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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

ALAN LADD (03/09/1913 - 29/01/1964) BIOGRAFIA


Alan Walbridge Ladd ou simplesmente Alan Ladd (Hot Springs, 3 de setembro de 1913 – Palm Springs, 29 de janeiro de 1964) foi um ator norte-americano.

Uma jornalista perguntou a Alan Ladd, dois anos antes do ator falecer: “O que você mudaria em si próprio, se pudesse?” A resposta de Alan Ladd foi surpreendente: “Tudo! Eu mudaria tudo e teria feito tudo diferente na minha vida se pudesse”. É no mínimo estranho que um dos atores mais queridos do cinema por quase duas décadas, que constituiu uma bela família e se tornou milionário, demonstre descontentamento com sua vida. Essa declaração deixa de ser estranha quando se conhece um pouco mais profundamente a alma verdadeiramente torturada de Alan Ladd.
Pequeno grande atleta - Os pais de Alan Ladd, imigrantes ingleses, chegaram aos Estados Unidos em 1912. A mãe de Alan chamava-se Ina Raleigh Ladd e o pai Alan Ladd . Em 3 de setembro de 1913, na cidade de Hot Springs, Arkansas, nascia Alan Walbridge Ladd. Alan Sr. viajava a trabalho e o pequeno Alan quase nunca o via, mal conseguindo se lembrar dele, falecido quando Alan tinha quatro anos. Muito pobre, Ina se casou novamente com James Beavers, um pintor de paredes que desempregado decidiu levar esposa e enteado para a Califórnia num velho Ford 1914. James Beavers pintava casas mas terminou contratado pela companhia cinemato-gráfica FBO Studios para pintar cenários de filmes. Louríssimo e com feições angelicais, Alan Ladd era uma criança muito pequena para sua idade. Na escola não se destacava em nenhuma matéria e era alvo de chacotas por parte dos colegas por ser, além de péssimo aluno, sempre o menor da turma. Quando Alan entrou para a North Caroline High School, sua mãe Ana Beavers alterou a data de nascimento para 1914 para que o adolescente escapasse das gozações, mas ainda assim ele continuava sendo o menor da classe e o cabeça mais dura da turma. Durante o curso médio na North Caroline High School, Alan se destacou nos esportes. O rapaz corria os 100 metros rasos em 9’8 segundos e os 200 metros em 20’02. Mas era na piscina que Alan virava um verdadeiro assombro e ninguém saltava melhor que ele. Depois de uma série de vitórias contra outros colégios, inclusive a famosa UCLA (Universidade da Califórnia), Alan estava garantido para participar dos Jogos Olímpicos de 1932 em Los Angeles, representando seu país nos saltos ornamentais. Pouco antes do início dos Jogos Alan sofreu uma queda na piscina e a contusão fez com que ele fosse desligado da delegação.


O casamento com Midge e o suicídio da mãe - A professora de Inglês de Alan Ladd o encaminhou para o grupo de teatro da North Caroline High School, onde ele tomou gostou pela interpretação. O colégio era vizinho dos estúdios da Universal, que estava contratando jovens para seu estoque de atores. Alan tentou a sorte mas lhe disseram que ele era ‘muito louro e muito baixo’. Carl Laemmle, dono do estúdio, que era igualmente baixinho, aprovou o jovem Alan Ladd que trabalhou esporadicamente e sem contrato para a Universal. Foi nesse tempo que Alan se enamorou de uma pequena e bonita jovem morena de nome Marjorie Jane Harrold, apelidada ‘Midge’. A família da moça gostava de Alan mas era contra o casamento pois ele não tinha trabalho estável. Mesmo assim Alan e Midge se casaram em outubro de 1936 e foram morar numa modestíssima casa em Los Angeles, onde em 22/10/1937 veio a nascer o filho do casal que recebeu o nome de Alan Ladd Jr. Para sustentar a família Alan trabalhou na distribuição de um jornal e com sua excelente voz conseguiu emprego numa rádio. O padrasto de Alan havia falecido de um ataque cardíaco e sua mãe Ana Beavers tornou-se alcoólatra. Certo dia Ana Beavers pediu dinheiro a Alan e este a atendeu pensando que a mãe fosse comprar bebida. No entanto ela comprou veneno para ratos, ingerindo-o e tendo uma morte horrível por envenenamento.

Sue Carol descobre Alan Ladd - Uma agente de nome Sue Carol, após ouvir a voz de Alan em um programa de rádio no qual o ator interpretava um menino de oito anos e também um idoso de 80, se interessou em contratar o radioator. Ao conhecê-lo e se admirar com a beleza do jovem, Sue Carol decidiu que o lugar dele era no cinema. Sue Carol, nascida em 1903, havia sido atriz e chegou a ser cotada como rival de Clara Bow, tendo participado de diversos filmes até trocar a carreira de atriz pela de agente. Sue Carol estava já em seu terceiro casamento, tendo uma filha (Carol Lee) do segundo matrimônio. Após a assinatura do contrato, Sue Carol passou a se dedicar em tempo integral a promover a carreira de Alan Ladd, tentando em todos os estúdios uma oportunidade para o jovem ator. Os dois terminaram por se envolver emocionalmente, mesmo sendo Sue Carol dez anos mais velha que Alan. Ambos se divorciaram de seus cônjuges e se casaram em 15 de março de 1942. Depois de diversos mas pouco significativos trabalhos no cinema, inclusive uma ponta em “Cidadão Kane”, Sue Carol conseguiu que Alan Ladd tivesse importante participação em “Alma Torturada” (1942), policial noir da Paramount. O filme foi um sucesso e mesmo creditado como quinto nome do elenco, Alan Ladd foi o grande destaque do filme. A Paramount percebendo que havia descoberto um astro em potencial, refez o contrato com Alan Ladd, em bases bastante melhores, ainda que modestas para os padrões da capital do cinema

O star-system de Hollywood - Além das críticas elogiosas por sua atuação, Alan Ladd passou a receber um enorme volume de correspondência dos fãs, isto sem ter feito um único filme como astro. Os anos 40 eram tempos em que o star-system funcionava com perfeição e a Paramount investiu fortemente em Alan Ladd. A começar por uma sucessão de filmes, alguns com a mesma estrela de “Alma Torturada”, a loura de 1,53m de altura Veronica Lake, par perfeito para Ladd, qu tinha 1,64m de altura. O ator virou capa de todas as publicações voltadas para o cinema e sua vida foi contada diversas vezes, mostrando seu feliz casamento com Sue Carol. Em 1943 havia nascido Alana Susan Ladd para completar a felicidade do casal Ladd. O primeiro casamento de Alan Ladd bem como a existência de seu filho Alan Ladd Jr. (Laddie) eram cuidadosamente omitidos nas reportagens pois se revelados comprometeriam a imagem que o estúdio construíra para Alan Ladd. Nem mesmo Louella Parsons sabia desse casamento. Em 1945, inconformado por seus filmes darem estupendo lucro à Paramount e seu salário se manter inalterado, Alan Ladd decidiu se negar a fazer outros filmes, sendo suspenso pelo estúdio. Essa e todas as decisões sobre a carreira de Alan Ladd eram tomadas por Sue Carol. No braço-de-ferro com a Paramount, Ladd-Sue Carol levaram a melhor e Alan conseguiu substancial reajuste de salário.

A mina de ouro da Paramount - Os filmes de Alan Ladd obedeciam a uma fórmula que vinha dando certo: filmes rodados com baixo orçamento, sem maiores pretensões, com diretores de segundo e terceiro escalão e atrizes principais que não eram grandes estrelas. Ao final da década de 40 os filmes de Alan Ladd para a Paramount haviam arrecadado um total de 55 milhões de dólares para o estúdio, ou seja, Alan Ladd era uma mina de ouro. Alan Ladd era educado e reservado, taciturno mesmo, sendo poucos seus amigos, o principal deles o ator William Bendix, com quem atuara em diversos filmes. Mesmo sabedor de suas limitações como ator, Alan queria trabalhos mais importantes, como o que estava sendo preparado com um grande sucesso da Broadway intitulado “Detective Story” (Chaga de Fogo). O diretor seria William Wyler e Alan sonhava interpretar o papel principal. A Paramount preferiu escalar Kirk Douglas, o que frustrou bastante Alan. William Bendix atuou nesse filme e Alan confidenciava ao amigo que admirava seu talento interpretativo dizendo-lhe: “Bill, você é um ator de verdade. Eu não.” Ainda assim o público venerava Alan Ladd, o campeão, por larga vantagem, de correspondência da Paramount, com mais de 20 mil cartas por mês. Em 1948 Alan Ladd atuaria em seu primeiro western como astro e também seu primeiro filme em cores, intitulado “Abutres Humanos”. Dois anos depois filmaria “O Último Caudilho”, outro faroeste. Mas um grande western, filmado em 1951, marcaria para sempre a carreira de Alan Ladd.

As filmagens de Shane - George Stevens era um dos mais importantes diretores norte-americanos e compunha o elenco para o western que iria filmar em locações no Wyoming, intitulado “Shane” (Os Brutos Também Amam). Stevens queria Montgomery Clift como ‘Shane’, William Holden como ‘Joe Starrett’ e Katharine Hepburn como ‘Marian Starrett’. Não conseguindo nenhum desses atores, George Stevens aceitou dirigir Alan Ladd, contratado da Paramount. Ladd entendeu-se perfeitamente com o Stevens que extraiu dele a melhor interpretação de sua carreira. “Shane”, no entanto, esperaria dois anos para ser lançado, o que ocorreu em 1953. Laddie, o filho de Alan Ladd com Midge passava cada vez mais tempo com o pai e o acompanhou com o restante da família às locações em Jackson Hole. David Ladd, o filho mais novo também estava com seus pais. Foi acompanhando as filmagens de “Shane” que Laddie decidiu que quando crescesse trabalharia na produção de filmes. Aos 40 anos de idade, em 1977, Alan Ladd Jr. seria o mais jovem presidente da 20th Century-Fox e responsável direto pelo projeto milionário “Guerra nas Estrelas”.

Alan Ladd se recusou a interpretar ‘Jett Rink’ em “Giant” - Terminado seu contrato com a Paramount e cansado de ser explorado pelo estúdio, Alan Ladd abandonou aquela que era sua casa há dez anos, passando para a Warner Bros. Os filmes de Alan Ladd no novo estúdio pouco acrescentaram à sua carreira, nenhum deles sendo memorável. O melhor deles foi o western “Rajadas de Ódio” (Drum Beat), produzido pela recém criada produtora de Ladd, a Jaguar, em parceria com a Warner Bros. Se “Shane” com seu colossal sucesso tivesse sido lançado antes da decisão de abandonar a Paramount, certamente Alan Ladd teria sido indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua comovente atuação nesse filme. E a carreira de Alan Ladd poderia ter tomado rumos diferentes. Em 1954 George Stevens estava preparando seu novo filme “Giant” (Assim Caminha a Humanidade) e queria Alan Ladd no elenco. Ladd havia lido o livro de Edna Ferber e trabalharia até de graça para Stevens, desde que interpretando Bick Benedict. Mas o diretor pensava em Ladd para o papel coadjuvante de Jett Rink. Sue Carol disse a Alan que em hipótese alguma ele aceitaria ser coadjuvante, o que fez George Stevens lamentar bastante. James Dean ficou com o papel, o último de sua vida, numa interpretação que não agradou George Stevens. Azar de Alan Ladd, por culpa de sua esposa Sue Carol.

A paixão de Alan Ladd por June Allyson - Sue Carol era presença constante nos sets de filmagem de qualquer trabalho de Alan Ladd, impedindo assim que as atrizes se interessassem pelo galã que era seu marido. Durante as filmagens de “Voando para o Além”, em 1955, Sue Carol afrouxou a marcação sobre Alan devido aos preparativos para o casamento de sua filha Carol Lee. A atriz principal de “Voando para o Além” era June Allyson, que em muito lembrava Midge, a primeira esposa de Alan Ladd. O ator se apaixonou indisfarçavelmente por June Allyson, que era casada com Dick Powell. Os boatos correram por toda Hollywood e, apanhada de surpresa, Sue Carol resolveu tirar satisfação com June Allyson que, claro, desmentiu os boatos de um romance com Alan. Não satisfeita, Sue Carol ligou para Dick Powell dizendo a ele que Alan Ladd estava apaixonado por June Allyson. Bem humorado e conhecendo sua esposa, Dick respondeu a Sue Carol: “E quem não é apaixonado por June?”. Dick disse depois a Sue Carol que nem toda mulher era como ela própria, acostumada a roubar o marido de outras mulheres, lembrando o que Sue havia feito ao destruir o casamento de Alan Ladd com Midge. Por sinal Midge viria a falecer em 1957 e Laddie passaria a morar com o pai definitivamente.
O sucesso de David Ladd como ator infantil - Acostumado com a humilhante situação de ter que utilizar uma pequena plataforma para parecer mais alto, em 1957, durante as filmagens de “A Lenda da Estátua Nua” Alan Ladd sofreu o maior constrangimento de sua carreira. Sua leading-lady era Sophia Loren e, não bastasse a atriz ser muito mais alta que ele, Alan teve ainda que servir de ‘escada’ num filme feito para tornar Sophia mais conhecida do público norte-americano. Com a carreira irremediavelmente em declínio, Alan Ladd acumulava filme após filme, ou mesmo fora deles, uma série inexplicável de acidentes físicos. Alguns desses acidentes muito provavelmente causados pelo álcool que decididamente entrara na vida de Alan Ladd tornando-se sua permanente companhia. O único filme de Alan Ladd depois de “Shane” que mereceu aprovação da crítica foi o singelo “O Rebelde Orgulhoso” (The Proud Rebel), de 1958, com Olivia De Havilland e David Ladd como ator infantil. A atuação de David Ladd foi elogiadíssima e não poucos, sarcasticamente, disseram que o pai poderia aprender muito com o filho.

O pior de todos os filmes de Alan Ladd - A maldade cada vez maior da imprensa tinha efeito fulminante no sempre inseguro Alan Ladd. Em 1960 Alan Ladd participou de dois filmes produzidos por sua própria companhia, a Jaguar Filmes, ambos resultando em fracassos financeiros. A depressão cada vez mais tomava conta de Alan Ladd que, sem ser procurado para novos filmes, afundava-se cada vez mais na bebida. Mas como contratar um ator que se transformara numa caricatura do que era poucos anos antes? O rosto inchado e o corpo deformado em nada lembrava o atlético ator que tanta admiração causava. Mesmo assim Alan Ladd foi lembrado por produtores europeus e participou de “Duelo de Campeões” (Horatio), talvez o pior dos filmes em que trabalhou ao longo de sua carreira. Ladd chegou mesmo a abandonar as filmagens e tomar um navio para os Estados Unidos (Alan nunca viajava de avião) porque não conseguia receber o salário combinado. Esse fiasco cinematográfico mal chegou a ser exibido e visto nos Estados Unidos, livrando o ator de um vexame ainda maior.
Tentativa de suicídio - Recluso a maior parte do tempo em um de seus dois ranchos, o ‘Alsulana’, próximo a Santa Barbara, Alan Ladd se recusava a ler roteiros pois sabia que não havia mais papéis para ele no cinema. Isto até que foi levado à tela o sucesso literário de Harold Robbins intitulado “The Carpetbaggers” (Os Insaciavéis), sendo Alan Ladd convidado para interpretar ‘Nevada Smith’. O filme rendeu bem nas bilheterias e a crítica condoída com a imagem de Alan Ladd foi complacente com sua atuação e com sua deteriorada imagem. Ladd possuía dois únicos amigos com quem gostava de conversar: Van Heflin e William Bendix. Ambos porém tinham seus trabalhos e Alan Ladd tinha como companhia única a bebida da qual não se separava há tempos. Em 1962 Alan Ladd foi hospitalizado após ter disparado um revólver contra seu próprio corpo, perfurando um pulmão. A incoerente versão contada à imprensa desmentindo a tentativa de suicídio só fez todos acreditarem que o ator havia tentado mesmo se matar. Um ano e meio depois, em 28 de janeiro de 1964, Alan Ladd foi encontrado morto resultado de uma combinação fatal de bebida e sedativos para dormir. Nunca se conseguiu apurar se houve outra deliberada tentativa de suicídio ou se Alan não resistiu aos efeitos da mistura.

O legado de Alan Ladd - Além de seu famoso rancho ‘Alsulana’, Alan Ladd possuía outra grande propriedade rural, duas mansões em Hollywood, um grande número de quadros de pintores famosos, um prédio de escritórios e uma loja de departamentos no centro de Los Angeles. Ao falecer, o patrimônio de Alan Ladd foi avaliado em seis milhões de dólares. Sue Carol permaneceu viúva pelo resto de sua vida, até falecer em 1982, aos 79 anos de idade. Alan Ladd Jr. após chegar à presidência da 20th Century-Fox deixou o cargo transformando-se em bem sucedido produtor. David Ladd esteve algum tempo casado com Sheryl Ladd, uma das garotas do seriado de TV “As Panteras”. Alana Ladd e Carol Lee tiveram sorte nos casamentos com homens ligados ao meio cinematográfico. Todos que conheceram Alan Ladd enalteceram sua simplicidade, tão grande quanto sua insegurança, que carregou por toda a carreira. Alan Ladd pode não ter sido o melhor dos atores, mas deixou alguns excelentes trabalhos em filmes memoráveis, o principal deles, sem dúvida, “Shane”. Se pudesse, Alan Ladd teria feito tudo diferente, como afirmou, mas será que sem ter sido fruto dos star-system seu nome seria lembrado até hoje? Difícil também dizer se ele não teria feito tudo diferente em sua vida pessoal e aí também fica a certeza que sem Sue Carol não teria havido Alan Ladd.

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