MONSTRO DO ÁRTICO (1951)
Chegamos aos anos 50. A década em que o cinema de horror e de sci-fi andaram de mãos dadas, cheio de suas invasões alienígenas, animais gigantes e monstros espaciais e/ou radioativos para ajudar a enfiar na cabeça dos americanos e de uma geração inteira de baby boomers, a iminente ameaça nuclear e o temores do comunismo em tentar destruir o precioso american way of life. E O Monstro do Ártico é o primeiro dessa lista.
Clássico absoluto da ficção científica, a fita produzida por Howard Hawks (e dirigida, de forma não creditada) para a RKO Radio Pictures é baseada na história Who Goes There? de John W. Campbell Jr., publicada na revista Astounding Stories e refilmada 30 anos depois por John Carpenter, resultando na obra prima do terror alienígena O Enigma de Outro Mundo.
Lançado em plena Guerra Fria, claro que a história de um alienígena maligno é uma metáfora para os comunistas, quase como todos os filmes do período, funcionando como uma verdadeira propaganda ideológica macarthista. Junto com o igualmente famoso Vampiros de Almas e O Dia Em Que a Terra Parou, O Monstro do Ártico é um dos filmes que mais ganhou conotações políticas (até talvez mais do que fosse sua real intenção), graças a seu enredo que caiu como uma luva no sentimento xenofóbico obscuro e negativista dos americanos nos anos pós bomba atômica, apresentado por meio de uma forma de vida implacável que se alimenta de sangue, predisposto a eliminar o status quo e instalar o medo e paranoia no mundo.
Bom, para não colocar a carroça na frente dos bois, uma forma de vida alienígena vegetal caiu na terra há milhares de anos e ficou em animação suspensa congelada em um bloco de gelo em pleno ártico, até ser encontrado por homens da força aérea americana, liderados pelo capitão e piloto Patrick Hendry (Kenneth Tobey), que vivem isolados em uma base militar no continente gelado e um grupo de cientistas, chefiados pelo Dr. Arthur Carrington.
Ao ser levado para a base, o monstro descongela e acorda do seu sono milenar, morrendo de fome e sedento por sangue humano. Andando indestrutível pelos corredores, os cientistas descobrem que a coisa do outro mundo (título original do filme) na verdade vem de um planeta onde a evolução foi diferente da nossa, e os vegetais estavam no topo da escala evolucionária, e aquela super cenoura (como um dos próprios cientistas o descreve), pode se adaptar tranquilamente do meio inóspito e se reproduzir de forma acelerada e assexuada, tal como os vegetais, e podendo assim infestar todo o mundo, se escapar do local.
Enquanto Hendry quer dar cabo da criatura antes que tal mal aconteça, o Dr. Carrington quer tê-lo como objeto de estudo e encontrar uma forma de pacificação com a raça alienígena. Claro que o plano do Dr. Carrington vai para as cuias e o voto é pela destruição do monstro, que na verdade é extremamente resistente a tiros e fogo. Um verdadeiro titã do espaço sideral.

Apesar de alegadamente ser um filme B, o visual da criatura é realmente assustador, talvez pelo fato de nãa aparecer frequentemente de forma explícita na tela, o que com certeza seria um desastre, mas de ficar andando e espreitando pelos corredores escuros, alimentando o temor dos espectadores e ser visto apenas de relance e em meio à sombra, auxiliado pela opressiva fotografia preto e branca, que aumenta ainda mais o sentimento de clausura e impotência contra o monstro vegetal (interpretado por James Arness). Ponto também para a ótima utilização dos efeitos sonoros em prol do medo, tanto no constante uivar do vento polar lá fora, quanto os urros assustadores da criatura.
A crueldade do alien implacável também é um dos pontos altos do filme, já que ele não tinha a menor dó de acabar com a vida de seus caçadores, tanto que lá paras tantas vamos encontrar dois cientistas mortos, pendurados como carne do açougue, de cabeça para baixo, com todo seu sangue extraído para servir de alimento ao vilão espacial. Além disso a sequência final do filme é muito bem executada, após os envolvidos, militares, cientistas e civis debaterem muito sobre a melhor (e talvez única) forma de conseguir destruir o alienígena: eletrocutando-o.
Claro que O Monstro do Ártico não funciona tão bem como O Enigma de Outro Mundo de Carpenter, ainda mais pensando na plateia de hoje, já que o filme de 1982 tirou toda a aventura e o heroísmo para criar uma obra claustrofóbica e extremamente pessimista, com a criatura tendo o poder mimético de se transformar em outros seres humanos, jogando os homens isolados um contra os outros. Mas ainda assim é um importante exemplar da amálgama entre terror e sci-fi que seriam produzidos a rodo durante essa década, e um dos mais bem sucedidos filmes do período, servindo de referência e influência para diversas obras vindouras.
O ENIGMA DO OUTRO MUNDO (1982)
O ano era 1982, o mundo inteiro se encantava com o alienígena bonzinho que foi esquecido na Terra e desenvolveu uma linda amizade com o menino Eliot. O que isso tem a ver com o filme foco desta coluna? Simples…o E.T., que diziam não fazia mal a ninguém, acabou com o filme de John Carpenter e mais tarde viria a acabar também com o Atari, mas isso é outra história.
O fato é que o Enigma de Outro Mundo (The Thing, no original) estreou apenas duas semanas após E.T. nos cinemas americanos, e pegou o mundo inteiro apaixonado pelo pescoçudo fofinho. Numa época em que todo mundo queria ter um E.T. dentro de casa, as criaturas grotescas deste filme foram massacradas pelos críticos e rejeitadas pelo publico. Assim como o E.T. caiu nas graças do público merecidamente, o seu primo mais feio e malvado foi um tremendo fracasso. Vejam como uma decisão errada de um executivo sobre uma simples data de lançamento pode aniquilar o que deveria ter sido um grande sucesso.
O filme é dirigido por John Carpenter, famoso pelo super clássico Halloween, mas que também fez outros filmes excelentes como “Christine, o carro assassino”, baseado no livro homônimo de Stephen King e “Os aventureiros do bairro proibido”, um dos maiores clássicos de aventura dos anos 80.
Foi neste filme a primeira vez que Carpenter dirigiu Kurt Russel, com quem voltaria a trabalhar no próprio “Aventureiros…” e também no razoável “Fuga de Nova York” e, mais tarde, em “Fuga de Los Angeles”que não vale a pena nem ser comentado.
A história se passa na Antártida, em uma estação de pesquisa americana, logo de cara, após uma cena descartável de nave caindo na Terra, vemos um helicóptero de pesquisadores Noruegueses perseguindo um inocente husk siberiano que tenta se salvar correndo pela neve até que alcançam a base americana. Neste momento os noruegueses conseguem, sem nenhuma ajuda, explodir o próprio helicóptero e atirar em um americano ao tentar acertar o cachorro. Claro que os americanos revidam e acabam com o único norueguês que havia sobrado.
Mas por que os Noruegueses estavam atrás do pobre cachorro? Eles logo deduzem que é um caso de “cabin fever”, termo usado para designar um determinado tipo de paranóia que acontece quando pessoas são enclausuras em um mesmo lugar por muito tempo, elas começam a ficar malucas . Mas a fim de descobrir o que realmente aconteceu, um piloto e um médico resolvem ir até a base norueguesa, lá chegando encontram um cenário de destruição e os restos mortais de uma criatura totalmente deformada que resolvem levar com eles para análise.
A partir daí o filme começa a mostrar a que veio. Descobrimos que o cachorro, na verdade é um ser alienígena, que tem a habilidade de morfar e assumir a forma de qualquer coisa que come. O trabalho aqui é feito com maestria e temos algumas das cenas mais nojentas da história do cinema .
Lembre-se que estamos em 1982 e não havia este monte de computadores espetaculares sendo mal utilizados para criar monstros falsos em CGI, aqui é tudo feito com borracha, robótica, marionetes e um pouco de stop motion.
E quem pensa que o filme é só um banho de sangue e gore pra tudo que é lado se engana. Como em determinado momento ninguém sabe mais quem é humano e quem já foi devorado, Carpenter passa a trabalhar com maestria este lado do suspense. Todos começam a desconfiar uns dos outros, a tensão psicológica e a pressão chegam ao extremo a medida que os alienígenas são revelados das maneiras mais nojentas possíveis. Gore, suspense e sustos na medida certa. A cena do desfibrilador é espetacular.
O ENIGMA DO OUTRO MUNDO (2011)
Quando foi lançado em 1982 O Enigma de Outro Mundo foi duramente criticado pelo publico e pela critica e não teve um bom faturamento nas bilheterias. Só anos depois o filme ganhou o reconhecimento merecido, sendo reconhecido como uma das grandes obras primas do terror. Como o filme virou um cult no gênero foi anunciado esse prelúdio que conta os eventos anteriores ao primeiro filme. Assim como o filme de John Carpenter que era baseado no pequeno clássico O Monstro do Ártico, O Enigma de Outro Mundo (2011) também foi duramente criticado, tendo uma péssima bilheteria, o filme custou US$ 38 milhões e não conseguiu o mesmo faturamento da produção nas bilheterias, arrecadando apenas US$ 27 milhões de dólares A direção ficou a cargo do iniciante Matthijs van Heijningen Jr, que não é nem um John Carpenter, mas com uma equipe competente conseguiram fazer um filme digno, que mesmo estando bem abaixo do clássico de 82, é um filme que diverte e de quebra homenageia o original.
A história desse preludio se passa dias antes do filme de John Carpenter e mostra uma equipe de Noruegueses que ao acharem uma forma de vida misteriosa presa no gelo decidem aumentar a equipe trazendo cientistas e pesquisadores para investigar a forma de vida que pode ter milhões de anos e pode ser uma das maiores descobertas da história da ciência. A paleontóloga Kate Lloyd (Mary Elizabeth Winstead de Premonição 3 e Natal Negro) é contratada pela equipe de Noruegueses a fim de descobrir do que se tratava a forma de vida no gelo. A equipe vai rumo a Antardida e tiram a parte do gelo contendo a forma de vida. A equipe decide levar o bloco de gelo descavado para a base, onde mais tarde o gelo derrete e a coisa desperta, matando membros da equipe. Ao capturar a coisa e colocar fogo nela, eles descobrem que as células da criatura continuam vivas, e copiando as células dos sobreviventes na base. Sem saber qual membro do grupo está contaminado,qualquer um pode ser a criatura. Um clima de paranoia começa entre os sobreviventes na base.

O filme recicla vários elementos e cenas do filme original de 1982, com alguns detalhes acrescentados a trama que explica alguns eventos anteriores ao filme do Carpenter, mesmo que alguns partes continuem sem resposta. Assim como Halloween O Inicio, O Enigma de Outro Mundo pode ser considerado tanto um prequel, quanto um remake. Ele antecede os eventos do filme de 1982, mas também copia várias cenas dele. O mais bacana nesse filme é que ao prestar homenagem ao filme original ele dá atenção a vários detalhes do outro filme. O machado na porta, a forma de vida queimada com dois rostos do lado de fora da base norueguesa, todos esses detalhes não ficaram de fora.
O maior erro desse filme foi terem usado e abusado do maldito CGI, enquanto o original era um show de efeitos especiais práticos esse aqui usa efeitos especiais de computador em todas as cenas que que a criatura aparece, outro erro foi mostrar a forma real da criatura. Uma das coisas mais elogiadas no filme do Carpenter era o fato de ninguém saber qual era a forma real no alienígena, já que ele copiava toda forma de vida da terra, já nesse filme ele aparece em várias cenas em sua forma original, tirando o elemento surpresa que era o grande acerto do filme de 82. O CGI mesmo que não seja excelente como no filme original é bem usado para mostrar as deformidades causadas pela criatura quando possui a vitima.

O suspense funciona, não tem a mesma força do filme de John Carpenter, mas funciona sim, diferente do que a maioria dos críticos andam falando por ai. O roteiro de Eric Heisserer (A Hora do Pesadelo, Premonição 5) tem erros e acertos. O maior acerto é não dar detalhes sobre a origem da coisa, mostrando apenas a história dos Noruegueses mostrados no filme de 82 .
Mary Elizabeth Winstead tá bem no papel de protagonista, diferente do que andou se falando ela é carismática e é bacana o filme ser o ponto de vista apenas dela. No filme de 1982, o personagem Macready era o protagonista, mas também era um dos suspeitos, já nesse tudo é visto do ponto de vista da mocinha que conduz a trama.
Muitos fãs do filme original não curtiram, falaram que é inferior ao clássico, isso não pode ser apontado como um defeito, já que o objetivo desse prequel foi homenagear o original e mostrar uma história que antecede o filme. Assista sem comparar! É um filme que merece ser visto e que provavelmente daqui a alguns anos receberá o reconhecimento merecido!
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