No dia 11 de julho de 1973, falecia Robert Ryan. Era um ator de Hollywood muito admirado pelos grandes críticos de cinema do mundo todo, e foi ator preferido de grandes cineastas renomados e respeitados da Sétima Arte, como Robert Wise, Nicholas Ray, e Anthony Mann - e suas performances na tela variavam desde heróis a vilões, se notabilizando principalmente nas atuações destes tipos, em filmes tensos que abordavam o submundo, destacando-se nos criminais “noir”, em papéis de homens durões, frios, calculistas, e preconceituosos. Entretanto, em sua vida real, foi um lutador pelos direitos humanos, um liberal ativo, que segundo ele mesmo, “se transformava para fazer seus papéis”. Seu nome verdadeiro era Robert Bushnell Ryan, nascido a 11 de novembro de 1909, em Chicago.
Na lista dos filmes que assisto, estão MAIS LONGO DOS DIAS (1962), BATALHA NO INFERNO (1965), OS DOZE CONDENADOS (1967), OS PROFISSIONAIS (1966).
Filho de um irlandês católico que trabalhava como executivo na área comercial, e de uma mulher que era descedente de ingleses, o jovem Ryan era uma criança tímida e nunca perdeu essa qualidade por completo - mesmo depois de se transformar num futuro astro de Hollywood. Aos 8 anos, seu irmão mais novo morreu, lembrança cruel que o carregou até o fim de sua vida. Aos 26 anos, seu pai morre em conseqüência de uma batida de carro. Decidiu então entrar para uma academia de Boxe, e seu objetivo, era continuar os estudos para ingressar na faculdade, o que ele conseguiu. Lá, ele conquistou vários títulos como campeão amador de peso-pesado de Boxe. Seu gosto era pela literatura, e tinha intenção de se formar em jornalismo.
Entretanto, com a chegada do ano de 1929, o fatídico ano da depressão, com a queda da bolsa de valores de Nova York, Ryan se recusava a entrar para a área comercial de seu pai, por isso, ele engrenou em vários trabalhos, como folguista de navios, Guarda-Costa, vaqueiro, modelo fotográfico, e até cobrador de dívidas. Um amigo de sua mãe lhe deu uma nomeação no Serviço Público Municipal de Chicago, mas um investimento de sorte com petróleo permitiu Bob Ryan a procurar treinamento profissional em arte dramática. Ryan decidira ser ator quando um fotógrafo, que havia feito alguns ensaios de Robert como modelo fotográfico, achou que ele era fotogênico e que correspondia bem as câmeras, e que ele poderia, influenciado por seu porte atlético graças aos anos dedicados ao Boxe e a outros esportes conseguir fazer carreira no cinema. Ryan media 1m93 de altura.
Logo Bob foi para a Califórnia matricular-se no Playhouse de Pasadena, mas preferiu a Oficina Teatral de Max Reinhardt, uma das mais respeitadas em Hollywood. Lá, conheceu a aluna Jessica Cadwalader, com quem se casou em 1939, e que se tornaria sua companheira até o falecimento dela, em 1972. Jessica fez poucos trabalhos como atriz de cinema, preferindo ingressar na área de pedagogia e ensino, publicando livros infantis, e até histórias de mistério. Logo começou a trabalhar já como ator profissional, em filmes musicais, mas eram papéis pequenos, ganhando $75 dólares por semana. Começou a fazer algumas películas na Paramount, mas esta não se impressionou com o jovem ator de 30 anos, que ao contrário do que diria aquele fotógrafo que recomendou Ryan para o cinema por possuir fotogênia - a Paramount não o achou nada fotogênico, e que não se enquadrava as câmeras.
Ryan viu oportunidade no teatro. Sua primeira peça intitulou-se Um beijo de Cinderela, contracenando com Luise Rainer. O ex-marido dela, Clifford Odets, vendo-o na peça, viu nele uma presença viril que pudesse atrair o público feminino, e lhe ofereceu o papel de um jovem amante na peça Só a Mulher Peca(Clash By Night), na Broadway, e logo, foi visto nesta peça por Peter Lorents, executivo da RKO. Feito os primeiros testes neste estúdio, Bob foi aceito, e logo assinou um contrato, ganhando inicialmente, $600 dólares por semana. Seus primeiros trabalhos na RKO foram películas de guerra, que serviam praticamente como propaganda americana durante a II Guerra Mundial, como Bombardeio(1943), como um jovem estudante da força aérea, contracenando com Randolph Scott.
Em 1944, Robert Ryan se juntou ao serviço de guerra, alistando-se nos fuzileiros navais. Sua carreira em Hollywood foi ligeiramente interrompida pela Segunda Guerra Mundial. Por dois anos , Bob trabalhou como um instrutor no Corpo de Fuzileiros Navais, no acampamento do Capitão Pendleton. Testemunhou os efeitos psicológicos daqueles que combateram no Pacífico, e o difícil retorno daqueles que tentavam voltar a vida cívil. Prestou auxílio aos feridos e aleijados, e viu o horror atras do olhar assombrado dos que tinham vivido os eventos e a crueldade da Guerra, deixando seus camaradas, mortos em batalha, para traz. Isto fez com que, futuramente, Ryan se dedicasse mais as causas humanas e sociais.
Com o fim da II Guerra, Ryan voltou as telas, chegando ao ápice de sua atuação, onde teve seu melhor desempenho e papel até então, como um policial da Guarda Costeira que se apaixona por Joan Bennett, e ambos combinam matar o marido cego desta, no clássico A Mulher Desejada/The Woman on The Beach, de Jean Renoir, também 1947. A partir deste momento, eletrizou platéias com a claustrofobia noir que muito identificou o ator, que se seguiria como o psicopata assassino e anti-semita procurado pela polícia em Rancor/Crosfire, de Edward Dmytrik, que lhe deu sua única indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante, em 1947.
Depois, veio o herói trágico em Punhos de Campeão/ The Set-Up, de Robert Wise (1914-2005), em 1949, interpretando Bill "Stocker" Thompson, um veterano boxeador que quer largar o Boxe, mas para isso, ele quer vencer sua última luta. Depois de várias derrotas consecutivas, sua esposa, Julie, apela para que ele desista do campeonato, mas ele não atende. Seus promotores foram corrompidos pela Máfia do Boxe, e Thompson ignora ser seu dever perder a luta para um lutador mais jovem, patrocinado pelos mafiosos. Seguido em sua determinação de vencer, depois de muitos assaltos, Thompson finalmente ganha a luta, mas ignora o envolvimento de seus patrocinadores com os mafiosos até o último momento, quando eles combinaram entre si que Thompson deveria perder a luta, sem com isso, sequer avisá-lo. Na saída, Thompson é cercado pelos mafiosos, e tem suas mãos esmagadas por eles. Mesmo ferido e alquebrado, Thompson volta para casa, onde sua esposa a aguarda ansiosa, mas mal conseguindo ele caminhar em direção a porta, e cambaleante, cai em plena calçada. Da janela, Julie o vê, e sai em sua direção, acudindo-o. No fim, Thompson diz a esposa: Eu venci, Julie...eu venci. E ela responde: Sim, querido, nós vencemos esta noite...nós vencemos. Um dos melhores filmes de Boxe da história do Cinema. Aqui, Bob Ryan usou, sem o recurso de dublê, sua experiência como boxeador, sem precisar de aulas de pugilismo e segundo o diretor da fita, Robert Wise, foi um de seus filmes que menos deu trabalho a ele, por não exigir aulas de pugilismo ao ator principal, pois Bob Ryan havia sido campeão de boxe amador.
A Crítica Eileen Bowser realçou notas do filme Punhos de Campeão(“The Set-Up’’). Estas notas estão hoje preservadas no Museu de Arte Moderna de Los Angeles."O filme “The Set-Up” é poupado de qualquer lirismo, sobre o submundo e a humanidade tão baixa, revelada no soberbo desempenho de Robert Ryan. Tenho pouco a dizer. Thompson é tão ignorante e ignóbil quanto os outros boxeadores. Olhem seu rosto golpeado. É derrotado. Contudo, remanesce uma sensibilidade poética em seus olhos e em seu sorriso ocasional. Seus olhos estão sempre prestando atenção em volta do ringue, e o vemos constantemente fazendo isso enquanto espera o próximo assalto. Thompson tem bastante dignidade humana para recusar a corrupção, por isso ele sofreu uma brutal agressão, não mais importando com sua carreira medíocre no Boxe. Na extremidade, ele tem muito orgulho de si mesmo pela vitória ganha naquela luta, e não faz nenhuma avaliação da conseqüência dela" Parece que Robert Ryan foi esquecido por alguns críticos de filmes de hoje, mas decerto que ele deve ser lembrado nas telas como um dos mais expressivos rostos “noir” da Sétima Arte. Os fãs de cinema em geral pensam em Humphrey Bogart e Robert Mitchum. Este atuou ao lado de Robert Ryan em “A Estrada dos Homens sem lei” (The Racket), de 1952. Apesar de Mitchum fazer o herói da história, foi Ryan que se destacou e roubou quase todo filme, como um mafioso cruel e arrogante, e na opinião deste bloguista um dos mais odiosos vilões de todos os tempos vistos no cinema.
Para todos aqueles que acham que Robert Ryan era um excelente ator (e na minha opinião, era mesmo), com uma presença marcante e excepcionalmente intenso e pensativo nos filmes dos anos de 1940 até o início da década de 1970 quando ele morreu, recentemente foi descoberta uma carta, escrita de próprio punho pelo ator, descrevendo suas raízes em Chicago para seus três filhos: Cheyney (Hoje, um renomado Professor de Filosofia da Universidade de Chicago), Walker Tim, e Lisa Ryan. Ao longo do tempo, os papéis de homens angustiados e dolorosos, torcidos de uma raiva latente, tristeza e ódio, se tornaram quase que estereotipados para Ryan, desde sua brilhante interpretação como um soldado anti-semita e assassino que lhe deu sua única indicação ao Oscar de ator coadjuvante em Rancor/Crossfire.
Como o ator desenvolvia seu caráter nas telas, usando o estreitamento de seus olhos escuros, sem atender aos anseios da audiência. De aparência simpática, em seu instinto o soldado de “Crossfire” carrega dentro dele um mal estar que parece carregar para toda parte que vai a um RANCOR agudo, dedilhado como se fosse um amuleto. A Partir de então, Seu currículo de heróis e vilões continuou em: Nascida para o Mal, em 1951, contracenando com Joan Fontaine; O Melhor dos Homens Maus/The Best of the Badmen, no mesmo ano, com Claire Trevor; Horizonte de Glória/Flying Leathernecks, ainda em 1951, sua primeira parceria com o diretor Nicholas Ray, e antagonizando com John Wayne como um oficial americano humanista da Força Aérea Americana; Durante as filmagens, Ryan e Wayne não se “bicavam”, pois Wayne, como é de conhecimento geral, era um republicano radical, e que partia para discussões violentas com quem não compartilhava com suas visões políticas. Ryan ficava chocado com o apoio de Wayne com a lista negra do "Caça as bruxas".
Cinzas que Queimam/On Dangerous Ground de 1952, outro filme da parceria Ryan/Ray, onde Bob, novamente em seu estilo noir, oferece o melhor de sua atuação, na pele de um amargo policial que perde a noção de justiça, mas se rende ao amor da cega Ida Lupino. Nesta que considero a película “noir” mais bem elaborada já realizada, que precisou da “humanização” do ator para o grande público, que revelou ao mundo o quão bom ator ele era. Sua interpretação como o policial amargo e violento passou para a amabilidade, quando seu personagem se apaixona pela Ida Lupino, mesmo depois de sair e matar o irmão dela que era um bandido, é algo de quebrar o coração.
Em 1952, seu contrato com a RKO chegava ao fim, fechando com chave de ouro em um papel que ele havia desempenhado cerca de dez anos antes na Broadway: o de um amante cínico em Só a Mulher Peca/Clash By Night, atuando com Barbara Stanwyck e Paul Douglas, e a então iniciante Marilyn Monroe. Agora trabalhando independente de qualquer contrato de estúdio, trabalhou para diversos deles, como a Metro-Goldwyn-Mayer, e a 20th Century Fox, ele ainda participou em: Nas Garras da Ambição/The Tall Men, em 1954, com Clark Gable; Conspiração do Silêncio/Bad Day at Black Rock, de 1954 com Spencer Tracy; O Preço de um Homem/The Naked Spur, de1953, com James Stewart; Cidade abaixo do Mar/City Beneath of Sea, em 1953, com Anthony Quinn; Rastros do Inferno/Inferno de 1954, com Rhonda Fleming.
Entre 1957 e 1958 respectivamente, atuou como ator principal em dois filmes dirigidos pelo grande Anthony Mann, o cineasta de "El-Cid", de 1961.: Os que sabem Morrer/Men in War e O Pequeno Rincão de Deus/God's Little Acre. No primeiro, um vigoroso drama de guerra, interpretando o Major Benson, que durante a Guerra da Coréia, entra em conflito com seu sargento (interpretado por Aldo Ray), por cada um possuir um ponto de vista sobre a guerra. Benson luta por dever, mas seu sargento luta por instinto. No segundo, Ryan tem a experiência de interpretar um caipira ingênuo e simplório, que acredita ter um tesouro em sua fazenda. A atuação de Ryan pode parecer cômica, mas seu personagem é dramático em toda sua inocência. Vale conferir.
Em fins dos anos de 1950, Robert Ryan começa a atuar na televisão, sem preconeceitos como a maioria dos atores de sua época que viam no novo veículo uma ameaça para o cinema- e em filmes que iniciavam a dar seus primeiros passos na telinha, como O Grande Gatsby, em 1958, com Jeanne Crain, e As neves do Kilimanjaro, com Ann Todd. Em 1960, Ryan participou ativamente em peças teatrais. Uma delas, atuou ao lado da divina Katharine Hepburn, em Antonio & Cleópatra, de William Shakespeare, com Ryan e Hepburn, respectivamente, nos papéis títulos. Ficou em cartaz por meses seguidos.
Na década de 1960, Ryan iria filmar superproduções européias ou ao menos, produções americanas filmadas na Europa, como O Mais Longo dos Dias/The Longest Day, 1962, ambiciosa produção da 20ºCentury-Fox sobre o Dia D, baseado no romance de Cornelius Ryan (nenhum parentesco com o ator), no papel do Brigadeiro americano James Gavin, rodado em locações de Marselha, França; na Inglaterra, atuou em Billy Budd, também de 1962, como um sádico Mestre de Armas de um navio, onde o personagem-título(interpretado por Terence Stamp) é torturado física e psicologicamente. A película foi dirigida pelo sempre competente, extraordinário, e saudoso ator e produtor Peter Ustinov, que fez também a parte de interpretação como o Comandante do navio; e A Guerra Secreta/La Guerre Secrète, em 1964, com Henry Fonda e Vittorio Gassman, na Itália e na França.
Na Política, Ryan foi um democrata ativo, trabalhou para as boas relações entre as raças, e para o desarmamento. Ajudou a organizar e a dirigir um grupo de teatro na Universidade da Califórnia, e em 1951, Ryan, ajudado por sua esposa Jessica, fundou a Escola de Oakwood, com a missão de promover valores humanísticos. A escola, que foi aberta no quintal da casa dos Ryans, é considerada até hoje uma das melhores dos Estados Unidos. Fora do ambiente hollywoodiano, e vivendo bem modestamente, Ryan e Jessica educavam seus filhos dentro dos valores humanísticos, e a esposa de Ryan, uma educadora, juntamente com o marido, abriram um centro de aprendizagem que oferecia uma alternativa as escolas públicas que não tinham vagas devido a aglomeração, intitulado Escola de Oakwood, em 1951.
A escola foi aberta dentro do quintal de sua casa. Alguns vizinhos, de pensamentos conservadores e republicanos, não viram o projeto de Ryan e de sua esposa com bons olhos, e inclusive chegaram a pinchar as portas da casa do ator, com cruzes, e ofensas, chamando-o de "comunista".Ryan era avesso a badalações hollywoodianas, e mesmo ganhando rios de dinheiro, preferiu levar uma vida modesta com sua família, ao invés de outros astros de seu tempo, que preferiam morar em mansões de Beverly Hills. Decerto que suas ações nas telas, na personificação de vilões e até psicopatas, contrastavam com suas reais atitudes fora das telas. Sua capacidade de desempenhar pessoas que nada tinham a ver com a sua personalidade real era na realidade uma obstinada adesão a um padrão artístico que o ator desenvolveu a partir de suas próprias experiências.
Robert Ryan, cujo calor e bondades pessoais já foram citadas por aqueles que o conheceram e trabalhavam com ele, também foi um homem cuja política e social eram opostos a personagens fanáticos que ele interpretou em Conspiração do silêncio (Bad Day at Black Rock) e Odds Against Tomorrow, de Robert Wise, em 1959. Em ambas as películas, ele fazia papéis de reacionários e racistas. Robert Ryan foi membro ativo do ACLU(do português, é UNIÃO AMERICANA DAS LIBERDADES CIVIS), um grupo de pensamento liberal e democrata americano, além de ser membro dos UN, sendo presidente na filial desta do sul da Califórnia. UN é outro grupo de pensamento liberal.
Na década de 1960, Robert Ryan se tornou uma "pomba militante", conduzindo o comitê que já fazia os primeiros protestos contra a Guerra do Vietnã. Em 1962, Ryan mudou-se com sua família para Nova York, onde ficou por três anos sem atuar em algum filme, preocupado com o ritmo de coisas que vinham acontecendo nos Estados Unidos, desde os problemas com oVietnã, até com possíveis ameaças a vida do Presidente John Kennedy (o que ocorreu de fato em novembro de 1963), e o ator, contribuindo, como podia, para as causas sociais e políticas dos EUA. Participou da Convenção Democrata de 1968, em sua terra natal, Chicago, apoiando o Senador Democrata Eugene McCarthy. Ryan, como muitos atores e profissionais de cinema americanos, foram chamados para interrogatório do famigerado “caça as bruxas” do Senador Joseph McCarthy. Ryan lembrou anos mais tarde:
"Quando McCarthy começou o interrogatório, eu esperei ser um alvo simples...mas não. Acho que ele viu que eu por ter um nome irlândes, ser filho de católico, e ex-Fuzileiro da Marinha, ele abrandou com suas perguntas".
De volta ao cinema, foi um dos atores principais em três filmes seguintes: Os Profissionais/The Professionals (1966), Western com Burt Lancaster e Claudia Cardinale; O cadáver ambulante(1967), uma rara excursão pela comédia, com Sid Caesar; e Os Doze Condenados/The Dirty Dozen, aventura de Guerra, onde Ryan interpretava um antipático coronel, em antagonismo aos heróis interpretados por Lee Marvin e Charles Bronson, embora este último filme tivesse sido rodado em locações e estúdios britânicos. Entre 1967 e 1968, Bob Ryan realizou grande parte de suas películas na Europa, em produções italianas e espanholas, com dois Westerns Spaghetti, gênero em moda naquele momento: Os Bravos não se Rendem/Custer of the West, estrelado por Robert Shaw como o intrépido e arrogante militar norte-americano George Armstrong Custer, em um Western biográfico rodado na Espanha.
Caça ao Pistoleiro/Minuto por Pregare Un Instante Por Morire(Itália)/Dead Or Alive(EUA) - outro exemplar de Western Spaghetti, atuando ao lado de outro ator americano(e dos bons!), Arthur Kennedy, rodado na Itália. Na Itália ainda fez também uma participação especial na película bélica A Batalha de Ânzio/Anzio, em 1968. Encerrou seu ciclo europeu, interpretando Capitão Nemo para um filme da MGM,Capitão Nemo e a Cidade Flutuante, em 1969, na Inglaterra. Voltando para os Estados Unidos, engrenou no elenco de um dos grandes Western da história do cinema, e que revolucionou uma nova linguagem para este gênero, dirigido pelo poeta da violência Sam Peckinpah, Meu ódio Será Sua Herança/The Wild Bunch, em 1969, ao lado de dois grandes nomes do cinema mundial: William Holden e Ernest Borgnine.
Quando a década de 1970 se inicia, Robert Ryan descobre que tem câncer, mas ainda trabalha constantemente em boas películas, como Mato em Nome da lei/Lawman, de 1970, dirigido por Michael Winner (cineasta de Desejo de matar, com Charles Bronson); e Assassinato de um Presidente/Executive Action, de 1973, ambos estrelados pelo amigo Burt Lancaster. Nesta última, retrata sobre o assassinato do Presidente Kennedy, e a possível conspiração dos bastidores de dentro da própria Casa Branca.
Ryan como mesmo ele dizia, cresceu para ser um solitário após a morte de seu irmão John em 1917. Algo que fez refletir durante muito tempo, principalmente em 1972, quando sua esposa Jessica faleceu vítima de câncer. Mas o ator também estava travando uma luta também contra esta doença, mas mesmo assim, não deixou de se entregar. Viúvo, e diagnosticado dois anos antes com o mesmo mal que matou a esposa, procurou, mesmo em seus derradeiros dias, decidir ainda atuar e trabalhar como vinha fazendo sempre.
Certa vez, concedeu uma entrevista , e veio a dizer:
“Então o que diabos eu tenho para reclamar? Meu irmão morreu na idade de 8 anos e sempre pensei nele em toda a minha vida. Ele sequer começou a vida dele. No início, você entra em choque, e então depois, você se conforma. Eu sou muito mais tolerante agora do que antes, que sei que estou no fim do meu tempo. Eu vejo as árvores, as flores, e as meninas bonitas. Eu vejo a beleza que eu tinha esquecido. Em verdade, hoje aprecio melhor a vida no seu dia a dia”.
Robert Ryan morreu em 11 de julho de 1973, aos 63 anos de idade, de câncer no pulmão. Pouco antes de sua morte, Ryan mudou-se para um apartamento (número 72) no edifício Dakota, em Nova York. Mais tarde, seus filhos alugaram ( e em seguida, venderam) o apartamento para John Lennon e Yoko Ono. Também declarou publicamente seu uso constante de cigarros por causa de sua enfermidade.
Amigos próximos e colegas de profissão lamentaram muito a perda do grande ator, e possivelmente de um dos maiores humanistas do Século XX. De seus amigos mais chegados, talvez o mais saudoso seja o veterano Ernest Borgnine, hoje com 93 anos de idade. Pouco tempo atrás, um fã de Borgnine lhe pediu um autógrafo, e mostrou uma foto da equipe de atores de “Meu ódio Será sua Herança” (The Wild Bunch), e entre este grupo na foto estava Robert Ryan. Ao ver a foto, Borgnine se emocionou, dizendo que era um ator e ser humano maravilhoso, e nisso uma lágrima veio a escorrer no rosto do velho ator, com quem Ryan também havia trabalhado em outros dois filmes. Borgnine enxugou a lagrima, assinou a foto para o fã, e foi embora.
Seu filho mais velho, Tim, declarou em um artigo recente no jornal Chicago Reader, que seu pai achava que “tinha um monte de demônios” e que falava freqüentemente sobre seu estado de espírito “negro irlandês”, como ele brincava. Quem sabe Ryan percebendo que tinha todas essas pessoas a agir dentro dele foi uma maneira de exorcizá-los? Ou quem sabe pudesse realmente conhecer alguém em seu passado que se tornou a inspiração para as almas danificadas que ele expressou no cinema? Seja o que for, Robert Ryan foi um grande tributo de Deus para o mundo da arte cinematográfica, e principalmente, para o mundo dos Direitos Humanos, onde precisamos exercitar elevados valores de Humanidade, Integridade, Justiça, e Igualdade. Precisamos de mais pessoas assim no nosso mundo.
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