Capitão América (Captain America, 1990, EUA)
Direção: Albert Pyun
Elenco: Matt Salinger, Ronny Cox, Ned
Beatty, Darren McGavin, Michael Nouri,
Scott Paulin e Kim Gillingham.
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Mais ou menos de 2000 para cá, "filme de super-herói" é sinônimo de produção caríssima, diretores consagrados e astros de primeira linha. Afinal, neste pequeno intervalo de tempo, ficamos todos mal-acostumados com blockbusters tipo "O Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado" (orçamento de US$ 130 milhões), "Homem de Ferro" (US$ 140 milhões), "O Incrível Hulk" (US$ 150 milhões), "Batman - O Cavaleiros das Trevas" (US$ 185 milhões), "Superman - O Retorno" (US$ 209 milhões), "X-Men - O Confronto Final" (US$ 210 milhões) e o recordista "Homem-Aranha 3", com seu inacreditável orçamento de 258 milhões de verdinhas!
Claro que nem sempre foi assim. Por exemplo, se voltarmos 20 anos no tempo, entre o fim da década de 80 e começo de 90, quase todo filme de super-herói tinha produção paupérrima, além de ser voltado exclusivamente ao público infantil, sem grandes diretores, grandes astros e muito menos grandes orçamentos. Não por acaso, produtores barateiros como Roger Corman e a dupla Golan e Globus, da Cannon Films, eram os que costumavam se envolver com esse tipo de material.
Este "Batman" de 89 foi uma exceção porque o fracasso financeiro de "Superman 4 - Em Busca da Paz" (1987) deixou os grandes estúdios receosos de investir nos filmes do gênero. É só comparar os números de algumas adaptações de heróis das HQs daquela época: "As Tartarugas Ninja", de 1990, custou 13,5 milhões de dólares; "O Justiceiro", de 1989, US$ 10 milhões; "Rocketeer", de 1991, US$ 9,6 milhões, e o famigerado "Quarteto Fantástico", produzido por Roger Corman em 1994 e nunca lançado comercialmente, custou a merreca de US$ 1,5 milhão de dólares!
E se hoje todo mundo espera entusiasmado pelo novo filme do Capitão América, que será dirigido por Joe Johnston para lançamento em 2011, certamente é pouca gente que lembra do CAPITÃO AMÉRICA de 1990, uma aventura indigente produzida a toque de caixa por Menahen Golan (ex-Cannon, então falida) e pelo próprio Stan Lee, o editor da Marvel (que, pelo jeito, vendia os direitos dos seus personagens pelo preço de um café de boteco de esquina naquela época).
Não sei quanto foi o orçamento de CAPITÃO AMÉRICA, mas, pelo que se vê na tela, o montante financeiro era irrisório, para não dizer inexistente. Percebe-se também que a coisa custou pouco quando você vê o nome de Albert Pyun, nos créditos iniciais, como diretor. Afinal, o sujeito é conhecido por comandar tranqueiras a custo zero, como "Dollman - 33 cm de Altura... e Atira", e considerado, por muitos, um dos piores cineastas de todos os tempos (com certa razão, mas tem gente bem pior por aí trabalhando com orçamentos gigantescos).O incrível é que este CAPITÃO AMÉRICA dos pobres começa razoavelmente bem, embora cometa a heresia de recontar a origem do Capitão América e do seu arquiinimigo Caveira Vermelha (Red Skull, no original) com bastante liberdade poética em relação aos quadrinhos.
Se na HQ o Caveira Vermelha sempre foi um nazista, braço direito do próprio Hitler e com uma máscara em formato de caveira, no filme a ambientação passa da Alemanha para a Itália (!!!), e são os fascistas de Mussolini que raptam um menino superdotado para transformá-lo num super-criatura mutante, graças ao soro inventado por uma renomada cientista, a dra. Maria Vaselli (Carla Cassola). Ao ver uma pobre criança inocente sendo brutalizada pelo seu próprio trabalho, a dra. Vaselli resolve fugir e buscar refúgio nos Estados Unidos, onde aperfeiçoa o seu soro e dirige a chamada "Operação Renascimento", que pretende criar supersoldados norte-americanos para vencer o trio Itália-Alemanha-Japão no auge da Segunda Guerra Mundial .
O exército ianque procura por uma cobaia para o projeto, e quem se voluntaria é um soldado franzino e com problemas nas pernas chamado Steve Rogers (Matt Salinger). A experiência não lhe dá superpoderes, mas aumenta sua força, resistência e habilidades físicas (embora o "herói" tenha poucas chances de mostrar isso em aventura tão bisonha). E Rogers devia ser o primeiro de um exército de supersoldados, mas a dra. Vaselli é morta por um espião nazista infiltrado no grupo antes que tenha tempo de deixar a fórmula do seu super-soro anotada.
Eu sempre defendi atores desconhecidos para interpretar super-heróis. Afinal, que graça tem ver Ben Affleck como Demolidor, Edward Norton como Hulk e Nicolas Cage como Motoqueiro Fantasma? (Se bem que o Robert Downey Jr. ficou MUITO BOM como Homem de Ferro)? Ainda assim, ninguém merece um zé-ninguém como Matt Salinger, figurante em filmes como "A Vingança dos Nerds" (!!!), no papel de grande herói norte-americano de todos os tempos. O sujeito até tem um queixo proeminente para fazer bonito nas (poucas) cenas em que veste a fantasia carnavalesca de Capitão América. Mas quando está de cara limpa, como Steve Rogers, é uma nulidade, sem qualquer sinal de carisma, simpatia ou a "presença" que um herói desses exige.
Para completar, o elenco traz várias outras caras conhecidas do segundo escalão, de Michael Nouri ("O Escondido") a Ned Beatty ("Superman") e Darren McGavin (do seriado "Kolchak"), mas sem maiores resultados. É uma obra que, hoje, só vale mesmo pelo fator trash e pela curiosidade de ver um herói da Marvel tão maltratado, ainda mais para quem já se acostumou com estas adaptações multimilionárias dos heróis dos quadrinhos feitas atualmente. (Até "3 Dev Adam", aquela hilária aventura turca que mostra o Capitão América e El Santo contra um Homem-Aranha malvado, é mais divertido!) Entre outras diferenças cruciais entre o filme e as HQs, vale destacar que na Segunda Guerra Mundial o Capitão América tinha um parceiro-mirim chamado Bucky, que o acompanhava em suas missões, e foi teoricamente morto por um vilão chamado Barão Zemo ("teoricamente" porque, no Universo Marvel, ninguém fica morto por muito tempo).
Foi por causa de Zemo, também, que o herói acabou congelado - o Caveira Vermelha não teve nada a ver com a história. Pelo menos a ausência de Bucky foi uma alteração interessante na adaptação, pois o filme já é bastante infantilóide sem parceiro-mirim, imagina só se houvesse um! De todo jeito, tudo indica que em 2011 teremos o prometido novo filme do Capitão América, dessa vez decente, com todo o orçamento que faltou nessa adaptação feita pelo Pyun. Eu adoraria que o filme desse início a uma série (ainda que o Capitão não seja dos meus heróis preferidos), e que a primeira aventura se passasse inteiramente na Segunda Guerra Mundial, terminando com o Capitão América congelado e deixando as portas escancaradas para uma seqüência.
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