FICHA TÉCNICA
Piranha 2 - The Spawning/Flying Killers (1981, EUA)
Direção: James Cameron e Ovidio G. Assonitis
Elenco: Tricia O'Neil, Steve Marachuk, Lance
Henriksen, Ricky Paull Goldin, Ted Richert,
Leslie Graves, Carole Davis e Arnie Ross.
LEIA-ME E ASSISTA-ME!!
O maior atrativo desta tralha é constatar que quem assina como diretor é ninguém menos que o hoje "todo poderoso" James Cameron. Sim, aquele mesmo da série "O Exterminador do Futuro" e do blockbuster "Titanic", que atualmente se diverte torrando centenas de milhões de dólares para levar seus projetos aos cinemas. Belo jeito de começar a carreira, não???
PIRANHA 2 é o primeiro filme de Cameron. Antes, ele trabalhou na equipe de miniaturas e efeitos visuais de Roger Corman, tendo participado do time de filmes como "Mercenários das Galáxias" (1980) e "Galáxia do Terror" (1981). Ainda em 81, atuou na equipe técnica do clássico "Fuga de Nova York" (1981), e foi contratado pelo produtor italiano Ovidio G. Assonitis para comandar PIRANHA 2, finalmente ocupando a cadeira de diretor.
Natural do Egito, Assonitis já tinha dirigido, ele próprio, alguns filmes. É o caso de "Tentáculos" ("Tentaculi"), sobre um polvo assassino, lançado em 1977 e com nomes como John Huston, Shelley Winters e Henry Fonda no elenco. Ele também dirigiu uma cópia bagaço de "O Exorcista" chamada "Espírito Maligno" ("Beyond the Door"), em 1974, e que até hoje é o filme mais lucrativo de todos os tempos na relação custo-benefício.
Então surgiu este roteirista chamado H. A. Milton (este é seu único crédito cinematográfico, o que é até compreensível; mas não estranhe se o nome for pseudônimo de alguém), trazendo debaixo do braço um roteiro inacreditável sobre piranhas voadoras!!! Vê se tem cabimento! Porém, sem pensar duas vezes, o produtor Assonitis contratou este pobre jovem norte-americano chamado James Cameron e mandou-o até a Jamaica para torrar uma fortuna (hahahaha, até parece!) em PIRANHA 2...
Porém, neste caso, nem precisaram esperar a morte por afogamento: mais rápido que você possa dizer "assassinas voadoras", um cardume de piranhas, que só aparece de relance, surge do nada e ataca o casal fornicador, devorando-o impiedosamente.
Entram os créditos sobre um fundo azul com manchas vermelhas. E o que surpreende, além da trilha sonora até bem feita (de Stelvio Cipriani, usando o pseudônimo "Steve Powder"), é a quantidade de nomes talentosos envolvidos numa barca furada dessas, como Lance Henriksen (que a partir de então passaria a trabalhar em praticamente todos os filmes de James Cameron, menos os mais recentes) e o maquiador italiano Giannetto de Rossi, parceria do cineasta Lucio Fulci. Ele é um dos culpados pelas horríveis piranhas com asas que veremos no momento mais hilariante do filme!!!
A história se passa no Caribe (hahahaha), na praia de Saint Anns, onde o hotel Clube Elysium está repleto de turistas louquinhos para participar da tradicional "Noite do Peixe Frito". Trata-se de um fenômeno que acontece uma vez por ano, na desova dos peixes-rei: eles nadam até a margem do mar para desovar e podem ser rapidamente agarrados pelos hóspedes, que então fritam os peixes na madrugada para comer. É por causa disso que o subtítulo original do filme, que aparece nos créditos iniciais, é THE SPAWNING ("A Desova"). Porém, misteriosamente, nos créditos finais o subtítulo é outro: FLYING KILLERS ("Assassinas Voadoras"), mostrando que a equipe era tão incompetente que não conseguiu chegar nem a uma conclusão sobre o nome do filme!!!
Mas voltemos à trama. O hotel está repleto de gente louca para transar, inclusive umas velhas assanhadas que tentam agarrar os salva-vidas garotões. Neste momento, somos brindados com diálogos brilhantes, como: "Sabe do que meu marido morreu? De tesão!", e outras maravilhas que nos fazem compreender o porquê do roteirista Milton nunca mais ter conseguido emprego.
Durante um passeio no fundo do mar, coincidentemente nas proximidades do tal navio afundado onde o casal foi devorado no início, um dos alunos de Anne também é atacado pelas piranhas, sendo encontrado pela professora parcialmente devorado. O corpo é então levado ao necrotério. E, numa daquelas coisas que só acontecem em filmes, Anne e Tyler invadem o necrotério à noite para examinar o cadáver, tentando descobrir que tipo de animal fez aquilo. Na mesma noite, uma funcionária do local é atacada por uma piranha voadora que sai da barriga do corpo carcomido (é ver pra crer)!!!
Desconfiando que algo de estranho está acontecendo, ainda mais ao descobrir que um documento de Anne foi esquecido no necrotério, o policial Steve coloca a ex-esposa contra a parede. Mas, a estas alturas, ela já está fazendo "contatos imediatos de terceiro grau" com Tyler - que, logo descobrimos, é um bioquímico responsável pelo projeto secreto do Exército que criou as piranhas voadoras. Tyler explica a Anne que ovos da piranha voadora afundaram junto com o navio e se desenvolveram no mar da região. Só não explica quem é que teve a idéia de jerico de usar piranhas com asas como arma de guerra.
Sabendo do segredo das piranhas voadoras, Anne tenta convencer o gerente do hotel, Raul (Ted Richert), a suspender a famosa "Noite do Peixe Frito". Mas como todo homem de negócios ambicioso de filmes do gênero (ora, todos já vimos "Piranha" e "Tubarão", certo???), Raul se recusa a cancelar o evento e ainda demite Anne.
A professorinha terá outras preocupações em breve: seu filho está em alto-mar com uma gatinha que conheceu na noite anterior (Leslie Graves, que morreu de Aids em 1989), e pode vir a se tornar a nova vítima das "piranhas-passarinho".
O clímax desta tralha é na tal "Noite do Peixe Frito", quando, num momento irônico do roteiro, a cadeia alimentar se inverte e os turistas tarados, ávidos por comer peixe, se transformam eles próprios na refeição, sendo devorados pelas horríveis piranhas com asas, que fazem o espectador se mijar de rir toda vez que aparecem em cena - ainda mais pelo barulho que emitem, lembrando mais morcegos que piranhas voadoras!
São 84 minutos de extrema pobreza e falta de criatividade cinematográfica. Vendo "isso", ninguém jamais imaginaria que James Cameron depois se sairia com filmes extremamente criativos como "O Exterminador do Futuro" e "Aliens, O Resgate". Porém, ele nem é o maior culpado pelo desastre.
O próprio Cameron disse várias vezes que foi afastado das filmagens pelo produtor Assonitis depois de duas semanas de filmagens. Isso porque o produtor não estaria gostando da forma como Cameron estava realizando o trabalho - talvez com um "toque pessoal". Resultado: Assonitis assumiu ele mesmo as filmagens, certamente sendo o responsável por bobagens como as gostosas de topless e a impagável cena do "sexo aquático". Cameron até teria tentado fazer sua própria edição do filme, mas foi impedido pelos produtores. Que, porém, mantiveram seu nome nos créditos - talvez cientes da bomba que tinham nas mãos.
Com tantos erros e problemas, além da infeliz idéia de colocar piranhas voadoras na trama, PIRANHA 2 bem que poderia ser um engraçadíssimo trash movie. Infelizmente, em apenas 84 minutos de duração, são muitos os tempos mortos, com longas cenas onde nada acontece além de diálogos ridículos e gente feia desfilando de biquíni.
E a história ainda termina da forma mais moralista possível, com as piranhas devorando Tyler (afinal, foi ele quem as criou, e teria que levar o merecido castigo, não é mesmo?), resolvendo assim o impasse conjugal entre Anne e Steve, que voltam a ficar juntos como dois pombinhos apaixonados. Ou seja: piranhas resolvendo problemas de casal, devorando uma das pontas do triângulo amoroso. Que tal? Não parece um filme que PRECISA ser visto???
Se você gosta de ver tralhas do gênero fechando um olho para a ruindade, PIRANHA 2 é, definitivamente, o seu filme. Mas prepare-se para acionar a tecla fast-foward para poupar seu cérebro de uma boa dose de abobrinhas. Ou então procure, no YouTube, a montagem que uns desocupados fizeram com apenas 10 minutos de "melhores momentos" da película.
E na próxima vez que assistir um blockbuster multimilionário de James Cameron, tente visualizar a imagem do diretor filmando PIRANHA 2 com uma equipe italiana, usando uma merreca de orçamento. Aliás: será que foi esta porcaria que despertou em Cameron a paixão de filmar no mar, como ele fez depois em "O Segredo do Abismo" e "Titanic", já com orçamentos bem maiores??? Desta vez, porém, sem piranhas voadoras. E, por isso mesmo, bem menos divertidos.
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