV, resolve deixar de lado o caos que se tornou a emissora de televisão onde trabalha, que de qualquer forma queria continuar transmitindo e mantendo a audiência a todo custo, mesmo que para isso passasse uma lista defasada de lugares seguros para os espectadores (espectador = zumbi), e fugir com seu namorado, Stephen, o piloto da emissora, e mais dois oficiais da SWAT, Roger e Peter. Durante a escapada aérea, com pouco combustível e abatidos pelo cansaço, o grupo sem querer depara com o que seria o refúgio perfeito: um shopping center abandonado, exceto por zumbis que perambulavam pelo seu interior. Logo, resolvem fazer de lá sua base.

A ideia inicial de utilizar o shopping veio quando Romero foi fazer uma reunião de negócios com um possível patrocinador, em um shopping center em Monroeville, Pensilvânia. Lá Romero se viu intimidado pelo gigantesco templo consumista (vamos lembrar que nos anos 70 os shopping centers não eram tão comuns, com um em cada esquina como nos dias de hoje). Daí partiu toda sua base para o roteiro do filme. E também foi o ponto de partida do desenvolvimento do argumento de que mesmo o mundo caindo no mais puro caos social, os seres humanos são escravos autômatos dos seus mais primitivos desejos de consumo (consumidor = zumbi?). E isso fica muito claro quando o grupo começa a saquear uma grande loja de departamento do shopping e usufruir dos bens para satisfazer suas necessidades mais mesquinhas, como vestir as roupas, jantares chiques, entretenimento diverso, e tudo que tem direito.

Apesar da síndrome do isolamento, enquanto eles tiverem bens materiais para os distraírem, está tudo bem. E essa crítica social deixa de ser apenas subentendida e torna-se escancarada em algumas sequências chaves, como nas cenas em que são filmados os zumbis e logo na sequência os manequins das lojas, traçando um paralelo entre eles/nós, quando os mortos, sem a menor vontade própria, ficam zanzando pelos corredores e escadas rolantes enquanto o alto-falante anuncia alguma liquidação, ou quando os zumbis começam a se debater em frente a loja de departamentos trancada, mais ou menos como as pessoas ficam hoje em dia para comprar um novo iPad ou iPhone no dia de seu lançamento.

Mas Despertar dos Mortos só saiu do papel graças a uma pessoa em especial: Dario Argento. Ao chegar até a Itália os rumores que Romero estava escrevendo uma continuação para A Noite dos Mortos Vivos, o produtor Alfredo Cuomo recebeu uma versão incompleta do roteiro, na esperança de encontrar parceiros que quisessem investir no filme, que tinha um orçamento previsto de 1,5 milhão de dólares (contra 114 mil de seu predecessor). Cuomo era grande amigo de Argento e deu uma cópia do roteiro para ele. Como Romero também era fã das obras de Argento como Prelúdio Para Matar e Suspiria, o casamento entre eles foi perfeito. Os dois trabalharam em parceira, sempre respeitando a liberdade criativa de Romero, e Argento foi o responsável pela distribuição do filme na Europa, fazendo sua própria montagem europeia, com oito minutos a menos, acentuando um pouco mais o humor e destacando mais a trilha sonora da sua banda fetiche, Goblin.

Com a ajuda do futuro mago dos efeitos visuais, Tom Savini (que até faz uma ponta no filme como um dos motoqueiros saqueadores que invadem o shopping no final), Despertar abusa da violência gráfica e sangue, látex e maquiagem, coisa que o filme anterior não pode fazer devido a sua limitação técnica e financeira. E no meio de pessoas sendo devoradas vivas e partes de corpos arrancadas com dentadas, Romero ainda inseriu uma boa dose de humor quase cartunesca, usada para explorar o egoísmo humano e todo tédio das relações sociais e da explosão do consumismo em massa.

E falando em egoísmo, interessantes salientar que no final do filme, os grandes vilões não são os zumbis, e sim os próprios humanos que invadem o shopping e ferram com toda a falsa paz, tranquilidade e segurança que nossos “heróis” criaram em seu recanto de lazer e proteção. Provavelmente se a gangue de motoqueiros não tivesse entrado no shopping, tocado o puteiro com os mortos-vivos aprisionados e jogado merda no ventilador, provavelmente o trio (porque nessa altura do campeonato Roger já havia morrido, sendo mordido por um zumbi durante uma ação extremamente arrogante e descuidada de sua parte) estaria morando por lá até hoje, já que o estoque de suprimentos era quase infinito.

No final das contas, Despertar estreou fazendo um estrondoso sucesso comercial nos EUA, contrariando a todas as regras, pois o filme foi lançado sem classificação, já que a censura queria meter uma classificação X no filme (equivalente hoje ao NC-17 nos EUA), o que era algo deveras arriscado. Faturou 55 milhões de dólares na bilheteria mundial, recebeu imensos elogios da crítica e estampou o nome do Romero de vez na indústria do cinema.

DIA DOS MORTOS (1985)

FICHA TÉCNICA

1985 / EUA / 103 min / Direção: George A. Romero / Roteiro: George A. Romero / Produção: Richard P. Rubinstein, David Ball (Coprodutor), Ed Lammi (Produtor Associado), Salah M. Hassanein (Produtor Executivo) / Elenco: Lori Cardille, Terry Alexander, Joseph Pilato, Jariath Conroy, Anthony Dileo Jr., Richard Liberty, Sherman Howard

SINOPSE

Os mortos-vivos dominaram a Terra e apenas um pequeno número de humanos conseguiu resistir. Estes sobreviventes, entre eles soldados e cientistas, se refugiaram em um abrigo militar subterrâneo, mas a situação está cada vez mais crítica: o estoque de alimentos está baixando, a munição e os medicamentos estão cada vez mais escassos. A sobrevivência dos humanos só poderá ser garantida se este grupo chegar até um local inacessível, descobrir como combater os mortos-vivos e enviá-los de volta para suas sepulturas. Uma das últimas esperanças pode estar nas pesquisas realizadas pelo excêntrico Doutor Logan (Richard Liberty), mas a tensão e o desespero entre os humanos crescem cada vez mais. Eles se entregam a uma terrível batalha pela vida. 

ANÁLISE 

Eis que depois da noite, do despertar, e principalmente, depois do ciclo italiano de zumbis, George Romero volta aos seus monstros mortos-vivos favoritos para concluir o que seria a sua trilogia da hecatombe zumbi em Dia dos Mortos.

Antes de analisar Dia dos Mortos é necessário fazer uma linha do tempo do cinema zumbi desde que Romero reinventou o terror moderno em A Noite dos Mortos-Vivos nos anos 60. Bem sabemos que até então o zumbi era produto de feitiçaria caribenha e só mesmo em 1968 que ele se transformou em um cadáver ambulante canibal (trazido à vida por meio de radiação) e afastou-se da luta de classes nas Antilhas para se tornar seu vizinho ou ente querido. Na década seguinte, Despertar dos Mortos mais uma vez inovou o gênero e deu início a insurreição que vemos até hoje em filmes, seriados de TV, videogames e quadrinhos.

Nesse meio tempo entre Despertar e Dia dos Mortos (um hiato de sete anos) eis que Lucio Fulci transformou o morto-vivo em um ser maltrapilho, putrefato e expôs todo o potencial visceral splatter que essas criaturas míticas poderiam alcançar desde seu Zumbi 2 – A Volta dos Mortos (que nada mais é que inspiração rasgada de Despertar dos Mortos). Uma infinidade de filmes de zumbis italianos surgiram na esteira explorando cada vez mais o fetiche pelo gore e pela carne. Era um caminho sem volta que acabou por influenciar o mestre em seu retorno retumbante.

Em Dia dos Mortos, após os acontecidos de Despertar dos Mortos a humanidade perdeu a batalha e o mundo tornou-se um lugar inóspito tomado por zumbis. Tom Savini em seu auge retoma a maquiagem, deixando de lado todo o ar cartunesco dos zumbis de Despertar e mostrando-os como seres em decomposição afetados pelo tempo (como um dos emblemáticos zumbis sem maxilar da sequência inicial). A selvageria e a brutalidade gráfica atingem seu auge na filmografia de Romero, dando direito as sequências mais grosseiras da trilogia, como um zumbi que “deixa cair” todos seus órgãos internos ao se mover em uma maca, ou os terríveis ataques em seu final quando cabeça, tronco e membros são separados de um dos soldados por uma horda de mortos.

A crítica social inerente à sobrevivência humana continua ali escancarada, violando códigos de ética, conduta, raça e credo, mas o tom do longa dessa vez é muito mais depressivo, soturno. Esqueça os delírios de consumo de um shopping center só para você. Aqui os heróis, que muito se misturam com os vilões, vivem às raias da loucura, cercados por uma estafa mental e um descontrole emocional, como se manter o fardo da humanidade fosse uma bomba relógio prestes a explodir. E também há de se reparar que o começo do filme se passa exatamente na Flórida, o ponto mais próximo dos EUA das ilhas caribenhas, mais uma volta que o ciclo do monstro dá em torno de sua própria origem, mesmo que subentendido.

Um grupo díspar de cientistas e militares estão às turras em um bunker enterrado no subsolo. Sarah (Lori Cardille) é a suposta mocinha da trama, que faz parte da junta científica junto de Fisher (John Amplas) e o Dr. Logan (Richard Liberty) mais conhecido pelo infame apelido de Dr. Frankenstein. Suas missões é tentar entender a epidemia e possivelmente encontrar uma cura, algo que vem se mostrando extremamente infrutífero. Enquanto Sarah e Fisher tentam buscar resposta por meio de pesquisas, o carniceiro Dr. Logan faz todo tipo de experimento visceral com os mortos e insiste na teoria de domesticação (leia-se escravidão, voltando mais uma vez ao ponto alto da crítica de Romero) e tem uma cobaia, a icônica figura do dócil zumbi Bub (Sherman Howard), que tenta controlá-lo e fazer se lembrar de experiências de vida passada, como ouvir música, fazer a barba e ler Stephen King, em troca de pedaços de carne humana.

Do outro lado da moeda estão os militares liderados pelo ditatorial Rhodes (Joseph Pilato) que estão começando a ficar impacientes com seus homens sendo mortos na busca por mais cobaias para testes, a falta de resultados concretos e está a um passo de estourar com os cientistas, aumentando exponencialmente cada vez mais o rastilho de pólvora enquanto eles brigam entre si sem parar. Neutros entre os dois grupos estão John (Terry Alexander), negro espirituoso e com sotaque carregado que mais uma vez remete ao Caribe, lar da origem do mito, único capaz de pilotar o helicóptero e McDermott (Jariath Conroy), especialista em comunicações.


Como de praxe na obra morta-viva de Romero, o grande mal à humanidade não são os zumbis e sim os próprios homens. Mais uma vez, como acontecera em A Noite dos Mortos-Vivos e Despertar dos Mortos, o que coloca tudo a perder e desestabiliza o status quo para a catástrofe final é a mesquinharia, a intolerância e as atitudes impensadas dos próprios homens. Enquanto em A Noite a inconsequência da explosão da bomba de gasolina misturada ao descontrole emocional do personagem de Karl Hardman decretam o fim do grupo e em Despertar a invasão dos motoqueiros ao shopping é seguida pelo ataque dos zumbis, aqui em Dia o latino Miguel (Anthony Dileo Jr.), namorado de Sarah é que em um estágio avançadíssimo de estresse manda tudo às favas e abre os portões para que os cadáveres invadam o complexo e façam seu banquete.


Mas o mais interessante de Dia dos Mortos, tendo em visto a gama de atitudes estúpidas humanas, é como Romero inverte o papel do mocinho e do bandido fazendo com que simpatizemos com os zumbis, principalmente por conta de Bub, uma vez que seus pares são vivissecados (quer dizer, sei lá se essa palavra se aplica pois eles não estão tecnicamente vivos), explorados, humilhados e trucidados. Chegando próximo de sua conclusão você passa a torcer para os mortos. Mas apesar do tom pesado, de todos os três filmes, esse é o primeiro que de fato traz uma mensagem de esperança em seu final aberto e “feliz”, sugerindo que talvez, apesar dos apesares, as praias do Caribe sejam a verdadeira solução para que esse ciclo se feche.

Mas para efeito imediato de conversa, Dia dos Mortos não agradou o público e nem crítica, principalmente por sua intensa deliberação sobre mazelas humanas e papel dos homens na antiga e nova sociedade, seu ritmo lento e sua mensagem extremamente depressiva. Com orçamento de três milhões de dólares, diversas dificuldades durante as filmagens pela falta de verba e por ter sido lançado em um período em que o cinema de terror era descompromissado e nem um pouco crítico, o longa afundou nas bilheterias faturando somente 5 milhões de dólares e tendo um resultado um pouco melhor no mercado internacional. Fora também que naquele ano de 1985, o teor apocalíptico sem um pingo de esperança que remetia ao cinema zumbi de Romero havia sido completamente substituído pelos zumbis dançarinos do videoclipe de Thriller de Michael Jackson e os comedores de miolos piadistas de A Volta dos Mortos-Vivos de Dan O’Bannon, que ajudaram ainda mais para que o público repudiasse o longa de Romero.

O resultado catastrófico enterrou a carreira de Romero que nunca mais conseguiu dirigir nada de relevante depois e levou quase vinte anos até que ele finalmente voltasse ao gênero e lançasse a última parte que completaria sua agora tetralogia, Terra dos Mortos, reaproveitando elementos que estariam no roteiro original de Dia dos Mortos mas que tiveram de ser cortados pela falta de verba.
Só que com o lançamento, resolveu fazer uma nova trilogia...

SEGUNDA TRILOGIA


TERRA DOS MORTOS (2005)

FICHA TÉCNICA

Gênero: Terror
Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Elenco: Alan Van Sprang, Asia Argento, Boyd Banks, Bruce McFee, Bryan Renfro, Chad Camilleri, Christopher Allen Nelson, Christopher Russell, Colm Magner, Darrin Brown, David Campbell, David Sparrow, Dawne Furey, Debra Felstead, Dennis Hopper, Devon Bostick, Donna Croce, Earl Pastko, Edgar Wright, Eldridge Hyndman, Erica Olsen, Ermes Blarasin, Gene Mack, Gino Crognale

SINOPSE

Os zumbis dominaram o mundo e as pessoas que conseguiram sobreviver estão confinadas em uma cidade cercada por muros. Enquanto nas ruas o caos domina, os ricos vivem isolados em prédios super-protegidos. Neste cenário, um grupo de catadores de lixo deve impedir uma tentativa de ataque dos mortos à cidade, pois as criaturas estão evoluindo para formas mais avançadas de comedores de carne humana.

ANÁLISE

Primeiro veio o perturbador clássico de baixo orçamento A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 68); depois após dez anos foi a vez do sangrento Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead); seguido por O Dia dos Mortos (Day of the Dead, 85). E agora finalmente, depois de vinte anos, o principal mestre dos filmes de zumbis comedores de carne humana George Romero, retorna às telas com Terra dos Mortos (Land of the Dead), o quarto filme da mais famosa série desse fascinante subgênero do cinema de horror e que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em 22/07/05. E não é o último: Romero lançou em 2007 uma continuação indireta, intitulada Diário dos Mortos, e depois, em 2009, mais um: Ilha dos Mortos.

O mundo está dominado por mortos vivos e os remanescentes da humanidade tentam sobreviver protegidos numa cidade isolada e protegida dos ataques dos zumbis. Entre os sobreviventes, existe um grupo de mercenários, entre eles o líder Riley (Simon Baker), seu companheiro Charlie (Robert Joy), que tem o rosto deformado por queimaduras, a bela Slack (Asia Argento), uma mulher que foi salva por Riley quando foi obrigada a lutar contra dois zumbis num jogo, e Cholo (John Leguizamo), um mexicano insubordinado. Eles fazem missões nos locais dominados por mortos vivos para recuperarem alimentos, bebidas e outras coisas úteis abandonadas após o início do caos gerado por um vírus que levantou os mortos de seus túmulos e contagiou todos por eles mordidos.

Na cidade dos sobreviventes humanos existe uma grande diferença de classes, onde o rico e poderoso Kaufman (Dennis Hopper), é o dono de um prédio luxuoso e seguro, cercado de privilégios, e os pobres vivem nas ruas em meio à violência urbana.

Mas, o maior problema a ser enfrentado pelos remanescentes da raça humana é a ameaça de uma invasão dos zumbis, que sob a liderança de aparentemente um simples frentista de um posto de gasolina, encontraram condições de evoluírem de forma crescente e planejam um ataque mais organizado contra a cidade dos humanos, tentando consolidar seu espaço como espécie dominante no planeta.

Confesso que estava bem ansioso em ver um filme genuíno de horror em cartaz nos cinemas, principalmente depois do péssimo Amaldiçoados (Cursed), que estreou no Brasil na semana anterior, em 15/07, um filme muito ruim com uma história contemporânea de lobisomens sem interesse, num grande vacilo do diretor Wes Craven, o criador da franquia A Hora do Pesadelo e responsável no passado por filmes perturbadores e não comerciais como Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos. Os apreciadores do gênero precisavam de um filme mais intenso nos cinemas, depois de vários exemplos ruins no primeiro semestre de 2005 como O Filho de Chucky, O Chamado 2 e O Pesadelo. E felizmente, essa tarefa ficou nas mãos do mestre George Romero, que nos brindou novamente com mais um filme de sua sangrenta série sobre zumbis.

Porém, para confirmar a característica de ser classificado com um filme violento e bem menos comercial, a distribuição de Terra dos Mortos nas salas de exibição foi irregular, tendo como referência a famosa rede de cinemas Cinemark, onde pelo menos na cidade de São Paulo e mais especificamente na região de Interlagos, em dois Shopping Centers de grande movimento o filme esteve disponível em sua primeira semana de exibição apenas em horários noturnos.

Terra dos Mortos segue a linha dos episódios anteriores quanto ao seu argumento básico, ou seja, uma mensagem pessimista do futuro da humanidade, que luta com as últimas forças pela sobrevivência num mundo caótico dominado por uma legião de mortos vivos carnívoros. Porém, uma diferença notável é que agora, além de serem violentos e comedores de carne humana, os zumbis estão evoluindo e conseguindo encontrar formas de se comunicarem e organizarem, mesmo que precariamente, tornando-se cada vez mais ameaçadores para os últimos sobreviventes da raça humana.

Se em Despertar dos Mortos percebemos no argumento uma crítica social contra o consumismo desenfreado da sociedade, e em Dia dos Mortos observamos um alerta sobre a intransigência militar, agora em Terra dos Mortos a história evidencia uma imensa diferença de classes sociais, com os ricos vivendo num prédio luxuoso cercado de mordomias e mais distantes da ameaça dos zumbis, e o resto da população pobre lutando pelas sobras e migalhas numa cidade dominada pela violência urbana, jogos e vícios.

Analisando rapidamente todos os filmes da série, ainda prefiro os dois primeiros. O filme original em preto e branco de 1968 ganha uma nota 10 principalmente pela ousadia de Romero em chocar o público com cenas de extrema violência há aproximadamente quarenta anos atrás. Despertar dos Mortos, que continuou a saga dos zumbis com fotografia colorida, também vale uma nota máxima, com o diretor mantendo a exposição de violência com o vermelho vivo do sangue derramado e vísceras destroçadas. Já Dia dos Mortos, apesar de também privilegiar cenas fortes de mortos vivos devorando suas vítimas, não conseguiu manter a mesma intensidade dos anteriores, talvez porque a ideia básica da história já havia se transformado em algo repetitivo e com impacto menor sobre o público, ou seja, um mundo dominado completamente pelos zumbis, que tentam atacar os poucos sobreviventes humanos. 

E, com Terra dos Mortos, a volta de George Romero à saga depois de vinte anos, igualmente apesar de caprichar nas cenas de violência não poupando o espectador de ver muito sangue sendo jorrado, e também de apresentar elementos novos como a evolução dos zumbis, o filme não conseguiu atingir plenamente seu objetivo talvez porque o cinema de horror atual está tão envolvido com violência que corpos despedaçados, cabeças estouradas e vísceras expostas já não impressionam tanto. E nesse caso, seria necessário um investimento maior no conteúdo da história, algo que não pareceu ser muito diferente do convencional e dos clichês de filmes de zumbis. Porém, pelo fato de ser George Romero o homem por trás das câmeras, pelos zumbis carnívoros que são a grande atração, pela carnificina e banquete de sangue, pela presença de Asia Argento que nos presenteou com sua beleza, e pela pequena aparição nostálgica de Tom Savini, Terra dos Mortos merece no mínimo uma nota 8.

A saga dos mortos vivos de George Romero gerou uma franquia bem extensa, pois além dos cinco filmes dirigidos por ele próprio, ainda houve as refilmagens dos três primeiros episódios da série. Em 1990 tivemos A Noite dos Mortos Vivos com direção de Tom Savini e depois a nova versão de Despertar dos Mortos, que recebeu o nome no Brasil de Madrugada dos Mortos (2004), de Zack Snyder, sendo que ambos os filmes são dignos da franquia e de toda a mitologia dos zumbis criada por George Romero, apesar da liberdade de criação artística no trabalho de Snyder, que transformou seus zumbis em criaturas de grande agilidade e por isso mesmo ainda mais ameaçadoras, abandonando a tradicional lentidão de movimentos dos mortos vivos originais.

Algumas curiosidades e notas: a filha do diretor George Romero, Tina Romero, aparece no filme como uma militar, assim como o famoso técnico em maquiagem Tom Savini, um habitual colaborador do cineasta, que teve uma participação bem rápida, mas bastante efetiva, como um violento zumbi. Aliás, a repórter de um jornal americano, chamada Susan Wloszczyna, também apareceu como figurante interpretando uma morta viva. A atriz Asia Argento, que faz o papel de Slack, além de ser uma bela mulher, é filha do diretor italiano Dario Argento, que produziu juntamente com Romero o segundo filme da série, Despertar dos Mortos, sendo um importante cineasta especialista no gênero, conhecido por vários filmes significativos como Suspiria (77), A Mansão do Inferno (80) e Dois Olhos Satânicos (90), entre outros. Alguns títulos alternativos originais haviam sido imaginados anteriormente para Terra dos Mortos como Dead City, Twilight of the Dead, e Dead Reckoning, que é o nome original do imenso caminhão blindado carregado de armas pesadas utilizado pelos humanos na luta contra os zumbis, chamado na legenda brasileira de Destruidor. O cineasta George Romero tinha inicialmente a intenção de utilizar locações em sua cidade natal, Pittsburgh, local das filmagens dos outros três filmes anteriores da saga, mas os realizadores de Terra dos Mortos optaram por filmar em Toronto, no Canadá, devido aos menores custos de produção, sendo que o orçamento do filme ficou em torno de US$ 18 milhões.

DIÁRIO DOS MORTOS (2007)

FICHA TÉCNICA

Título Original: Diary of the Dead
Ano: 2007 • País: EUA
Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Produção: Sam Englebardt, Peter Grunwald, Ara Katz, Art Spigel
Elenco: Michelle Morgan, Joshua Close, Shawn Roberts, Amy Lalonde, Joe Dinicol, Philip Riccio, Chris Violette, Tatiana Maslany, Todd Schroeder, Daniel Kash

SINOPSE

O longa acompanha um grupo de estudantes de cinema que passam a registrar com suas câmeras, no meio do caos, o que ocorre quando os zumbis passam a inexplicavelmente tomar conta do mundo. Ao mesmo tempo, eles também acompanham pela internet, por meio de vídeos e relatos em blogs, como a situação aterroriza o planeta. Um deles fica especialmente obcecado com o registro, colocando em perigo sua vida para registrar o acontecimento.

ANÁLISE

George Romero pode ser considerado, no universo cinematográfico, como um dinossauro. Não apenas pela idade, 73 anos completados no último dia 9 de fevereiro, mas porque cineastas como ele estão em extinção. Considerado o pai dos mortos-vivos no cinema, Romero é um nome forte do gênero não apenas por ter dirigido o clássico A Noite dos Mortos-vivos (Night of the Living Dead, 1968), mas por ter acompanhado os zumbis nas décadas seguintes e sempre com bons filmes sobre o tema.

Mas a obra de Romero vai além de mostrar mortos que saem das tumbas para perseguir e se alimentar de seres humanos indefesos. Assim como o filme da década de 1960, as “sequências” O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), O Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985) e Terra dos Mortos (Land of the Dead, 2005) traziam, além de boas histórias, interessantes críticas sociais que retratavam a realidade das épocas nas quais os filmes foram lançados.

Romero também merece respeito por sempre ter conseguido criar verdadeiras obras primas que serviram de inspiração para outros diretores pegarem carona na onda que se tornou popular há 40 anos. Se hoje temos boas produções como Extermínio (28 Days, 2000) ou remakes de qualidade como Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004), é a Romero que devemos agradecer.

É por estes motivos que basta para os filmes de Romero possuírem o nome do diretor no alto do cartaz para que os fãs do gênero decidam conferir o material. Com um atraso de dois anos, um novo capítulo da filmografia dele chega às locadoras de todo o Brasil. Trata-se de Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007) que, mesmo dividindo opiniões, merece ser conferido por ser uma produção bem acima da média.

A trama acompanha um grupo de estudantes de cinema que está fazendo um filme de terror como projeto de conclusão de curso. Durante as filmagens, os jornais de todo o mundo começam a noticiar que cadáveres simplesmente se levantaram e começaram a atacar os vivos. Apavorados, o grupo decide pegar a estrada para as suas respectivas casas, mas um dos estudantes decide filmar toda a jornada em um formato de documentário.

Diferenças Culturais

Antes de dissecarmos o filme, é necessário entender que existe uma grande diferença cultural e histórica desde que A Noite dos Mortos-Vivos foi lançado até os dias de hoje. A verdade é que, mesmo com os bons trabalhos que o diretor assinou nas décadas seguintes, é inegável que filmes com zumbis se tornaram mais do que populares. Passando das famigeradas produções italianas e incluindo obras trashes como A Volta dos Mortos-Vivos (The Return of the Living Dead, 1985) e produções que abusam do fino humor inglês, no caso de Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2005), fazer um bom filme de zumbis tornou-se algo complicado até pela forma como o tema já foi trabalhado.

Em Diário dos Mortos, Romero procura injetar sangue novo no universo dos zumbis, mas o resultado final recai no aceitável. Na verdade, se este filme fosse dirigido por qualquer outra pessoa, talvez a crítica final fosse negativa. No caso de estarmos diante de uma produção de Romero, ficamos até constrangidos em falar mal de forma tão aberta e procuramos atenuar as críticas em busca dos resultados que o diretor tentou nos mostrar.

Vamos analisar da seguinte forma. Os conhecedores e fãs de Romero já possuem um carinho e respeito pela obra dele. Diário dos Mortos acaba sendo apenas mais um filme nota seis do gênero, mas todo o currículo de Romero faz com que a produção pareça ser maior. Mas é bem provável que, para um público fã de remakes onde zumbis correm como se fossem maratonistas, Diário pode ser visto como uma obra maçante e até chata, o que está longe de ser verdade.

Estilo

O filme possui boas situações, como a introdução, além dos momentos nos quais o grupo está no trailer seguindo viagem. Alguns zumbis são “mortos” de forma bem criativa e visualmente interessante, como quando um dos estudantes joga ácido no crânio do defunto. Na verdade, talvez o principal problema de Diário dos Mortos seja o formato que Romero escolheu para contar a sua trama. Utilizando a ideia de documentário, imortalizado com A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), os estudantes vão gravando e narrando cada um dos acontecimentos.

É interessante observar que aqui estamos diante de um produto que foi editado pelos sobreviventes e que até trilha sonora possui. No entanto, o problema é que o material ficou profissional demais e o que deveria ser a carta da manga de Romero, quase passa despercebido. Tirando algumas cenas nas quais a câmera treme, quando a bateria precisa ser recarregada ou quando os personagens fazem menção às filmagens, é bem possível esquecer que estamos diante de um documentário.

Além de utilizar um equipamento muito profissional, Romero ainda conduz as imagens, e o áudio, de forma profissional. Em uma cena em especial, um dos estudantes foi atacado, está no chão, a beira da morte, mas consegue segurar, sem tremer, a pesada câmera. Tudo bem, nós sabemos que existem equipamentos com redutores de impactos, mas se a proposta era um filme que desse a ideia de realidade, faltou um pouco mais do espírito da Bruxa de Blair aqui.

Existe um outro elemento que, embora não seja necessariamente uma crítica, merece ser abordado em Diário dos Mortos. Mesmo não sendo considerados sequências oficiais, os quatro filmes famosos de zumbis que Romero dirigiu no passado possuíam ligações temporais nas suas histórias. Em A Noite dos Mortos-Vivos, temos um aparente caso isolado no interior dos Estados Unidos. Em O Despertar dos Mortos, o problema já chegou até as grandes cidades, enquanto em O Dia dos Mortos, o mundo já está dominado por zumbis, enquanto grupos de sobreviventes vivem em esconderijos. Em Terra dos Mortos, os humanos já se acostumaram com a presença dos mortos e ambos parecem caminhar para uma co-existência. Infelizmente, Diário dos Mortos não segue essa linha no tempo e zera os acontecimentos.

Mensagens

As obras de Romero já falaram, muitas vezes de forma alegórica, de racismo e da agressividade das pessoas, consumismo, militarismo e até das diferenças sociais. Em Diário dos Mortos, a crítica do diretor recai sobre a forma como a mídia controla a forma na qual as notícias são produzidas e passadas para a população. É interessante observar que Romero critica o próprio sistema de formação de notícias das grandes corporações e redes de televisão e coloca nas mãos de estudantes e blogueiros o papel de trabalhar com a verdade. Mais um ponto positivo para o nosso dinossauro, que neste aspecto, parece bem mais evoluído do que muita gente nova.

Outra crítica interessante é referente a quando a editora do documentário fala que colocou alguma trilha sonora para assustar as pessoas. É curioso como após essa informação, quem tiver assistindo ao filme vai ficar claramente ligado no trabalho feito “pela estudante”. Afinal, qual é o objetivo de um filme de terror, se não o de assustar?

Uma questão interessante dos filmes de Romero é que os personagens geralmente fogem do estereótipo de grande parte das produções do gênero. Desde a conclusão de A Noite dos Mortos-Vivos, é sempre bom reforçar essa boa característica no trabalho do criador dos zumbis no cinema moderno. Em Diário, também vamos nos deparar com alguns personagens bem interessantes, com destaque para um simpático surdo que, infelizmente, é mal aproveitado.

Mas no saldo final, Diário dos Mortos é um filme que merece ser conferido. Se não é nenhuma grande obra prima, ao menos serviu para satisfazer os fãs de Romero enquanto aguardavam Ilha dos Mortos. O filme acompanha um grupo de sobreviventes em uma ilha infestada por zumbis.

Curiosidades:

– George Romero faz, em Diário dos Mortos, uma participação especial como um policial presente em uma reportagem de TV. Stephen King empresta sua voz como um locutor de TV, assim como o ator Simon Pegg, de Todo Mundo Quase Morto. Quentin Tarantino, Wes Craven e Guillermo Del Toro também fazem locutores de TV.

– As filmagens duraram 23 dias.

– O documentário tem o título de The Death of Death.

– Tom Savini, maquiador de O Despertar dos Mortos, diretor do remake de A Noite dos Mortos-Vivos (1990) e grande amigo de Romero, faz uma participação como um locutor de rádio que adverte sobre abater os zumbis com um tiro na cabeça.

– Uma das estudantes menciona que “antes, a batalha era de nós contra nós e que agora é de nós contra eles, mas que eles são nós”. A frase é semelhante a da personagem Barbra no remake de A Noite dos Mortos-Vivos, na qual ela fala “nós somos eles e eles são nós”.

ILHA DOS MORTOS (2009)

FICHA TÉCNICA

Gênero: Terror
Direção: George A. Romero
Roteiro: George A. Romero
Elenco: Alan Van Sprang, Amy Lalonde, Angela Brown, Anthony Cancelliere, Athena Karkanis, Brian Frank, Chad Camilleri, Craig Dawson, Curtis Parker, Dan Belley, Devon Bostick, Dru Viergever, Eric Woolfe, George Stroumboulopoulos, Hardee T. Lineham, Heather Allin, Ho Chow, James Dunn, Jerry Schaefer, John Fleming, John Healy, Joris Jarsky, Joshua Close, Joshua Peace, Joyce Kirkconnell, Julian Richings, Kathleen Munroe, Kenneth Welsh, Kevin Rushton, Kristina Miller, Marqus Bobesich, Matt Birman, Michael Felsher, Michael Rhoades

SINOPSE

Em um mundo devastado por mortos-vivos, um grupo de soldados mercenários descobre a existência de uma ilha que promete segurança para aqueles que ainda não foram infectados pela epidemia de zumbis. No local isolado, duas famílias rivais lutam há gerações pelo domínio da ilha. Uma delas é favorável ao extermínio das aterrorizantes criaturas; a outra, prevere preservá-los até encontrarem a cura. Com a chegada dos forasteiros, a tensão entre elas cresce e a manifestação de zumbis se torna cada vez mais incontrolável.

ANÁLISE

Na trama duas famílias rivais disputam o poder na Ilha Plum, de um lado os O’Flynn que acreditam que um zumbi bom é um zumbi morto, enquanto que os Muldoon optam por querer reeducar os mortos-vivos para mantê-los “vivos” até que surja uma cura. No embate, Patrick O’Flynn (Kenneth  Welsh) é  expulso da ilha e tenta sobreviver fora dela, até que surge a oportunidade de voltar com o encontro com mercenários dispostos a expulsar os Muldoon da ilha.

A interessante premissa dava indícios que poderiam surgir uma boa história, com esse conflito novo de querer manter os entes queridos e outros querendo estourar os seus miolos. Mas o problema do filme é a falta de seriedade que ele se trata, jogando no lixo qualquer pretensão de susto, terror ou crítica social. 

Romero investe nos efeitos especiais que realmente são trash nesse filme, utilizando-os para mostrar “novas maneiras de se matar um zumbi”, mas visualmente ficaram de má qualidade. A trilha sonora é infantil e não induz em nenhum momento ao medo ou a tensão, apenas a comédia. Que nem isso é engraçado.

Infelizmente George A. Romero tentou ser engraçado, rendeu-se aos efeitos especiais digitais ruins e pensou estar competindo com filmes como Zumbilândia (2009).

 Se o diretor clássico de zumbis não voltar para suas origens, ou ao menos manter-se fiel a concepção dramática de Terra dos Mortos (2005) e Diário dos Mortos (2007), a Era Romero terá um fim.  A Era, não o legado, que seja bem entendido.


REFILMAGENS E SUAS CONTINUAÇÕES

NOITE DOS MORTOS VIVOS (1990)

FICHA TÉCNICA

1990 / EUA / 92 min / Direção: Tom Savini / Roteiro: George A. Romero / Produção: John A. Russo, Russell Streiner; Christine Forrest (Produtora Associada); Menahem Golan, George A. Romero (Produtores Executivos) / Elenco: Tony Todd, Patricia Tallman, Tom Towles, McKee Anderson, William Butler, Katie Finneran

SINOPSE

Idem (NOITE DOS MORTOS VIVOS - 1968)

ANÁLISE

A palavra REFILMAGEM é suficiente para causar certa ojeriza nas pessoas. Quando se usa o termo REFILMAGEM para talvez o mais importante filme de horror de todos os tempos, o responsável pelo surgimento do cinema de terror americano moderno, uma obra seminal dirigida por um jovem cineasta brilhante em inspirador início de carreira, a reação pode beirar o pânico.

É isso que talvez possa acontecer no caso de A Noite dos Mortos-Vivos, a atualização colorida do clássico de George A. Romero, dirigida por Tom Savini, lançada 22 anos depois do original. Mas, felizmente, podemos respirar aliviados, pois o trabalho não ficou aquém ao original, muito pelo contrário, consegue até superá-lo em determinados aspectos, por conta do avanço tecnológico, das possibilidades estéticas e do orçamento maior.

O que poderia ser mais um problema, afinal você pegar um clássico do “underground”, do cinema de terror independente, de autor, e colocar na mão de uma Columbia Pictures da vida, feito sob encomenda para uma restrição R, em tempos que os italianos redefiniram os rumos do gore na década passada, é um tanto quanto preocupante. Mas tranquiliza o fato de saber que Savini e Romero estão envolvidos, esse último, o pai do zumbi como conhecemos hoje, como produtor executivo e roteirista, baseado no seu próprio texto escrito com John Russo.

Outro fator é que Romero envolvido no projeto e dando o sinal verde sinaliza que de certa forma toda a preocupação artística e de conteúdo ficou para trás, lá em 1968, e a sua necessidade neste momento, e tanto quanto legítima, era ganhar dinheiro em cima de uma obra que ele recebeu praticamente nenhum tostão. Para quem não sabe, A Noite dos Mortos-Vivos original é de domínio público por conta de uma trapalhada dos produtores que deixaram de forma vexatória e amadora o aviso de direitos autorais de fora da cópia original. Então o remake foi feito sob medida para maximizar a rentabilidade e uma compensação financeira depois de tudo.

Fora isso, lá em 1990 vivíamos uma desconfiança sobre o zumbi, muito por conta da sua desconstrução e os caminhos cinematográficos que o morto-vivo percorreu durante os anos 80 (assim como o próprio cinema de terror em si). “Thriller” sepultou a reputação assustadora e pessimista dos cadáveres ambulantes e A Volta dos Mortos-Vivos serviu como o último prego do caixão, transformando-os em objetos da cultura pop, motivo de troça, que não metiam mais medo em ninguém. Então a missão de Savini, ainda mais com o título consolidado de mestre dos efeitos de maquiagem, era reinventar o zumbi mais uma vez, apelando para o acompanhamento de autópsias e estudos de corpos em campos de concentração para obter um alto grau de realismo e nos relembrar que aquilo são cadáveres dos nossos que voltaram à vida, e aquilo é sim digno de medo e asco.

E logo no primeiro momento em que os zumbis aparecem em cena, temos esse choque de realidade. Inicialmente por quebrar a expectativa, que em nossa cabeça, aquele momento em que Barbara (Patricia Tallman) e Johnnie (Bill Moseley) estão no cemitério (“The’re coming to get you, Barbra”) seria recriado em cópia carbono, mas não. Vemos inicialmente o morto-vivo passando direto com suas roupas rasgadas nas costas (tal qual os verdadeiros cadáveres são enterrados) e Johnnie sendo abruptamente atacado por outro zumbi, que lhe quebra o pescoço e dá início a escapada de Barbara em busca de proteção em uma casa de campo, onde irá encontrar Ben (Tony Todd) e seus demais ocupantes, o infame Harry Cooper (Tom Towles), sua esposa Helen (McKee Anderson) e sua filha infectada, Sarah (Heather Mazur), além do casal Tom (William Butler) e Judy Rose (Katie Finnerman).

A velha batalha por sobrevivência enquanto os zumbis tentam invadir o local pelas portas e janelas está ali, assim como a já famosa crítica social tão incisiva de Romero, amplificando tudo que há de pior na natureza humana em uma situação como essa, colocando desejos mesquinhos de liderança, controle e subserviência em primeiro plano, como uma ameaça muito maior do que os devoradores de cérebro e entranhas que se aglutinam à espreita. Mas há um detalhe interessantíssimo nessa releitura de personagens que recai sobre os ombros de Barbara. A questão racial tão explícita no original aqui é deixada de lado para dar lugar a questão de gênero. O feminismo toma conta como contexto principal da película, aumentando a importância do papel de Barbara e diminuindo de Ben.

Afinal estamos na década de 90, início da década do “Girl Power”, e um momento do próprio cinema em que a heroína forte e determinada estava em relevância, todas filhas de Ellen Ripley em Alien, O Oitavo Passageiro. A Barbara original era apenas uma garota histérica, indefesa, que passa grande parte do filme em estado de choque, chegando até a levar um tapa de Ben para que retorne à terrível realidade, enquanto a personagem de Patricia Tallman está bem no meio do fogo cruzado de uma crise de machismo e discussão ignorante entre Ben e Cooper, para metaforicamente ver quem tem o pau maior, ela toma as rédeas da situação de forma prática e racional (obviamente depois do choque, depois de desabar e tomar fôlego, juntar forças, tirar a saia e vestir algo mais propenso para a situação, pegar uma arma e tomar a iniciativa).

Na refilmagem de A Noite dos Mortos-Vivos, ela é a heroína, a protagonista, que entende a gravidade da situação de uma forma mais ampla, enquanto Ben é tão irresponsável e explosivo quanto Cooper, e ao mesmo tempo, ela percebe todo o problema social de uma volta à vida dos cadáveres (“Eles são nós e nós somos eles” é sua emblemática frase ao final). Enquanto a sociedade patriarcal da autoridade e abuso do poder vai ruindo a sua volta, tanto nas discussões intermináveis de onde é o local mais seguro da casa quanto no descontrole dos homens e suas armas de fogo com suas atitudes covardes, arrogantes e egocêntricas, ao final Barbara apenas racionaliza a situação e se lança a sobrevivência com eficiência, como uma mulher forte, independente, ativa e ciente de suas decisões.

O grande choque talvez seja a mudança do final, que obviamente não caberia nessa refilmagem, 
uma vez que as tensões raciais não estavam em grau de ebulição como no final dos anos 60, e não faria sentido o herói negro sobreviver, mas acabar sendo morto, mesmo que de forma acidental, por caipiras rednecks. Ben acaba se transformando em um zumbi, mas quando Barbara volta à casa, Cooper está vivo, mesmo depois dele e Ben terem trocado tiros em uma espécie de bangue-bangue sem sentido, e cabe a Barbara meter uma bala em sua cabeça, eliminando o verdadeiro vilão do longa e colocando abaixo aquela mentalidade misógina, aquela ordem patriarcal dominante que ele tanto defendia. Sem peso na consciência, afinal ali surgia um admirável mundo novo, ela apenas diz que ele havia sido transformado em zumbi.

A Noite dos Mortos-Vivos faturou mais de cinco milhões de dólares nas bilheterias americanas e acabou por agradar aos fãs. O trabalho seguro de Savini por trás das câmeras em seu debute, mesmo no meio de brigas com equipe, ressentimentos e o fato de Romero, pai da criança, não estar por perto (até por conta disso muito se percebe ser homenagem do diretor ao mestre), foi eficiente e mesmo com o banho de gore ficando de fora por tratar-se de um filme de estúdio e dos famigerados cortes do MPAA (que inicialmente deu uma classificação X) a fita e serve muito bem ao propósito de atualizar o grande clássico do horror para uma nova geração e resgatar a combalida reputação do zumbi.

MADRUGADA DOS MORTOS (2004)

FICHA TÉCNICA

Gênero: Terror
Direção: Zack Snyder
Roteiro: James Gunn
Elenco: Jake Weber, Michael Kelly, Sarah Polley, Ty Burrell, Ving Rhames
Produção: Eric Newman, Marc Abraham, Richard P. Rubinstein
Fotografia: Matthew F. Leonetti
Trilha Sonora: Tree Adams, Tyler Bates
Duração: 100 min.
Ano: 2004

SINOPSE

Refilmagem do clássico homônimo de George A. Romero. Ana é uma jovem enfermeira é atacada por um bando de zumbis que planeja dominar o mundo e atacar as pessoas. Ela consegue fugir e é resgatada pelo policial Kenneth. Juntos, conseguem encontrar um abrigo, onde há alguns sobreviventes. Inicialmente tudo se arranja nesse lugar, mas logo começa a faltar comida e energia. Os mortos-vivos tentam de tudo para invadir o local e eles têm de arrumar uma maneira de sair dali para continuarem vivos.

ANÁLISE

Quando não houver mais espaço no inferno, os mortos caminharão sobre a Terra

O cineasta George A. Romero tem seu nome eternamente associado ao Horror, principalmente pela sua famosa e cultuada série dos mortos, formada por A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of the Living Dead, 68), filmado em preto e branco, O Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 78), O Dia dos Mortos (Day of the Dead, 85), Terra dos Mortos (Land of the Dead, 2005), Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007) e Ilha dos Mortos (Survival of the Dead, 2009). Esses filmes estão entre o que há de melhor e mais significativo dentro do sub-gênero zumbis assassinos e famintos por carne humana, juntamente com uma série de produções italianas, principalmente aquelas sob a direção de Lucio Fulci (1927/1996), tendo como ápice o ultra violento Zombie Flesh-Eaters (79).

Da série de Romero, A Noite dos Mortos-Vivos já havia recebido uma ótima refilmagem em 1990 dirigida por Tom Savini, mais conhecido como um dos mais importantes profissionais da área de maquiagem do cinema de horror. Agora é a vez de O Despertar dos Mortos receber uma versão mais atual, nas mãos do diretor estreante Zack Snyder, e que chegou aos cinemas brasileiros em 23/04/04 com o nome de Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead), aproximadamente um mês depois de estrear nos Estados Unidos.

A história apresenta um grupo de pessoas que repentinamente se encontram isoladas num shopping center chamado Cross Roads Mall, em Milwaukee, no Estado americano de Wisconsin, após descobrirem que a humanidade está mergulhada num violento caos com os mortos famintos voltando a caminhar (ou melhor, correr) entre os vivos, à procura de carne humana fresca e macia. Uma praga desconhecida é a responsável por milhões de cadáveres tomarem posse do mundo, pois conforme a tagline principal (que está no topo desse texto), não há mais espaço para eles no inferno. Eles espalham a contaminação numa velocidade devastadora com as pessoas feridas em ataques de zumbis se transformando em novos integrantes de seu macabro exército de selvagens mortos-vivos.

Uma jovem enfermeira, Ana (Sarah Polley), é surpreendida por um ataque de zumbis em sua própria casa, onde a pequena garota Vivian (Hannah Lochner), sua vizinha, invade o quarto de dormir e morde mortalmente o pescoço de seu marido Luis (Justin Louis). Na fuga desesperada de carro, ela é interceptada por um policial, Kenneth (Ving Rhames), que faz o papel de um típico herói de ação de poucas palavras (e que foi feito por Ken Foree no original). Juntos eles conseguem fugir dos mortos-vivos canibais e encontram um pequeno grupo de sobreviventes formado por Michael (Jake Weber) e o casal Andre (Mekhi Phifer) e sua namorada russa Luda (Inna Korobkina), que está grávida com o filho prestes a nascer.

Sem lugar para ir, eles decidem se esconder no interior de um shopping, onde encontram três agentes de segurança igualmente isolados, o arrogante CJ (Michael Kelly) e os novatos Bart (Michael Barry) e Terry (Kevin Zegers). Mais tarde ainda se junta a eles outro grupo de pessoas em fuga num caminhão e que chegam a salvos no shopping, formado por Norma (Jayne Eastwood), Glen (R. D. Reid), Tucker (Boyd Banks), que está ferido na perna, o playboy rico e inconveniente Steve (Ty Burrell), um pai ferido numa das mãos, Frank (Matt Frewer) e sua filha Nicole (Lindy Booth), além da bela Monica (Kim Poirier), todos candidatos a se tornarem comida dos zumbis. O policial Kenneth descobre também um outro sobrevivente isolado num prédio vizinho, Andy (Bruce Bohne), dono de uma loja de armas e exímio atirador, com quem faz amizade e se comunica através de cartazes. Eles tentam sobreviver protegidos da ameaça dos mortos-vivos refugiados no interior do shopping. Porém, uma vez confinados num ambiente de total claustrofobia, sem saída e com o mundo lá fora transformado num inferno, eles precisam aprender a conviver também uns com os outros, numa tarefa igualmente difícil.

Quando a comida e a energia elétrica chegam ao fim, e os mortos começam a encontrar meios de quebrar as barreiras de defesa e invadir o interior do prédio comercial, os sobreviventes são obrigados a saírem tentando colocar em prática um plano de fuga que os levaria a uma marina e de barco até uma ilha no meio do mar. Só que para isso, eles terão que enfrentar a fúria assassina de uma imensa legião de cadáveres carnívoros e agressivos, que se concentram do lado de fora das portas do shopping, numa alusão à lembranças instintivas enquanto eram pessoas normais, fazendo-os se dirigirem a um local muito frequentado em vida. Mas, conforme questiona sabiamente uma das taglines do filme, como se mata o que já está morto? Em primeiro lugar, um fato que deve ser enaltecido certamente é a interessante tagline principal, muito apropriada e de grande impacto promocional, uma das mais sonoras frases de divulgação que eu já vi, e que é a mesma do filme original de 1978. E também o cartaz oficial dessa refilmagem, mostrando parcialmente um zumbi raivoso, no melhor estilo do anti-herói Ash da série The Evil Dead, quando possuído pelo demônio.

Segundo, eu confesso que desde o início da divulgação do projeto envolvendo uma refilmagem para Dawn of the Dead, eu não fiquei muito entusiasmado, principalmente pela possibilidade da produção de um filme que não respeitasse plenamente os conceitos do original. E assim como Halloween III: A Noite das Bruxas (83), que é um bom filme de horror que teve o equívoco de ser associado à franquia Halloween, cuja história não tem nada a ver com a saga do psicopata Michael Myers, e que funcionaria muito melhor se fosse um filme independente e com vida própria, esse Madrugada dos Mortos serve como mesmo exemplo. Ou seja, é um ótimo filme de horror e entretenimento dentro do sub-gênero zumbi, com boas doses de violência e sangue, numa história interessante com grandes momentos de ação e clima de suspense perturbador, mas que o ideal seria se fosse independente, não possuindo relações com o clássico de George Romero.

Não há problema algum em apresentar elementos novos como o fato dos mortos-vivos correrem com extrema agilidade, conferindo-lhes muito mais poder de destruição (algo similar já havia sido muito bem explorado em Extermínio/28 Days Later, de Danny Boyle). Mas como essa nova característica dos zumbis é oposta ao tradicional caminhar lento dos mortos da série de Romero, a refilmagem funcionaria melhor se não tivesse relações com o Dawn of the Dead original do final dos anos 70. Poderia ser um filme com outro nome, só que claramente inspirado na obra de Romero, evidenciando uma proposta de homenagem ao cineasta e sua trilogia dos mortos, mas tendo também liberdade criativa para apresentar seus conceitos próprios, como os novos zumbis dinâmicos, e uma história sem preocupação com críticas sociais (o original de Romero explora de forma bem mais acentuada a desenfreada sociedade de consumo dos tempos atuais, que venera um shopping como um centro comercial indispensável para a vida humana).


Mas como os produtores preferiram por questões comerciais insistir num remake utilizando a marca de sucesso Dawn of the Dead, resta a nós, fãs do Horror, assistir e procurar se divertir em mais um filme mostrando a humanidade em estado de total desordem, lutando pela sobrevivência num mundo em ruínas, dominado por mortos devoradores de carne humana. A história não perde tempo em tentar explicar a razão da origem dos zumbis, e parte logo para a apresentação de um caos urbano que espalha a loucura na humanidade. E não faltam cenas de grande impacto de violência e sangue, com muitas cabeças de mortos putrefatos explodidas à bala, mordidas que rasgam a carne, e até a presença de um inusitado bebê zumbi.

E entre os vários destaques, vale registrar duas excelentes tomadas aéreas muito bem produzidas, uma mostrando um incrível acidente de trânsito envolvendo dois carros que trafegavam em alta velocidade em fuga desesperada e que se chocam violentamente num cruzamento, e outra destacando uma imensa legião de zumbis invadindo uma estaleiro de barcos atrás da carne de alguns sobreviventes. Entretanto, o maior destaque mesmo foi o desfecho, numa iniciativa extremamente elogiosa do diretor Zack Snyder, filmando um final ousado e depressivo, típico de um filme digno do mais puro horror.

Porém, uma das coisas mais desagradáveis nesse novo Dawn of the Dead é algo que os produtores americanos não tem a menor culpa: o nome escolhido para distribuição no Brasil. Os responsáveis por nomear o filme por aqui demonstraram total falta de conhecimento em escolher o ridículo Madrugada dos Mortos. Eles não são obrigados a conhecerem o cinema de horror, mas deveriam, por respeito aos fãs verdadeiros do gênero, consultar especialistas no assunto ou fazerem uma simples pesquisa que resultaria no óbvio nome O Despertar dos Mortos, que foi o nome recebido por aqui do Dawn of the Dead original. Uma tarefa tão simples, mas que não é efetuada com competência no Brasil. Aliás, o filme de Romero teve três nomes originais alternativos: Dawn of the Dead, Zombie: Dawn of the Dead e Dawn of the Living Dead, e é por isso que também é conhecido no Brasil pelas respectivas traduções literais O Despertar dos Mortos (o mais utilizado), Zombie: O Despertar dos Mortos, e O Despertar dos Mortos-Vivos.

Curiosidades

A maioria das filmagens do novo Dawn of the Dead foram feitas num shopping center chamado Thornhill Square, no Canadá. Os atores Ken Foree, Scott H. Reiniger e Tom Savini estiveram presentes no filme original de 1978, só que em papéis diferentes que agora na refilmagem, onde todos fizeram pequenas pontas como homenagem, através de depoimentos pela TV, falando sobre o caos instaurado na Terra. Foree é um padre evangélico, Reiniger é um militar e Savini é um xerife. O próprio diretor Zack Snyder também aparece rapidamente em seu filme de forma não creditada, como um oficial de comando na Casa Branca. O cantor Johnny Cash também está presente com sua música The Man Comes Around, durante os créditos de abertura do filme. A censura nos cinemas brasileiros é de 18 anos, enfatizando a intensidade de violência da história. Outra ideia genial e que vale a pena permanecer na sala de exibição ao término do filme, é que nos créditos finais juntamente com os letreiros, aparecem imagens adicionais meio distorcidas, com informações reveladoras sobre o destino dos sobreviventes.

36 bilhões de pessoas morreram desde o reinado da humanidade. Para o novo amanhecer, haverá uma reunião…


DIA DOS MORTOS (2008)

FICHA TÉCNICA

Título Original: Day of the Dead
Ano: 2008 • País: EUA
Direção: Steve Miner
Roteiro: Jeffrey Reddick
Produção: Boaz Davidson, James Glenn Dudelson, Randall Emmett, George Furla, M. Dal Walton III
Elenco: Mena Suvari, Nick Cannon, Michael Welch, AnnaLynne McCord, Stark Sands, Matt Rippy Pat Kilbane, Taylor Hoover, Christa Campbell, Ian McNeice, Ving Rhames, Vanessa Johansson

SINOPSE

Refilmagem do clássico de George A. Romero, "O Dia dos Mortos" mostra as conseqüências de um ataque terrorista biológico na cidade de Leadville, que é isolada, sem poder ter nenhum contato com o mundo lá fora. Mas este ataque é apenas o começo do terror. Os infectados pelas toxinas se transformaram em zumbis que se alimentam de carne humana. Um grupo de sobreviventes se refugia em uma base militar, mas alguns podem ter se contaminado e as suspeitas e o medo crescem. Tudo piora quando o estoque de água e comida começa a se esgotar. A única maneira de sobreviver a este pesadelo é descobrir o antídoto para este mal antes que os mortos-vivos os capturem. Começa uma batalha pela vida, nos dias mais horripilantes que o mundo já teve.

ANÁLISE

George Romero é um cineasta consagrado, principalmente por seus filmes de zumbis. Ele dirigiu A Noite dos Mortos-Vivos (Night of the Living Dead, 1968), Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), Dia dos Mortos (Day of the Dead, 1985), Terra dos Mortos (Land of the Dead, 2005), Diário dos Mortos (Diary of the Dead, 2007) e A Ilha dos Mortos (Survival of the Dead, 2009) – todos com roteiros carregados de ultra violência e interessantes críticas sociais. Seus filmes inspiraram novas versões, algumas boas e outras péssimas.

Em 1990, o primeiro filme de Romero serviu de base para uma refilmagem de Tom Savini, que honrou a saga. Em 2004, foi a vez do segundo filme inspirar a produção de Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead), de Zack Snyder, que trouxe a novidade em tornar os zumbis velocistas e mais predadores e ferozes que de costume (esse filme não foi uma unanimidade positiva entre os fãs, mas eu pessoalmente gostei). Em 2005, os oportunistas e incompetentes Ana Clavell e James Glenn Dudelson dirigiram uma bomba chamada Dia dos Mortos 2: O Contágio (Day of the Dead 2: Contagium), uma tranqueira que usou o título do filme de Romero. Continuou, na verdade , o clássico. E em 2008 chegou a vez da refilmagem Dia dos Mortos (Day of the Dead), de Steve Miner, uma produção da Nu Image, conhecida pelos péssimos filmes de seu catálogo.

O fato de ter a direção de um cineasta habituado ao horror como Steve Miner (Sexta-Feira 13 partes 2 e 3, A Casa do Espanto, Warlock – O Demônio, Halloween H-20, Pânico no Lago) não trouxe credibilidade ao projeto, pois o filme é um lixo dispensável que não acrescenta nada à mitologia dos zumbis nem aos filmes de George Romero. A melhor palavra que o define é clichê, com um elenco amador, e um roteiro assinado por Jeffrey Reddick que é uma ofensa à inteligência do público, com piadas idiotas e personagens fúteis e descartáveis. Tem muito sangue, violência, corpos putrefatos, gosmas escorrendo para todos os lados. Porém, isso é absolutamente inexpressivo sem uma história com um mínimo de interesse. Fazer filmes violentos e repletos de mortos vivos devoradores de carne humana já é algo comum demais. A violência no cinema está se tornando banal, sendo necessário criar e oferecer algo adicional, mesmo que pequeno. Mas, definitivamente, o que menos o cinema americano tem para oferecer é criatividade. Como dinheiro fácil é o mais importante no pensamento dos produtores mercenários, a ideia é apostar em refilmagens descartáveis (outro exemplo é a onda de lançamentos de filmes americanos baseados nas boas produções orientais, a maioria com fantasmas perturbados).

Filmado na Bulgária, e com uma equipe imensa de produtores (característica da Nu Image), entre eles os picaretas Boaz Davidson, Avi Lerner e o já citado James Glenn Dudelson, a versão de 2008 de Dia dos Mortos é tão ruim que não merece mais do que poucas linhas para contar a história medíocre: uma dupla de soldados, Sarah Bowman (Mena Suvari), e o idiota Salazar (Nick Cannon, autor de piadas constrangedoras obrigando-nos a torcer por sua morte o mais dolorosa possível), se juntam a um casal de jovens fúteis, Trevor (Michael Welch), irmão de Sarah, e sua namorada Nina (AnnaLynne McCord), que demonstraram uma improvável habilidade com armas de fogo. O grupo tenta sobreviver a um ataque de mortos-vivos super ágeis (aqui a ideia tradicional de zumbis lentos também foi abandonada), infectados por uma doença desconhecida.

Existe a tentativa sem sucesso de apresentar alguns dos mesmos personagens do filme original de 1985, como Sarah, Salazar, o cientista Dr. Logan (papel agora de Matt Rippy), Capitão Rhodes (Ving Rhames, em péssima atuação), e até o zumbi Bub, que se transformou numa espécie de mascote desse sub-gênero do horror, mas que foi totalmente ridicularizado na refilmagem, interpretado por Stark Sands, um soldado mordido por um infectado. De uma maneira geral, o novo Dia dos Mortos tem pouquíssimas relações com o filme original de 1985, apresentando uma história excessivamente diferente e sem interesse, abusando da liberdade de criação artística (e nesse caso, de destruição artística, com uma história ridícula). Exagerando nos clichês, na gritaria e correrias desenfreadas, nos tiroteios ensurdecedores, convidando o espectador ao sono. Não consegue prestar nenhuma homenagem, não acrescenta nada e ainda desonra o universo ficcional dos mortos-vivos de George Romero. Já encheu o saco assistir filmes com infectados podres perseguindo os vivos, com exceção notável dos dois ótimos filmes da franquia Extermínio, da dupla de ingleses Danny Boyle e Alex Garland.

DIA DOS MORTOS 2 - CONTÁGIO (2005)

FICHA TÉCNICA

Título Original: Day of the Dead 2: Contagium
Ano: 2005 • País: EUA
Direção: Ana Clavell, James Glenn Dudelson
Roteiro: Ryan Carrassi, Ana Clavell
Produção: James Glenn Dudelson
Elenco: Laurie Baranyay, Stan Klimecko, John F. Henry II, Justin Ipock, Julian Thomas, Stephan Wolfert, Samantha Clarke, Joe C. Marino, Jackeline Olivier, Andreas van Ray, April Wade, Kevin Wetmore Jr., Mike Dalager


SINOPSE

Defenestrado por uma legião de críticos, pseudo-críticos e amantes de cinema ao redor do mundo (inclusive este que vos escreve), o cineasta alemão Uwe Boll já pode sair de casa de cabeça erguida, nariz empinado e com um largo sorrisão no rosto. Aconteceu o improvável, o impossível, o inimaginável: alguém conseguiu a “façanha” de fazer um filme de zumbis pior, mas muito pior que House of the Dead, a bomba de proporções bíblicas dirigida por Boll em 2001. No caso, dois incapazes mentecaptos, chamados James Glenn Dudelson (Jim Dudelson, para os íntimos) e Ana Clavell, uniram forças e fizeram Dia dos Mortos 2 – O Contágio, sem sombra de dúvidas a pior produção sobre mortos-vivos que já tive o desprazer de assistir.

Eu tinha prometido jamais escrever um artigo sobre Dia dos Mortos 2, até para não gerar curiosidade entre os fãs de horror – sempre tem aqueles que dizem: “Ah é? Pois vou assistir só para ver se é tão ruim como tu diz!“. Acredite: tudo que você já ouviu ou leu sobre a ruindade dessa produção paupérrima é verdade. Aliás, se dependesse de mim, todas as cópias existentes seriam rastreadas e queimadas (só que, parafraseando um comentário que li na internet, “queimar este filme seria um insulto ao fogo!“. hahahaha). E como a Anchor Bay fez o favor de lançá-la em DVD nos Estados Unidos, e o selo nacional Flashstar, por sua vez, trouxe a bomba para o Brasil – isso com tanto filme bom para lançar… -, me vejo na obrigação de defenestrar publicamente o trabalho de Dudelson e Clavell. Até como uma forma de me redimir por ter falado tão mal de House of the Dead na época do seu lançamento. Sim, porque perto da ruindade de Dia dos Mortos 2, o trabalho de Boll é um clássico, uma maravilha, poderia muito bem ser colocado ao lado dos clássicos de George A. Romero. Sem exagero. Depois de ver Dia dos Mortos 2, juro, passei a gostar de House of the Dead. Um filme injustiçado.

Dia dos Mortos 2 é um projeto que começou a tomar forma em 2003. Mas foi em 2004, com o lançamento do remake de Dawn of the Dead (o bem-sucedido Madrugada dos Mortos), que passaram a pipocar as notícias de uma improvável sequência para o Dia dos Mortos original, aquele dirigido por George Romero em 1985. Ironicamente, também em 2004, começou a produção da sequência oficial de Dia dos Mortos, que vem a ser Terra dos Mortos, do próprio Romero, lançado em 2005! Argh!!! Entendeu agora a confusão? Imagine então quem tem pouco conhecimento e confia nos títulos: vai pensar que Dia dos Mortos 2 é a verdadeira seqüência, e não Terra dos Mortos!!!

O que aconteceu é que a dupla Dudelson e Clavell obteve os direitos sobre o título “Dia dos Mortos“, podendo fazer o que bem quisessem com ele – não lembra a galera da Itália, tipo o Bruno Mattei, que chamou seu Shocking Dark de Terminator 2? Aliás, a julgar pelo nível de picaretagem de Dudelson e Clavell, não duvide se logo eles lançarem um Dia dos Mortos 3 ou um Dia dos Mortos – O Capítulo Final, de olho numa graninha fácil… O pior é que quando o projeto ainda estava em desenvolvimento, os produtores declararam que seria, ao mesmo tempo, uma “prequel” e uma sequência do clássico de Romero, além de um tributo à sua obra. “Cuma?“, perguntaria meu ídolo Didi Mocó. Como é que um filme pode ser “prequel” e “sequel” ao mesmo tempo? Tá certo que isso não é tão impossível, considerando que O Poderoso Chefão 2, de Francis Ford Coppola, contava as origens de Dom Corleone em flashback ao mesmo tempo em que continuava a trama da primeira parte. Mas longe de mim comparar O Dia dos Mortos 2 com O Poderoso Chefão 2!!! A verdade é que o filme de Dudelson e Clavell não é sequência porcaria nenhuma, embora até tente estabelecer algum vínculo como “prequel“.

O roteiro escrito por Ana Clavell simplesmente ignora os fatos apresentados em A Noite dos Mortos-Vivos e Dawn of the Dead (bela “prequel“, não é?), e tenta dar a sua própria justificativa para o surgimento da epidemia zumbi que devastou o mundo onde os personagens viviam no Dia dos Mortos original. Tanto que a frase no cartaz do filme diz: “Todo dia tem um começo“. Sentiu a responsabilidade dos caras? Eles não apenas quiseram reinventar o universo da franquia mais famosa do gênero “mortos-vivos“, como também dar uma explicação para o surgimento dos mortos, coisa que George Romero sempre evitou nas suas obras “oficiais“. Até aí, tudo bem. Só estou tentando entender como é que Dia dos Mortos 2 pode ser também uma sequência do original se os eventos mostrados na trama são obviamente anteriores à trama do Dia dos Mortos oficial… Enfim, não adianta queimar as pestanas tentando entender o que os produtores quiseram fazer: Dia dos Mortos 2 simplesmente não tem lógica nem relação com a obra de Romero (felizmente!), seja como “prequel“, como “sequel” ou como tributo. Mas porra, se os caras conseguiram os direitos sobre o título, será que não podiam pelo menos tentar fazer alguma coisa com um mínimo de relação com o original????

Enfim, vamos em frente: a história (se é que podemos chamar assim) começa em 1968, o mesmo ano em que foi lançado o clássico A Noite dos Mortos-Vivos, num instituto militar chamado Ravenside, na Pensilvânia. As portas do inferno se abriram sobre o local: enquanto médicos e enfermeiros cobertos de sangue tentam segurar na cama o que parece ser um paciente russo, mortos-vivos andam cambaleando pelos corredores do hospital, sem que ninguém pareça dar muita importância. Um enfermeiro chamado Dale DeLuca (Michael Moon) percebe que a coisa não vai bem e resolve se mandar dali. Antes, de curioso, afana um estranho cilindro metálico que estava num dos laboratórios, e o esconde no interior da garrafa térmica da sua marmita. Enquanto DeLuca escapa, o Exército chega ao local para “controlar a situação“. Ou seja: exterminar todo mundo e explodir o local. DeLuca também é morto e sua garrafa térmica, com o conteúdo secreto, cai no meio de um matagal, perdendo-se, aparentemente, para sempre. “Bum“, e lá se vai o instituto numa pavorosa explosão feita em computação gráfica.

Só através deste prólogo, que dura uns 10 minutos e antecede os créditos iniciais, o espectador já tem uma bela ideia do que esperar de Dia dos Mortos 2: qualidade cinematográfica zero, valor artístico inexistente e amadorismo total e completo de toda a equipe, dos atores à direção, do operador de câmera ao técnico de efeitos especiais, do responsável pelo cenário ao figurinista. Eu poderia gastar linhas e linhas descrevendo a quantidade de problemas e erros só nestes 10 minutos iniciais, mas, para não estender demais o artigo, nem estourar o saco do leitor, vou citar apenas os principais, e por alto:

– Numa cena em que aparece uma multidão de zumbis, apenas os quatro ou cinco em primeiro plano têm um mínimo de maquiagem (leia-se rosto pintado de cinza e sangue na roupa). Os outros todos são apenas pessoas “normais” fazendo cara de songomongo.

– Enfermeiras usam um uniforme dos mais clichês, com chapéuzinho branco e uma cruz vermelha bordada, coisa que nem em teatrinho de colégio devem utilizar mais…

– Os soldados têm pistolas modernas (isso que são soldados de 1968), e são armas de plástico, e não aquelas que disparam tiros de festim. Logo, vemos os soldados apontando as armas contra a câmera e disparando, BANG! O efeito sonoro sai, mas não o fogo pelo cano da arma! Os produtores nem se deram ao trabalho de adicionar um clarão por computação gráfica, ou pelo menos não filmar as armas tão em close, já que elas simplesmente não atiram! Tente segurar o riso…

– Um zumbi toma um tiro na cabeça e o sangue esguicha por trás dele na parede, mas não vemos nenhum buraquinho de bala na sua testa (a não ser que a bala tenha entrado pela narina, aproveitando o buraco já existente…

– Em todas as cenas de zumbis tomando tiros na cabeça, exceto a citada acima, percebe-se claramente que o sangue é atirado contra os figurantes, talvez com uma arma de paintball ou mesmo com uma mangueira. No momento mais grosseiro, percebe-se o esguicho de sangue falso atravessando a tela, vindo a vários centímetros, antes de atingir a cabeça do “zumbi“!!! Se quiser ficar com a barriga doendo de tanto rir, passe a cena em câmera lenta – dá até pra ver o “zumbi” fechando os olhos para não ser atingido pela meleca!

– Agarrado pelos mortos-vivos, um dos soldados se suicida com um tiro na cabeça. Ouvimos o som do disparo, mas, assim que aparece um close na cabeça do sujeito sendo devorado pelos zumbis, não se percebe qualquer buraco onde ele se deu o tiro! A não ser que o projétil tenha entrado pela orelha, lógico…

E por aí vai. O que importa é que, após os créditos, a trama dá um salto no tempo até os dias atuais, ou, mais especificamente, “cinco dias atrás“, conforme informa o letreiro. O local explodido no final do prólogo transformou-se em um hospital psiquiátrico, o Ravenside Memorial Hospital. Em um dos setores, a “Ala Romero” (uma homenagem a George A. Romero; tenho certeza que ele deve ter a-do-ra-do a citação!), convivem os pacientes menos perigosos, que estão em trabalho de ressocialização. Entre eles, os quatro amigos Boris (Steve Colosi), Sam (Julian Thomas), Jackie (John F. Henry III) e Isaac (Justin Ipock), este último um chato de galocha que nunca muda a expressão do rosto (parece estar em estado vegetativo); ele está para receber alta e passa o filme inteiro lendo em voz alta um livro sobre a morte (que original!). Isaac é apaixonado por Emma (Laurie Maria Baranyay, que, vejam só, foi “pintora de texturas” em O Exorcista – O Início!!!), uma maluquinha que tentou o suicídio várias vezes, e ambos sonham em casar. Também existe um médico boa-praça do tipo amigão, que dorme, come e convive junto com os pacientes, o dr. Donwynn (Stephan Wolfert, que parece um Luciano Huck envelhecido, inclusive no narigão).

Certa tarde, Donwynn leva os quatro malucos anteriormente citados para recolher lixo num bosque próximo ao hospital – sim, aparentemente o trabalho faz parte das atividades terapêuticas do manicômio. E Sam encontra a tal garrafa térmica perdida por DeLuca no início do filme. Acredite se quiser, mas o negócio está jogado na superfície, coberto por meia dúzia de galhos, e, mesmo assim, em 40 anos ninguém encontrou-a antes!!! Pior que tal fato, apenas o detalhe de Sam ficar obcecado em abrir a garrafa, cuja tampa está enferrujada. Quer dizer, o que será que o sujeito espera encontrar numa velha garrafa térmica enferrujada além de café frio feito 40 anos antes ou água suja? Num daqueles clichês típicos do gênero, Isaac fica apreensivo: “Alguma coisa ruim vai acontecer se abrirem isso“, diz (será um parente distante do Crazy Ralph, da série Sexta-Feira 13?). Alheio à recomendação, Sam leva seu “precioso achado” de volta para o hospital e, na madrugada, o invejoso Jackie afana a garrafa térmica e se esconde no banheiro, onde abre o recipiente e encontra o cilindro escondido por DeLuca em 1968. Chegam seus amigos, mais o dr. Donwynn e Emma, e então o cilindro cai no chão, libertando uma misteriosa substância em forma de bolinhas coloridas flutuantes (leia-se “péssimo CGI“). E você que sempre imaginou mil-e-uma mirabolantes teorias para o surgimento dos mortos-vivos da série criada por Romero, hein? Pois, segundo o brilhante roteiro de Ana Clavell, tudo começou com um idiota sentado no vaso do banheiro e uma garrafa térmica enferrujada! Argh!!!!!!!!!!

Bem, o que importa é que todos os que estavam no banheiro foram imediatamente contaminados pelo misterioso vírus do cilindro. E, no dia seguinte, eles acordam doentes, com os olhos pretos e a pele descascando. Espere só para ver o “efeito especial” (ou será defeito especial?) da pele descascando: sabe quando você passa cola branca Tenaz na mão e deixa secar, e depois arranca devagarzinho aquela fina camada de cola dura? Pois é, foi assim mesmo que os caras fizeram no filme! Puxa, os efeitos especiais devem ter custado uma fortuna! Cola branca Tenaz é tão cara…

Ah, sim: além dos olhos pretos e da pele descascando, o principal efeito colateral da contaminação é que os seis infectados ficam conectados por uma espécie de “elo telepático” (argh!), à la Scanners, de maneira que um vê e ouve o mesmo que os outros, e se algum deles é ferido todos os outros sentem a mesma dor! Pode? Preocupado, Donwynn entra na internet e envia um e-mail para um pesquisador em busca de informações sobre o misterioso cilindro – tente resistir à tentação de quebrar a tela da TV quando o ator DITA o e-mail, de forma espaçada, para o espectador!!! Enquanto isso, o estado dos infectados vai piorando, com os doidões vomitando na hora do café e depois comendo o lanche misturado com vômito, como se nada tivesse acontecido – num momento digno de Fome Animal. Nesta cena, também percebemos como os médicos do hospital se importam com seus pacientes, já que eles estão literalmente apodrecendo vivos e vomitando na própria comida, mas nenhum médico vai checar o estado dos sujeitos! Assim, logo logo eles estarão espalhando a contaminação, quando Emma morde um enfermeiro abusado chamado Marshall (Joe C. Marino).

Entra em cena o Dr. Heller (Andreas Van Ray), médico-chefe do manicômio. Ele percebe o que está acontecendo e imediatamente se lembra do episódio de 1968; por isso, resolve entrar em contato com o Exército. Mas depois pensa melhor e tenta cuidar ele mesmo da situação, colocando o hospital em quarentena e dando ordens para que os guardas atirem na cabeça dos pacientes caso eles se rebelem. Só que, mesmo com a quarentena, mesmo com os guardas armados e mesmo com o caos instalado no local, eis que de repente surge o contato de Donwynn pela internet e entra calmamente no hospital, sem precisar se identificar para ter acesso à ala dos pacientes nem nada disso!!! O sujeito se chama Jerry (Kevin Wetmore Jr.), e vem a ser filho do enfermeiro DeLuca, aquele morto no começo – quer dizer, qual a probabilidade disso acontecer na vida real? Apesar da cara de nerd, Jerry sabe tudo sobre o acontecido em 1968 e sobre o vírus, que deveria ser algo secretíssimo. Ele conta que o vírus reconstrói o DNA humano em um novo formato, e que foi obtido através de um piloto russo abatido lá na década de 60. Entram imagens em flashback que praticamente repetem tudo aquilo que vimos no prólogo. Talvez Dudelson e Clavell pensem que todo mundo é idiota como eles, por isso precisam explicar tudo tintim por tintim…

Então, só resumindo, para que vocês tenham uma ideia do roteiro delirante (no mau sentido) escrito por Ana Clavell, existem três tipos de criaturas. Aquelas diretamente infectadas pelo vírus (Isaac, Emma e seus companheiros), que vão se transformando lentamente em zumbis devoradores de carne humana, porém capazes de raciocinar e falar. As pessoas mordidas diretamente pelos infectados anteriormente citados transformam-se em criaturas híbridas, uma espécie de zumbi-mutante (!!!), com a pele toda deformada e o mesmo apetite por carne humana, mas mais força, agilidade e até alguma capacidade de fala e raciocínio. 

Por fim (está acompanhando?), a terceira classe de criaturas são os zumbis burros e pouco ágeis mais tradicionais, que não falam e nem pensam, e são aquelas pessoas mordidas e/ou feridas pela segunda categoria de criaturas, os zumbis-mutantes. Entendeu ou vou ter que explicar tudo de novo? Aliás, se você achar essa explicação complicada, espere só até ver como a ideia é apresentada no filme!!! E espere só para ver os tais “zumbis que raciocinam“, e devoram carne humana enquanto conversam animadamente e fazem gracinhas. Aaaaaaaaargh!!! E eu que me queixava dos zumbis maratonistas de Madrugada dos Mortos…

O roteiro enrola durante mais de uma hora até finalmente colocar os zumbis em cena. Durante a maior parte do tempo, ficamos acompanhando as transformações nos seis personagens centrais, aqueles diretamente infectados pelo vírus quando o cilindro foi aberto. E o enfermeiro Marshall, que foi mordido por Ema, se transforma lentamente no tal zumbi mutante e deformado. Quando o monstruoso Marshall escapa da cela onde estava confinado, é ele quem espalha a praga que dá início a uma horda de mortos-vivos ao estilo tradicional (ou seja, mudos e cambaleantes), mas isso só acontece… segure o riso… aos 80 minutos de projeção!!! Até então, o espectador é bombardeado com enfadonhas cenas pretensamente dramáticas, como a relação amorosa entre Isaac e Emma e o amor lésbico que outra paciente, Patty (April Wade), nutre pela jovem; a misteriosa gravidez de Emma desde que ela foi infectada pelo vírus (não adianta tentar entender, o roteiro não explica tal fenômeno); e os conflitos entre o “doutor gente boa” Donwynn e o “doutor carrasco nazista” Heller.

E quando você acha que o roteiro não pode ficar pior, ele avança empilhando mais e mais abobrinhas, como uma vacina para curar a zumbificação e o fato do grupo de seis infectados pelo vírus se dividir, com uma parte assumindo sua porção vilanesca (e passando a matar para comer carne humana), e a outra parte mantendo seu “lado humano” e lutando contra os agora malvados ex-companheiros!!! Argh!!!!!!!!! Dudelson e Clavell deveriam ser enforcados em praça pública só pela cena em que os infectados-malvados agarram os infectados-bonzinhos gritando: “Somos uma grande família!“. Ninguém merece… E olha que o roteiro até tem um detalhe muito interessante: enquanto na maioria das produções sobre mortos-vivos a história é focada nos humanos que fogem dos zumbis, este aqui prefere enfocar o drama dos infectados transformando-se lentamente em mortos-vivos, e tendo até que resistir à vontade de devorar carne humana. Pena que a ideia é trabalhada de forma tão precária e chinfrim…

Resumindo a ópera, Dia dos Mortos 2 acaba com o contágio saindo do hospital psiquiátrico e se espalhando pelo mundo, o que de certa forma justificaria o planeta devastado que vemos no Dia dos Mortos original. A última cena chega a ser patética e quase cômica: uma equipe de TV filma os zumbis avançando pela rua e não consegue correr a tempo, sendo devorada pelos mortos, enquanto a câmera cai no chão e deixa de transmitir (A Bruxa de Blair, alguém?). E convenhamos: tem que ser muito burro para filmar mortos-vivos em close ao invés de ficar bem longe dele…

Se tivesse qualquer outro título – como Hospital dos Mortos-Vivos -, talvez Dia dos Mortos 2 seria apenas um filmeco medíocre e descartável, daqueles que a gente vê e logo esquece, amaldiçoando todos os envolvidos. Mas é a picaretagem dos responsáveis, tentando forçar um elo de ligação com o filmaço de George A. Romero, que choca e incomoda – até porque essa porcaria está mais para Um Estranho no Ninho do que para a franquia dos mortos concebida por Romero. Será que o mundo precisava de uma bomba com o nome Dia dos Mortos 2 só para difamar a fantástica obra de Romero? Será que os fãs de horror precisavam saber que existe um Dia dos Mortos 2, e que muita gente desavisada vai alugar pensando realmente estar diante de uma sequência oficial do clássico de 1985? Será que as locadoras precisavam de mais um filme ruim de zumbis para empilhar nas prateleiras? Simplesmente não existe justificativa para tamanha atrocidade, tamanho amadorismo cinematográfico.

Aliás, a ruindade transpira em cada frame de Dia dos Mortos 2, me fazendo pensar seriamente se não foi mal-feito de propósito. Os produtores alegam ter gasto 9 milhões de dólares nesta bomba, 40% da bolada nos efeitos especiais, mas não se vê nada disso na tela, e sim uma produção mambembe, que parece ter sido filmada na garagem de alguém, com maquiagem constrangedora e uma total ausência de efeitos elaborados e cenas mais violentas. A maquiagem dos zumbis, com raríssimas exceções, é bisonha, resumindo-se ao rosto do figurante pintado de cinza com meia dúzia de feridas feitas com látex. As cenas de violência são castas e tímidas, limitando-se aos tiros na cabeça (todos mal-feitos) e ao rápido take de um zumbi arrancando as tripas de uma vítima – saudades de Tom Savini… Sinceramente, já vi produções nacionais amadoras, filmadas direto em vídeo, com efeitos bem melhores e mais convincentes. Inclusive as obras do catarinense Petter Baiestorf, feitas no fundo do quintal dele, parecem superproduções de Steven Spielberg perto de Dia dos Mortos 2. Duvido que a produção tenha custado mais de 500 mil dólares, e alguém deve estar muito feliz gastando os milhões desviados do orçamento…

Novamente, não vejo necessidade de entrar em muitos detalhes sobre a ruindade do filme, mas certos detalhes precisam ser destacados. Um deles é o fato do operador de câmera sofrer de epilepsia. Não tenho nada contra “câmeras que sacodem“, desde que o efeito seja bem utilizado . Em Dia dos Mortos 2, entretanto, a câmera não sacode para criar tensão ou ação, mas sim porque o operador é um jumento que não tinha um tripé à disposição! A edição é amadoríssima, abusando de cortes rápidos nas cenas de violência para que o espectador não possa ver como os efeitos especiais e a maquiagem são ruins – mas não funciona, porque mesmo assim podemos ver a pobreza estampada em cada cena. E o editor ainda cometeu um erro grosseiro: no meio do filme, em uma cena onde os pacientes estão tomando café da manhã, há um take de um aparelho de TV, e a tela está cheia de manchas de sangue; este take deveria ter sido mostrado apenas no final, quando os zumbis tomam conta do manicômio – ou será que um televisor todo manchado de sangue é algo normal num hospital psiquiátrico?

Ruim, chato e mal-feito, Dia dos Mortos 2 nem ao menos consegue ser engraçado. Lembra que no meu artigo de House of the Dead eu havia ficado revoltado com o fato de um dos zumbis assobiar “Love Me Tender“? Pois Dia dos Mortos 2 tem cenas ainda mais constrangedoras, com os zumbis fazendo piadinhas e, pasmem, até o símbolo da paz (com os dedos médio e indicador!!!). Arghhh!!!! E para não serem acusados de plágio, os produtores foram obrigados a cortar uma das principais cenas do final, aquela em que o bebê-zumbi de Emma nascia – pois já havia uma cena assim em Madrugada dos Mortos, que foi lançado antes.

É uma pena, portanto, que a edição lançada aqui pela Flashstar não traga nenhum extra: no DVD da Anchor Bay, tem uma faixa de comentário com James Dudelson e Ana Clavell que eu ADORARIA ouvir, só para saber o que esta dupla de jumentos têm a dizer sobre o desastre. Pois, veja só, numa entrevista que li com ambos, feita na véspera do lançamento do lixo em DVD nos Estados Unidos, Dudelson declarou-se inspirado em Hitchcock e Ana em Orson Welles!!! E disseram, também, não ligar para as críticas que tentaram macular seu “trabalho“!!! “Dia dos Mortos 2 foi, para nós, um trabalho feito com amor“, diz Clavell, “O filme enfoca temas adultos com um fundo social, e foi inspirado diretamente no terrível universo que George A. Romero criou.” Hahahaha. Alguém atire na cabeça dessa zumbi, pelo amor de Deus!!!!!

Porque, meus amigos, Dia dos Mortos 2 tem um efeito colateral gravíssimo: te faz ficar mais burro a cada vez que se assiste. E Dudelson e Clavell fez depois um novo pesadelo: Creepshow 3!!! Tenha medo, tenha muito medo…


NOITE DOS MORTOS TOSCOS (vivos na verdade, mas quis prestar minha indignação)

Minha vontade, honestamente, era nem mencionar estes filmes abaixo, mas como o objetivo da matéria é informar curiosos, então vamos lá.


NOITE DOS MORTOS VIVOS 3D (2006)

SINOPSE

Barbara (Brianna Brown) e o irmão Johnny (Ken Ward) chegam atrasados ao enterro de sua tia numa pequena cidade norte-americana. Já no cemitério, percebem que os mortos estão voltando à vida em forma de zumbis e acabam conseguindo abrigo numa fazenda da região.

FICHA TÉCNICA

Gênero: Terror
Direção: Jeff Broadstreet
Roteiro: Robert Valding
Elenco: Adam Chambers, Alynia Phillips, Brianna Brown, Greg Travis, Johanna Black, Joshua DesRoches, Ken Ward, Sid Haig
Produção: Jeff Broadstreet; Fotografia: Andrew Parke
Trilha Sonora: Jason Brandt; Duração: 80 min.




NOITE DOS MORTOS VIVOS -  RE-ANIMAÇÃO (2012)

SINOPSE

Gerald Tovar Jr. (Andrew Divoff) é hoje o dono da agência funerária que herdou de seu pai. Nascido e criado no mortuário, ele tem pavor à palavra ‘cremação’ e prefere fazer as coisas ao velho estilo de seu pai, em que os mortos devem ser enterrados com estilo. Só que Gerald esconde alguma coisa dentro da sala de cremação e não quer que os funcionários descubram o que é. Quando Harold (Jeffrey Combs), seu irmão que há anos não dava sinal de vida, decide lhe fazer uma visita e pedir uma grande quantia de dinheiro emprestada, Gerald acredita que seu irmão pode lhe ajudar. Ao contar a Harold que corpos que voltaram a viver estão escondidos no crematório, Gerald dá ao irmão o que ele precisava para tomar a herança da família e se desfazer da agência funerária. Para piorar, um dos zumbis escapa e é encontrado pelos funcionários. Agora, Gerald terá que lidar com os mortos, os vivos e também com os mortos-vivos se quiser continuar com seu negócio de família!

FICHA TÉCNICA


Gênero: Terror ; Duração: 144 Min ; Direção: Jeff Broadstreet ; Elenco:Andrew Divoff, Jeffrey Combs, Sarah Lieving , Denice Duff

NOITE DOS MORTOS VIVOS - RESSURREIÇÃO (2012)

SINOPSE

Neste filme A Noite dos Mortos-Vivos: Ressurreição download  Em 2012, os defuntos se levantaram de seus túmulos com um único instinto: se alimentar dos vivos. Enquanto estudiosos especulam a causa científica do fenômeno, teologistas apontam o Armagedom profetizado no Livro do Apocalipse. À medida que cidades são tomadas pela legião de mortos-vivos e a civilização sucumbe, uma família se refugia em uma fazenda isolada no oeste de West Wales. A maior ameaça, porém, já está entre eles.


FICHA TÉCNICA

Título Original: Night of the Living Dead: Resurrection
Ano: 2012 • País: UK
Direção: James Plumb
Roteiro: Andrew Jones, James Plumb
Produção: Andrew Jones
Elenco: Sarah Louise Madison, Sabrina Dickens, S.J. Evans, Rorie Stockton, Richard Goss, Sule Rimi, Kathy Saxondale, Johnathon Farrell, Mel Stevens, Lee Bane, Aaron Bell

NOITE DOS MORTOS VIVOS - ORIGENS (2014)

FICHA TÉCNICA

Dirigido por: Zebediah De Soto


SINOPSE

Um grupo de sobreviventes presos em um apartamento de New York luta para se manter vivo contra legiões de zumbis.

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