Elenco: Anesha Bailey, Charles Rahi Chun, Diana Bang, Dominique Lalonde, Harrison Lee, James Franco, Lizzy Caplan, Randall Park, Seth Rogen, Steve Chang, Timothy Simons, Tommy Chang
Na comédia de ação The Interview, Dave Skylark (James Franco) e seu produtor Aaron Rapoport (Seth Rogen) conduzem o popular programa de TV sobre celebridades "Skylark Tonight". Quando descobrem que o ditador norte-coreano Kim Jong-Un é fã do show, eles marcam uma entrevista com ele na tentativa de conseguirem sua aprovação como jornalistas sérios.
Mas quando Dave e Aaron se preparam para viajar à Pyongyang, seus planos mudam no momento em que a CIA os recruta, mesmo sendo os homens mais desqualificados possíveis, para assassinar Kim Jong-Un.
A Entrevista é sensacional! É ácido, profano, ousado, sem o menor freio moral, disposto a ofender, satirizar e fazer graça de uma situação absurda. É um dos filmes mais engraçados do ano – e justamente por isso que a Coreia do Norte não quer que você assista. A situação é bizarra. Um governo ditatorial incomodado com uma comédia boboca ianque, resultando em ataques de hackers, ameaças nada veladas e o cancelamento – até segunda ordem – do lançamento do filme. O resultado é o mundo ainda mais curioso com o filme, com o tamanho do vespeiro cutucado por Seth Rogen, Evan Goldberg, James Franco e cia. Afinal, é mesmo pra tudo isso?
A resposta simples? Claro que sim! A Entrevista não é uma comédia bobinha, é um petardo de incorreção política apoiado em um roteiro esperto e personagens muito bem desenhados. O centro da coisa é Dave Skylark (Franco), apresentador de um programa ao estilo TV Fama ou TMZ, em que os famosos revelam seus maiores segredos – a primeira entrevista mostrada no filme, com Eminem, é tão inacreditável e absurda quanto de rolar no chão de rir. Mas seu produtor, Aaron Rapoport (Rogen), começa a pensar se essa vida de frivolidade não pode dar um passo maior. Afinal, a ótima audiência de Skylark é diretamente proporcional ao oba oba de celebridades ridicularizadas que desfilam em seu programa.
A coisa muda quando a dupla descobre que Kim Jong-un, ditador da Coreia do Norte, é um grande fã do programa. O tiro no escuro de tentar uma exclusiva com o líder do país mais recluso do planeta dá frutos quando Aaron consegue armar o papo, em Pyongyang e transmitido ao vivo para o mundo. E a coisa complica ainda mais quando uma agente da CIA (Lizzy Kaplan) atrela uma missão à entrevista: com um arsenal atômico cada vez mais poderoso, o mundo seria eternamente agradecido se Dave e Aaron pudessem apagar Kim, envenená-lo com um reagente químico e dar uma chance à paz. E por que não?
A Entrevista vai do absurdo ao inacreditável quando apresentador e produtor chegam à Coreia e Kim se mostra a Dave como um sujeito sensível e incompreendido, um homem colocado em uma posição de poder mas que, no mundo, só quer o mesmo que todo sujeito com dinheiro e tempo de sobra: encher a cara, transar com o máximo de modelos possível e se divertir. Dividido ente a missão e a nova amizade com alguém que finalmente o entende (“Eles nos odeiam porque não são a gente”, diz), Dave pode colocar tudo a perder. A química entre Franco e Rogen está ainda mais afiada que em Segurando as Pontas e É o Fim, mas a grande surpresa é Randall Park: no papel de Kim, ele vai do adolescente tardio, um bufão traumatizado pelo papai, a manipulador cruel que confirma os piores temores do mundo em um sorriso de canto de boca, um olhar que salta com precisão da ingenuidade à psicopatia. Franco e Rogen são o centro de A Entrevista, mas é fascinante observar a bomba relógio armada por Park prestes a detonar.
E o que exatamente Kim Jong-un não quer que o mundo veja em A Entrevista? Na sátira conduzida por Rogen e Goldberg, o ditador é mostrado como uma criança birrenta. Todo seu objetivo é manipular Dave Skylark para mostrar a Coreia como um país próspero e com o povo feliz. “Melzinho na chupeta” é a expressão repetida ao longo do filme: personagens manipulam mostrando/dizendo exatamente o que o outro espera. É um jogo de sedução canalha, e é exatamente assim que Kim entra na cabeça de Skylark, fazendo o apresentador pensar que ele não passa de um sujeito que busca a constante aprovação do pai morto, que é um coitado em uma posição difícil. Para piorar, Kim é fã de Katy Perry (ele chora com “Firework”) e sabe que esse lado sensível é sua maior fraqueza, já que o povo de seu país o vê como um Deus que se alimenta de luz e não tem funções biológicas ativas (“Eu tenho brioco, Dave”, confessa).
Outro ponto que A Entrevista levanta é que, por trás dos fanáticos, a Coreia do Norte teria muita gente, inclusive no círculo interno de Kim, disposta a ajudar em sua execução para transformar o país numa verdadeira democracia. Isso é representado por Sook (Diana Bang), a Ministra de Informação da Coreia que, além de deixar o personagem de Seth Rogen excitado como adolescente, ajuda a dupla a destruir a imagem pública de Kim. O que, claro, é o que acontece no momento da proverbial entrevista, quando Dave e Kim começam a papear em uma transmissão global, seguindo um roteiro armado pelo ditador – mas destruído com maestria por Skylark. Kim Jong-un, o ditador chorão, o moleque gordinho e afeminado que sofreu bullying do próprio pai e quer mostrar ao mundo como ele é machão ao apertar um botão nuclear. É isso que ele não quer que o mundo veja? Ah, vai lavar a louça,
A Entrevista é um deleite para quem busca uma comédia de primeira. A estrutura narrativa convencional ganha fôlego com as gags salpicadas pelo roteiro: o encontro de Aaron com um tigre (e o lugar nada cômodo que ele é obrigado a esconder um equipamento enviado pela CIA); o uso do veneno fornecido pela agência para apagar o ditador, que termina no alvo errado; a burrice americana ampliada por cada frase de Skylark, um sujeito completamente sem noção do tamanho da encrenca em que se meteu; o clímax, absurdamente violento, totalmente desproporcional e para ser aplaudido em pé.
Igualmente desproporcional é a reação do Kim da vida real e sua retaliação patética contra o trabalho de um estúdio de cinema em lançar o que não é nada além de uma sátira. Seu pai, Kim Jong-il, foi ridicularizado (junto com toda Hollywood liberal) no excelente Team America, que Matt Stone e Trey Parker fizeram em 2004. O esculacho foi muito mais agudo que este de A Entrevista, e nem assim houve essa comoção – talvez por ele ser fã de cinema, como o próprio Seth Rogen contou há algumas semanas, talvez por seu filho ser um completo lunático, vai saber. O fato é que o filme de Rogen e Evan Goldberg toca em todas as feridas certas e encontra em Kim Jong-un o personagem perfeito para uma sátira afiada sobre a cultura de celebridades, a superficialidade de um naco considerável do jornalismo e o poder nas mãos de um moleque inconsequente. Se a Coreia do Norte se mostra tão incomodada, é sinal de que o filme funciona. Pena que, pelo andar da carruagem, o resto do mundo não vai poder formular sua própria opinião.
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