Nicholas Ray, nome artístico de Raymond Nicholas Kienzle (Galesville, Wisconsin, 7 de agosto de 1911 — Nova York, 16 de junho de 1979) foi um cineasta norte-americano que dirigiu vários clássicos de Hollywood, como Rebel Without a Cause (Juventude Transviada), em 1955, e Wind Across The Everglades (Jornada Tétrica), em 1958, entre muitos outros.
Nicholas Ray estudou arquitetura com Frank Lloyd Wright e trabalhou no teatro, como ator, sob a direção de Elia Kazan e John Houseman.
Começou a fazer cinema depois do término da Segunda Grande Guerra e seu primeiro filme data de 1948. Tornou-se rapidanmente um diretor com marcas distintivas fortes: heróis frágeis, palpáveis, que tentam sobreviver num mundo cuja chave de decifração eles não detêm. Nesse mundo, a onipresente violência física e mental convive com a possibilidade de uma paixão arrebatadora e irrestrita.
Seus primeiros filmes frequëntemente focalizavam tipos marginalizados como heróis. Em seu primeiro filme como diretor, o lírico Amarga Esperança, de 1948, Farley Granger fazia o papel de uma assaltante de bancos indeciso em sua fuga com a namorada. Em No Silêncio da Noite, de 1950, Humphrey Bogart era um roterista auto-destrutivo acusado de assassinato. Em Cinzas que Queimam, de 1951, Robert Ryan era um policial amargo, e Johnny Guitar, de 1954, trazia Joan Crawford como uma conivente dona de saloon.
Em Cinzas que Queimam, a estrutura básica de Juventude Transviada estava montada: um policial (Robert Ryan), nitidamente afetado pelo desencanto e pelo ambiente em que vive, passa a agredir violentamente os criminosos que persegue. Depois do enésimo caso de violência acima do aceitável, ele é conduzido a uma investigação no campo onde encontrará uma mulher cega (Ida Lupino), por quem se apaixonará, mesmo que isso implique reconsiderar sua relação com a violência e seu poder auto-destrutivo. O talento e a fluência de Nicholas Ray para filmar essas cenas extremas, tanto os arroubos de violência quanto os delicados momentos da paixão nascente, não fascinou de primeira a crítica norte-americana, mas encantou os então jovens críticos da revista Cahiers du Cinéma, que trataram de classificá-lo como o mais importante cineasta do pós-guerra (Éric Rohmer, em sua crítica sobre Juventude Transviada, que em Portugal se chamou Fúria de Viver, Cahiers nº59). Jean-Luc Godard acreditava ser Ray a expressão pura do cinema.
Em Juventude Transviada, Nicholas Ray encontrou um ator perfeito para designar todos os estados de espírito com os quais mais gostava de trabalhar; James Dean é ao mesmo tempo um rosto criança abandonado pela vida e, inversamente, a possibilidade de uma explosão de violência quando menos se espera. Mal ou bem, os protagonistas mais importantes de Nicholas Ray, de 1949 a 1955, são adultos abandonados, como Sterling Hayden, Humphrey Bogart ou Robert Ryan.
Seus últimos filmes foram duas super-produções rodadas na Espanha, dos quais ele não teve total controle direto na direção, devido às imposições do produtor Samuel Bronston: King of Kings (Rei dos Reis), de 1961, e um belo filme sobre a vida de Cristo, cujo ponto marcante é a cena do Sermão da Montanha, e que Ray dirigiu com muita competência, locomovendo, além dos atores, sete mil figurantes, além da bela trilha sonora de Miklos Rozsa, e 55 Dias em Pequim, de 1962, sobre a ocupação dos ingleses e norte-americanos na China, na época dos boxers. Em seu último filme, Ray sofreu durante as filmagens um enfarte.
Abandonando a direção e Hollywood, Ray dedicou-se ao ensino universitário, lecionando Cinema e Direção até meados dos anos 70, quando descobriu que tinha câncer. Wim Wenders, que o admirava, o colocou em seu filme O Amigo Americano, de 1977, como ator, e co-dirigiu com ele o documentário Lightning Over Water, editado em 1980, e que reflete os últimos momentos de Nicholas Ray e sua luta contra o câncer, que finalmente o sucumbiu. Foi cremado e suas cinzas foram enterradas no jazigo de sua mãe.
Em 1960, Gloria Grahame, ex-mulher de Nicholas Ray, casou-se com Anthony Ray, filho do diretor e seu ex-enteado, causando grande escândalo em Hollywood.
Um dos filmes menores de Ray, The True Story of Jesse James (Quem foi Jesse James), de 1957, trazia os dois jovens galãs da 20th Century Fox, Robert Wagner e Jeffrey Hunter, como os irmãos foras-da lei Frank e Jesse James. Sempre afeito aos problemas da deliqüência juvenil e da adolescência desamparada, Ray queria dar um tratamento humano para Jesse James, mostrando-o como uma vítima da violência e das injustiças sociais, que agia movido pelas circunstâncias da Guerra Civil Americana. Os produtores não concordaram com tanta "generosidade" para com o personagem e alteraram a montagem original e, o filme que era para ser de 105 minutos, foi lançado com metragem de apenas 92 minutos.
Jeffrey Hunter foi sugestão do próprio Ray para interpretar Jesus Cristo no filme Rei dos Reis, seu penúltimo filme, embora não tivesse controle total na direção da película. Há quem diga que foi o diretor John Ford que sugeriu para Ray o jovem e belo ator de olhos azuis e triste destino, pois Hunter morreu aos 43 anos, em 1969, após cair de uma escada em sua casa. As principais cenas do filme, dirigidas por Ray, foram O Sermão da Montanha, A Última Ceia, A Dança de Salomé, e a Crucificação de Cristo.
Para a cena do Sermão da Montanha, o próprio Ray coordenou cerca de sete mil figurantes para acompanhar Jeffrey Hunter, o intérprete de Cristo, na descida da montanha, onde uma equipe de operadores construiu cerca de 60 metros de trilhos ao longo das encostas.
Foi o único filme religioso no currículo de Ray, que gostaria de ter dado um tratamento mais humano para o personagem de Jesus, mas submeteu-se às exigências do produtor Samuel Bronston. O filme foi rodado na Espanha e Ray visitou museus e catedrais de lá, atento nas pinturas de grandes artistas renascentistas, e obras de artes religiosas, como inspiração para a composição e filmagens das sequências da película sacra.
Ray sentiu muito a morte do ator James Dean, pois os dois tornaram-se muito bons amigos, inclusive planejavam trabalhar juntos novamente.
A bailarina Betty Utey, com quem foi casado, fez a coreografia da atriz Brigid Bazlen, para sua personagem Salomé, que dança para o rei Herodes Antipas, pedindo a cabeça de São João Batista, interpretado por Robert Ryan.
Humphrey Bogart e Robert Ryan foram os atores favoritos de Nicholas Ray.
Robert Ryan, um ativista de Hollywood, e um ator que gostava de desafios, interpretando personagens que nada tinham a ver com sua personalidade, de início receou o convite de Ray para interpretar o profeta São João Baptista, no bíblico King Of Kings. Por ser excelente em interpretar vilões, Ryan desejava interpretar Judas, mas Ray manteve sua intenção em colocar o talentoso ator na pele do profeta do Novo Testamento.
O último filme de Ray, 55 Dias em Pequim, não obteve sucesso de crítica e nem de público. A película, estrelada por Charlton Heston, Ava Gardner e David Niven, filmada como uma autêntica superprodução, ajudou a falir os estúdios de Samuel Bronston, na Espanha. Além disso, a película não era fiel aos eventos históricos sobre os boxers.
Quando Ray se retirou definitivo de Hollywood, passou a dar aulas e a fazer palestras em universidades sobre a arte da direção, e realizou alguns filmes curta-metragens com seus próprios alunos.
Nick Ray casou-se quatro vezes:
Jean Evans foi sua primeira esposa, de 1930 a 1940, e de quem se divorciou;
Gloria Grahame, atriz, com quem foi casado entre 1948 a 1952, e de quem também se divorciou;
Betty Utey, dançarina e coreógrafa, com quem casou em fins dos anos de 1950, e de quem também se divorciou;
Susan Ray, com quem casou em 1969 e com quem viveu até seu falecimento, em 1979.
Teve quatro filhos:
Anthony Ray, que se tornou produtor;
Timothy Ray, que se tornou cameraman;
Nica Ray, atriz;
Julie Ray.
Nenhum comentário:
Postar um comentário